31 de ago. de 2021

Senhor, envia-nos o Cordeiro!


Senhor, envia-nos o Cordeiro! É o Cordeiro que nos falta, não o leão (Ap 5,5-6). O Cordeiro que não se irrita e cuja doçura jamais se pertuba, o cordeiro que dará sua lã branca como a neve para nos aquecer quando está frio, para cobrir quando estivermos desnudos, o cordeiro que nos dará a comer de sua carne por temer que estejamos fracos para caminhar (Jo 6,51; Mt 15,32). 


Senhor, envia-O cheio de sabedoria, por que sua prudência vencerá o espírito orgulhos, evia-O cheio de força, por que prometestes que "o Senhor é forte e poderoso no combate" (Sl 23, 8), envia-O cheio de doçura, por que "descerá como a chuva sobre a relva" (Sl 71,6), envia-O como uma vítima, por que deve ser vendido e imolado para nosso resgate (Mt 26,15; Jo 19, 36; Ex 12,46)


Senhor, envia-O não para exterminar os pecadores, por que deve "vir para chamar os justos e os injustos" (Mt 9,13), envia-O, por que será "digno de receber a honra, a glória e a majestade, digno de receber o livro e de abrir-lhe os selos” (Ap 4,11; Ap 5,9), quer dizer o mistério imcompreensível da Encarnação.

-- Pedro de Celle, monge beneditino e bispo (século XII)

30 de ago. de 2021

31 de Agosto: São Nicodemos e São José de Arimatéia

 


Nicodemos foi um fariseu, membro do Sinédrio, certamente um homem que havia estudado a fé judaica. Ele é mencionado três vezes no Evangelho de São João:

1.  Na primeira vez em que é citado, ele é identificado com um fariseu que vem visitar Jesus a noite, escondido. Jesus havia ido à Jerusalém para passar a Páscoa, ao chegar no Templo, derrubou as mesas do negociantes, dizendo que ali era a casa do Pai. Quando Nicodemos visita a Jesus, ele faz referência a estes eventos: “Rabi, sabemos que és um Mestre vindo de Deus. Ninguém pode fazer esses milagres que fazes, se Deus não estiver com ele” (Jo 3,2), ao que Jesus responde:  “Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer de novo não poderá ver o Reino de Deus”. (Jo 3,3). Daí segue uma conversa sobre o significado da expressão "nascer de novo". Nicodemos parece entender literalmente, como se um homem pudesse entrar de novo no ventre de sua mãe, mas muitos teólogos argumentam que Nicodemos estava propositalmente usando uma interpretação literal para que Cristo explicasse melhor o rela significado do seu ensinamento. Ao responder, Jesus parece surpreso que um mestre judaico não entendia o significado de um renascimento espiritual.

2. No capítulo 7, Nicodemos adverte seus colegas no Sinédrio que não devem julgar a Cristo sem ouvi-lo, dizendo: “Condena acaso a nossa Lei algum homem, antes de o ouvir e conhecer o que ele faz?” (Jo 7, 51). Isto confirma não apenas que fazia parte do Sinédrio como também tinha alguma influência, pois, naquela ocasião, Cristo não foi preso.

3. Finalmente quando Jesus é spultado, Nicodemos traz uma mistura de mirra e perfumes, cerca de 33 quilos, apesar de saber que os judeus não embalsamavam seus falecidos. Isto mostra que ele era um homem de posses, mas também algo mais importante, como destacaou o Papa Bento XVI: "Estas quantidades foram extraordinárias, excedendo qualquer outra utilizada normalmente. Nicodemos preparou o sepultamento de um rei".

José de Arimatéia aparece nos quatro Evangelhos como sendo o responsável pelo enterro de Cristo. 

São Mateus (27,57) fala apenas que era um homem rico e discípulo de Cristo, São Marcos (15, 43) acrescenta que ele era "um ilustre membro do conselho que também esperava o Reino de Deus" e São Lucas (23, 50-56) esclarece que ele não havia concordado com a decisão do Sinédrio.

De acordo com São João (19,38), após saber da morte de Jesus, este discípulo secreto de Cristo, pediu para Pilatos permissão para fazer o enterro antes do anoitecer. JOsé imediatamente comprou um pano de linho e foi até o Gólgota para sepultar a Cristo, o que fez com o auxílio de Nicodemos.

Após limpar e preparar o corpo de Cristo, colocaram-no em uma caverna, num jardim próximo. O Evangelho de São Mateus afirma que aquele seria a tomba que José adquirira para si mesmo. O sepultamento foi rápido para que cumprissem tudo antes de chegar o sábado.  

Ambos são venerados pelas várias igrejas católicas e cristãs, embora em dias diferentes. No atual calendário adotado pela Igreja Católica Romana, ambos são lembrados conjuntamente em 31 de Agosto. 

-- autoria própria.

-- A pintura chama-se O Sepultamento de Cristo, foi pintada por Ticiano em 1559 e está no Museu do Prado em Madrid. Nela José de Arimatéia e Nicodemos seguram o corpo de Cristo, enquanto Maria e São João observam. Um anjo está junto deles. Note as ricas vestes vermelhas de Nicodemos, como Maria e João estão envoltos em trevas, muito pertubados com a morte de Cristo, enquanto Cristo e o Anjo estão na luz.


12 de ago. de 2021

A verdade vos libertará

A palavra de Jesus: "A verdade vos libertará" (Jo 8, 32) deve iluminar e guiar todas as reflexões teológicas e todas as decisões pastorais.

Essa verdade, que vem de Deus, tem o seu centro em Jesus Cristo, Salvador do mundo. D'Ele, que é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14, 6), a Igreja recebe aquilo que ela oferece aos homens. No mistério do Verbo encarnado e redentor do mundo, ela vai buscar a verdade sobre o Pai e seu amor por nós como a verdade sobre o homem e sobre a sua liberdade.

Por sua cruz e ressurreição, Cristo realizou a nossa redenção: esta é a liberdade em seu sentido mais forte, já que ela nos libertou do mal mais radical, isto é, do pecado e do poder da morte. Quando a Igreja, instruída por seu Senhor, eleva a sua oração ao Pai: "livrai-nos do mal", ela está suplicando que o mistério da salvação se manifeste, com potência, na nossa existência de cada dia. Ela sabe que a cruz redentora é, verdadeiramente, a fonte da luz e da vida e o centro da história. A caridade que a inflama faz com que proclame a Boa-Nova e, através dos sacramentos, distribua os seus frutos vivificantes. É de Cristo redentor que partem o seu pensamento e a sua ação, quando, diante dos dramas que dilaceram o mundo, ela reflete sobre o significado e os caminhos da libertação e da verdadeira liberdade.

A verdade, a começar pela verdade sobre a redenção, que está no âmago do mistério da fé, é, pois, a raiz e a regra da liberdade, fundamento e medida de qualquer ação libertadora.

A verdade, condição da liberdade

A abertura à plenitude da verdade impõe-se à consciência moral do homem; este deve procurá-la e estar pronto para acolhê-la, quando ela se manifesta.

Segundo a ordem de Cristo Senhor, a verdade evangélica deve ser apresentada a todos os homens, e estes têm o direito de que ela lhes seja apresentada. Seu anúncio, na potência do Espírito, comporta o pleno respeito da liberdade de cada um e a exclusão de qualquer forma de coação e de pressão.

O Espírito Santo introduz a Igreja e os discípulos de Cristo Jesus na verdade plena (Jo 16, 13). Ele dirige o curso dos tempos e renova a face da terra (Sl 104, 30). É Ele que se faz presente no amadurecimento de uma consciência mais respeitosa da dignidade da pessoa humana. O Espírito Santo encontra-se na origem da coragem, da audácia e do heroísmo: "Onde se acha o Espírito do Senhor, aí está a liberdade" (2 Cor 3, 17).

-- Instrução da Congregação da Fé Libertatis Conscientia, 22 de Março de 1986

1 de ago. de 2021

Sobre a educação de nossos filhos


Um dos documentos do Concílio Vaticano II, chamado Gravissimum educationis,  fala sobre a importância da educação  dos nossos filhos. O documento claramente afirma que a educação é dever dos pais, cabendo ao Estado dar liberdade aos pais para escolher a escola de seus filhos. Por ser um dever dos pais, estes devem estar atentos ao que ocorre nas escolas e colaborar com as autoridades para que o ensino esteja de acordo os princípios morais da família.

Direito universal à educação

Todos os homens, de qualquer estirpe, condição e idade, visto gozarem da dignidade de pessoa, têm direito inalienável a uma educação correspondente ao próprio fim, acomodada à própria índole, sexo, cultura e tradições pátrias, e, ao mesmo tempo, aberta ao consórcio fraterno com os outros povos para favorecer a verdadeira unidade e paz na terra. A verdadeira educação, porém, pretende a formação da pessoa humana em ordem ao seu fim último e, ao mesmo tempo, ao bem das sociedades de que o homem é membro e em cujas responsabilidades, uma vez adulto, tomará parte.

As crianças e os adolescentes têm direito de serem estimulados a estimar retamente os valores morais e a abraçá-los pessoalmente, bem como a conhecer e a amar Deus mais perfeitamente. Por isso, pede insistentemente a todos os que governam os povos ou orientam a educação, para que providenciem que a juventude nunca seja privada deste sagrado direito. Exorta, porém, os filhos da Igreja a que colaborem generosamente em todo o campo da educação, sobretudo com a intenção de que se possam estender o mais depressa possível a todos e em toda a parte os justos benefícios da educação e da instrução.

Os educadores: pais, sociedade civil e Igreja

Os pais, que transmitiram a vida aos filhos, têm uma gravíssima obrigação de educar a prole e, por isso, devem ser reconhecidos como seus primeiros e principais educadores. Esta função educativa é de tanto peso que, onde não existir, dificilmente poderá ser suprida. Com efeito, é dever dos pais criar um ambiente de tal modo animado pelo amor e pela piedade para com Deus e para com os homens que favoreça a completa educação pessoal e social dos filhos. A família é a primeira escola das virtudes sociais de que as sociedades têm necessidade. Mas, é sobretudo, na família cristã, ornada da graça e do dever do sacramento do Matrimónio, que devem ser ensinados os filhos desde os primeiros anos, segundo a fé recebida no Batismo a conhecer e a adorar Deus e a amar o próximo; é aí que eles encontram a primeira experiência quer da sã sociedade humana quer da Igreja; é pela família, enfim, que eles são pouco a pouco introduzidos no consórcio civil dos homens e no Povo de Deus. Caiam, portanto, os pais na conta da importância da família verdadeiramente cristã na vida e progresso do próprio Povo de Deus.

O dever de educar, que pertence primariamente à família, precisa da ajuda de toda a sociedade. Portanto, além dos direitos dos pais e de outros a quem os pais confiam uma parte do trabalho de educação, há certos deveres e direitos que competem à sociedade civil, enquanto pertence a esta ordenar o que se requer para o bem comum temporal. Faz parte dos seus deveres promover de vários modos a educação da juventude: defender os deveres e direitos dos pais e de outros que colaboram na educação e auxiliá-los; segundo o princípio da subsidiariedade, ultimar a obra da educação, se falharem os esforços dos pais e das outras sociedades, tendo, todavia, em consideração, os desejos dos pais; além disso, fundar escolas e instituições próprias, na medida em que o bem comum o exigir. 

Obrigações e direitos dos pais

Os pais, cujo primeiro e inalienável dever e direito é educar os filhos, devem gozar de verdadeira liberdade na escolha da escola. Por isso, o poder público, a quem pertence proteger e defender as liberdades dos cidadãos, deve cuidar, segundo a justiça distributiva, que sejam concedidos subsídios públicos de tal modo que os pais possam escolher, segundo a própria consciência, com toda a liberdade, as escolas para os seus filhos. 

O sagrado Concílio, porém, exorta os fiéis a colaborarem espontâneamente quer para encontrar os métodos aptos de educação e de organização dos estudos, quer para formar professores capazes de educar retamente os jovens; secundem com o seu auxílio, sobretudo mediante associações dos pais, todo o trabalho da escola e em particular a educação moral que na escola deve ser ministrada.

Lembra, porém, aos pais o grave dever que lhes incumbe de tudo disporem, ou até exigirem, para que os seus filhos possam gozar de tais auxílios e progredir harmonicamente na formação cristã e profana. Por isso, a Igreja louva aquelas autoridades e sociedades civis que, tendo em conta o pluralismo da sociedade moderna e atendendo à justa liberdade religiosa, ajudam as famílias para que a educação dos filhos possa ser dada em todas as escolas segundo os princípios morais e religiosos das mesmas famílias.  

Texto completo:  Declaração Gravissimum Educationis Sobre a Educação Cristã, Papa Paulo VI, 28 de Outubro de 1965. 


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