Há alguns parece que a Penitência não é um sacramento, embora a Igreja considere como um dos sete sacramentos.
Primeira objeção: Segundo está nos primeiros decretos da Igreja, os sacramentos são o Batismo, Crisma e o Corpo e Sangue de Cristo. Eles se chamam sacramentos por que, através de sinais visíveis, Deus opera invisivelmente a salvação. Isto não ocorre com a Penitência, por que Deus realiza a salvação sem necessitar de sinais visíveis.
Resposta: É verdade que um sacramento consiste em uma cerimônia feita de tal modo que nela recebamos simbolicamente o que devemos receber santamente. Ora, na Penitência, o ato praticado tem um significado santo, tanto da parte do pecador penitente, pelo que faz e diz, mostra abandonar o pecado no seu coração; também o sacerdote, pelo que faz e diz, significa a obra de Deus, isto é, o perdão dos pecados.
Por sinais visíveis deve-se entender todos os gestos realizados por um homem, assim como derramar a água no Batismo ou ungir com óleo o crismando. Um sacramento dispensa graças excelentes, superiores a toda capacidade humana, assim, no Batismo, todos pecados são redimidos, na Crisma, se confere a plenitude do Espírito Santo, na extrema-unção, a perfeita saúde espiritual, proveniente da virtude de Cristo. Os atos humanos envolvidos em tais sacramentos não são sua essência, são apenas a maneira de realizá-los.
Além disso, no caso da Penitência e do Casamento, são os próprios atos humanos daqueles que recebem o sacramento, que tornam visíveis seus efeitos.
Segunda objeção:
Os sacramentos da Igreja são realizados pelos ministros de Cristo, que dispensam os mistérios de Deus. A Penitência não é realizada pelo ministro, nem conta com a sua participação, mas é inspirada aos homens por Deus, segundo diz a Escritura: Depois que me converteste, fiz penitência (Jr 31,17).
Resposta: nos sacramentos que incluem matéria visível, como a água e o óleo, é necessário que sejam aplicados pelo ministro da Igreja, representante da pessoa de Cristo, um sinal de que o sacramento vem de Cristo mesmo. Como dissemos, na Penitência os atos humanos são realizados pelo pecador penitente, atos provenientes de uma inspiração interna. Assim, não há matéria aplicada pelo ministro, mas Deus que age interiormente; o ministro dá somente o complemento do sacramento, absolvendo o penitente.
Terceira objeção: Nos sacramentos, como Batismo e Crisma, temos que distinguir os atos visíveis e sua realidade espiritual não visível. Nada disto ocorre na Penitência, assim a Penitência não seria um sacramento por não ter a mesma estrutura.
Resposta:
Também na Penitência podemos distinguir o que é só visível, os atos praticados tanto pelo pecador penitente quanto pelo padre, e o arrependimento interno do pecador.
-- São Tomás de Aquina, Suma Teológica, Questão 84, artigo I.
-- Este post é parte da série Suma Teológica Reescrita, na qual reorganizo e "traduzo" para uma linguagem mais moderna questões discutidas por São Tomás de Aquino na monumental e fundamental Suma Teológica.
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