28 de mai. de 2021

Há várias pessoas em Deus

  O que é a Santíssima Trindade? - A12.com

A Santíssima Trindade é composta de ter pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. Mas, como ensina São Tomás de Aquino, alguns duvidam desta formulação. No livro Suma Teológica, questão 30, o santo discute o tema, primeiro explicitando os problemas e, depois, mostrando como podem ser solucionados. Aqui eu alterei a ordem e "traduzi" para uma linguagem mais moderna:

Afirmação

A Igreja professa haver em Deus várias pessoas pois considera que a palavra pessoa significa, em Deus, relação, como realidade subsistente na divina natureza. Ora, há várias relações reais em Deus, onde se segue a existência de várias realidades subsistentes na divina natureza, e isto é o mesmo que existirem nela várias pessoas.

Problemas

Parece que não se devem admitir várias pessoas em Deus por que:

Primeira objeção: pessoa é uma substância individual de natureza racional. Ora, se em Deus há várias pessoas, segue-se que há várias substâncias, o que é herético.

Resposta: Na definição da pessoa não se introduz a substância como significando essência, mas como o que é manifesto por se lhe acrescentar algo de individual. E para exprimir a substância, com tal significado, os gregos têm o nome de hipóstase; por isso, como nós dizemos três pessoas, dizem eles três hipóstases. Nós, porém, não nos acostumamos a dizer três substâncias para se não entenderem três essências, por causa da confusão que resultaria.

Segunda objeção: a pluralidade das funções não gera distinção de pessoas, nem em Deus nem em nós. Ora, em Deus não há outra pluralidade além da das funções, logo, não se pode dizer que há em Deus várias pessoas. 

Resposta: As propriedades absolutas em Deus, como a bondade e sabedoria, mutuamente se não opõem e por isso nem realmente se distinguem. Embora, pois, lhes convenha o existir, não são por isso três realidades diferentes, por onde seriam várias pessoas. Mas, nas coisas criadas, as propriedades de uma pessoa, como a altura e a bondade, não subsistem fora da pessoa, embora realmente entre si se distingam. Em Deus, porém, as propriedades subsistem, e realmente se não distinguem umas das outras, como antes se disse. Donde, a pluralidade de tais propriedades basta para justificar a existência das pessoas divinas. 

Terceira objeção. Boécio, falando de Deus diz que é verdadeiramente uno o que não é susceptível de separação. Logo, não há várias pessoas em Deus. 

Resposta: A suma unidade e simplicidade de Deus excluem toda a pluralidade das atribuições absolutas; não porém a da funções. Porque estas se predicam de uma coisa dependentemente de outra, e assim não importam composição na coisa a que se atribuem, como ensina Boécio no mesmo livro.

Quarta objeção. Onde quer que haja número, aí haverá todo e parte. Ora, se em Deus há um certo número de pessoas, será preciso nele introduzir o todo e a parte, o que contraria a divina simplicidade. Mas, em contrário, Santo Atanásio diz: Uma é a pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo. Logo, Paí, Filho e Espírito Santo são várias pessoas.

Resposta: Há duas tipos de número: o abstrato, como dois, três, quatro; e o existente nas coisas numeradas, como dois homens e dois cavalos. Se, pois, considerarmos o número abstratamente, nada impede existir em Deus todo e parte; mas isto só se dá na acepção do nosso intelecto, pois só neste existe o número absoluto, separado das coisas numeradas. Se, porém, considerarmos o número como representando objetos existente, então, no mundo das criaturas, um é parte de dois, e dois, de três; e um homem, parte de uma dupla, e uma dupla parte de um trio. Mas em Deus não é assim porque tanto é o Pai quanto toda a Trindade, como a seguir se demonstrará.

-- São Tomás de Aquina, Suma Teológica, Questão 30. 

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