29 de ago. de 2020

Santa Sabina e Santa Serápia

 No século II, a perseguição aos cristãos se acalmou durante o reinado de Trajano. Sua política foi seguida pelo sucessor, Imperador Adriano, pelo mesmo motivo: evitar desordens civis. Basicamente, cristãos eram punidos apenas se fossem denunciados.

Sabina era viúva do Senador Valenciano e filha de outro administrador da cidade, Herodes Metalário. Uma de suas escravas, Serapia havia vendido todos seus bens, doado o dinheiro aos pobres e entrou voluntariamente na escravidão. Pelo seu exemplo de piedade, oração e dedicação, converteu a Sabina. 

Paisagem com o enterro de Santa Serápia 

No ano de 125, Serápia foi denunciada como cristã e presa. Como costume, foi convidada a rezar aos deuses romanos, mas ela recusou-se por amor a Cristo. Enquanto estava na cadeia, dois soldados tentaram estuprá-la, mas ela resistiu e eles não tiveram forças para dominá-la. Então eles tentaram queimá-la com tochas, mas o fogo não a tocou. Por fim, o juiz decretou que fosse espancada e decapitada. Seu corpo foi enterrado em um túmulo comum.

Sabina resgatou o corpo de sua escrava e deu-lhe um digno enterro cristão no mausoléu de sua família. Cerca de um mês depois, Sabina foi também denunciada como cristã, presa e recusou-se a adorar aos deuses romanos. Sendo de um família importante, foi levada para a região da Úmbria, onde foi decapitada, a exemplo de sua escrava.

Em 430 seus restos mortais foram levados de volta a Roma, onde enterraram no Monte Aventino, no local que tinha sido propriedade de sua família. Naquele local foi construída uma igreja que daria origem a basílica atual em honra das duas santas, Serápia e Sabina, cuja festa é celebrada em 29 de Agosto.

-- autoria própria

-- A imagem é do quadro Paisagem com o enterro de Santa Serápia, do francês  Cláudio de Lorena, que está no Museu do Padro, em Madri. Santa Sabina está ali presente acompanhando o enterro de sua ex-escrava. A paisagem mostra, em um primeiro plano, ruínas do templo de Juno, depois os fundos da catedral dedicada às santas e, por fim, os restos do Coliseu. Não se trata de uma cena histórica, mas mostra os martíres cristão em destaque, a catedral cristã está intacta mas não é importante por que a Igreja é mais que os prédios, enquanto os poderosos romanos que fizeram tantos martíres, hoje são ruínas.


 

22 de ago. de 2020

Rainha do mundo e da paz

 

Considera com que justa disposição refulgiu, já antes da assunção, o admirável nome de Maria por toda a terra. Sua fama extraordinária por toda a parte se espalhou antes que sua magnificência fosse elevada acima dos céus. Pois convinha que a Virgem Mãe, em honra de seu Filho, primeiro reinasse na terra, em seguida,fosse recebida gloriosa nos céus. Fosse amplamente conhecida na terra, antes de entrar na santa plenitude. Levada de virtude em virtude, fosse assim exaltada de claridade em claridade pelo Espírito do Senhor. 

Presente na carne, Maria antegozava as primícias do reino futuro, ora subindo até Deus com inefável sublimidade, ora descendo até os irmãos com inenarrável caridade. Lá recebia os obséquios dos anjos, aqui era venerada pela submissão dos homens. Servia-lhe Gabriel com os anjos; ao lado dos apóstolos servia-lhe João, feliz por lhe ter sido confiada a Virgem Mãe a ele, virgem. Alegravam-se aqueles por vê-la rainha; estes por sabê-la senhora. Todos a obedeciam de coração.

E ela, assentada no mais alto cume das virtudes, repleta do oceano dos carismas divinos, do abismo das graças, ultrapassando a todos, derramava largas torrentes ao povo fiel e sedento. Concedia a saúde aos corpos e às almas, podendo ressuscitar da morte da carne e da alma. Quem jamais partiu de junto dela doente ou triste ou ignorante dos mistérios celestes? Quem não voltou para casa contente e jubiloso, tendo impetrado de Maria, a Mãe do Senhor, o que queria?

Ela é esposa repleta de tão grandes bens, mãe do único esposo, suave e preciosa nas delícias. Ela é como fonte dos jardins inteligíveis, poço de águas vivas e vivificantes, que correm impetuosas do Líbano divino, fazendo descer do monte Sião até às nações estrangeiras vizinhas rios de paz e mananciais de graças vindas do céu. E assim, ao ser elevada a Virgem das Virgens por Deus e seu Filho, o rei dos reis, no meio da exultação dos anjos, da alegria dos arcanjos e das aclamações de todo o céu, cumpriu-se a profecia do Salmista que diz ao Senhor: Está à tua destra a rainha recoberta de bordados a ouro, em vestes variadas (Sl 44,10).

 -- Santo Amadeu, bispo (século XII)

6 de ago. de 2020

É bom nós estarmos aqui


Jesus manifestou a seus discípulos este mistério no monte Tabor. Havia andado com eles, falando-lhes a respeito de seu reino e da segunda vinda na glória. Mas talvez não estivessem muito seguros daquilo que lhes anunciara sobre o reino. Para que tivessem firme convicção no íntimo do coração e, mediante as realidades presentes, cressem nas futuras, deu-lhes ver maravilhosamente a divina manifestação do monte Tabor, imagem prefigurada do reino dos céus. Foi como se dissesse: Para que a demora não faça nascer em vós a incredulidade, logo, agora mesmo, eu vos digo, alguns dos que aqui estão não provarão a morte antes de verem o Filho do homem vindo na glória de seu Pai (cf. Mt 16,28). Mostrando o Evangelista ser um só o poder de Cristo com sua vontade, acrescentou: E seis dias depois, tomou Jesus consigo Pedro, Tiago e João e levou-os a um monte alto e afastado. E transfigurou-se diante deles; seu rosto brilhou como o sol, as vestes se fizeram alvas como a neve. E eis que apareceram Moisés e Elias a falar com ele (cf. Mt 17,1-3). 

São estas as maravilhas da presente solenidade, é este o mistério de salvação para nós que agora se cumpriu no monte: ao mesmo tempo, congregam-nos agora a morte e a festa de Cristo. Para penetrarmos junto àqueles escolhidos dentre os discípulos, inspirados por Deus, na profundeza destes inefáveis e sagrados mistérios, escutemos a voz divina que do alto, do cume da montanha, nos chama instantemente.  

Para lá, cumpre nos apressarmos, ouso dizer, como Jesus, que agora nos céus é nosso chefe e precursor, com quem refulgiremos aos olhos espirituais – renovadas de certo modo as feições de nossa alma – conformados à sua imagem; e à semelhança dele, incessantemente transfigurados, feitos consortes da natureza divina e prontos para as alturas.  

Para lá corramos cheios de ardor e de alegria; entremos na nuvem misteriosa, semelhantes a Moisés e Elias ou Tiago e João. Sê tu também como Pedro, arrebatado pela divina visão e aparição, transfigurado por esta linda Transfiguração, erguido do mundo, separado da terra. Deixa a carne,abandona a criatura e converte-te para o Criador a quem Pedro, fora de si, diz: Senhor, é bom para nós estarmos aqui (Mt 17,4). 

Sim, Pedro, verdadeiramente é bom para nós estarmos aqui com Jesus e aqui permanecermos pelos séculos. Que pode haver de mais delicioso,de mais profundo, de melhor do que estar com Deus, conformar-se a ele, encontrar-se na luz? De fato, cada um de nós, tendo Deus em si, transfigurado em sua imagem divina, exclame jubiloso: É bom para nós estarmos aqui, onde tudo é luminoso, onde está o gáudio, a felicidade e a alegria. Onde no coração tudo é tranquilo, sereno e suave. Onde se vê a Cristo, Deus. Onde ele junto com o Pai tem sua morada e ao entrar, diz: Hoje chegou a salvação para esta casa (Lc 19,9). Onde com Cristo estão os tesouros e se acumulam os bens eternos. Onde as primícias e figuras dos séculos futuros se desenham como em espelho.

-- Do Sermão no dia da Transfiguração do Senhor, de Anastásio Sinaíta, bispo (século VII)

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