17 de out. de 2020

A tristeza, o quinto pensamento pecaminoso

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A tristeza deriva das paixões não satisfeitas

O monge afetado pela tristeza não conhece prazer espiritual: a tristeza é um abatimento da alma e se forma dos pensamentos da ira. 

O desejo de vingança, com efeito, é próprio da ira, o fracasso da vingança resulta na tristeza, ela é a boca de um leão e facilmente devora aquele que se entristece. A tristeza é com um verme no coração que consome a mãe que o gerou. 

A mãe sofre ao dar a luz a um filho, mas, uma vez que a criança tenha nascido está livre da dor; a tristeza, por outro lado, uma vez que há sido gerada, provoca grandes dores, e mesmo com esforço, nos traz sofrimentos menores. 

O monge triste não conhece a alegria espiritual, como a pessoa que tem uma forte febre não reconhece o sabor do mel. O monge entristecido não consegue manter a mente na contemplação, a oração que brota dele não é pura, a tristeza é um impedimento para todo bem. 

Ter os pés amarrados é um impedimento para correr, assim a tristeza é um obstáculo para a contemplação. Assim como o prisioneiro é amarrado, a tristeza impede o movimento de que está preso em paixões. Se não houver outras paixões, a tristeza não tem forças, assim como ninguém permanece preso se não houver guardas. Aquele que está entregue às paixões está também atado pela tristeza, as cordas que ao redor de suas mãos são a prova de sua derrota. 

Efetivamente a tristeza deriva da falta de êxito ao satisfazer seus desejos carnais, por que o desejo está sempre junto a todas paixões. Quem vence ao desejo, também vencerá as paixões e não estará submetido à tristeza.

Quem está jejuando não se entristece pela falta de alimentos, nem o sábio quando lhe ataca um desejo desordenado; nem o manso quando renuncia a vingança; nem o humilde quando se vê privado da honra; nem o generoso quando sofre uma perda financeira: eles evitaram, com esforço, o desejo destas coisas. Como aquele que está bem protegido não sofre os ataques do inimigo, assim também o homem que domina as paixões não é ferido pela tristeza.

Quem dominar as paixões também dominará a tristeza

O escudo é uma proteção para o soldado, assim como os muros protegem uma cidade, mais seguro ainda está o monge que tem paz interior. De fato, as vez uma flecha lançada por um braço forte pode transpassar o escudo, uma multidão de inimigos pode derrubar os muros da cidade, mas a tristeza não surge onde houver paz interior.

Quem dominar as paixões também dominará a tristeza, enquanto que aquele que for vencido pelas paixões será prisioneiro de suas ataduras. Aquele que se entristece facilmente e simula uma ausência de paixões é como um enfermo que finge estar saudável; assim a doença se revela por uma febre, a  presença de uma paixão se revela por uma tristeza.

Aquele que ama o mundo se verá muito afligido, enquanto que aqueles que desprezam as coisas do mundo estarão sempre livres da tristeza. O ávaro, ao perder algo, se verá terrivelmente entristecido, enquanto que aquele que despreza as riquezas estará sempre livre da tristeza. Quem busca a glória, ao chegar a desonra, ficará batido, enquanto o humilde a acolherá como uma companheira.

O forno purifica a prata de pouca qualidade e a tristeza pelos pecados livra o coração do erro; o contínuo derretimento do metal enfraquece a liga e a tristeza pelas coisas do mundo diminui o intelecto.

O nevoeiro diminui a força dos olhos e a tristeza embrutece a mente dedicada à contemplação; a luz do Sol não chega aos abismos marinhos e a visão da luz não ilumina o coração entristecido. Doce para olhos é o nascer do Sol, mas até isto desagrada a alma triste, a amargura diminui o sentido do paladar assim como a tristeza diminui a capacidade de receber. Porém aquele que abandonar os prazeres do mundo não será pertubado por pensamentos de tristeza.

-- Evágrio, monge (século IV), tradução própria

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