2 de jun. de 2020

Santa Melânia, a Velha

Melânia, a Velha é a avó de outra santa com o mesmo nome, Melânia, a Jovem; ou seja, na mesma família temos duas santas, ambas chamadas Melânia, avó e a neta. A família estava no topo da administração romana, era riquíssima e tinha ligações com a Espanha. 

Melânia, a Velha, nasceu em 323 ou 325, os registros são incertos. Seus pais, quando ela chegou na idade adequada, escolheram como marido Valério Máximo, já tinha sido embaixador romano na corte em Constantinopla e prefeito de Roma, ou seja, também era de uma família rica e prestigiada, mas bem mais velho que Melânia. Permanenceram casados por poucos anos, tiveram três filhos e o marido faleceu quando ela tinha apenas 22 anos. Logo após, dois filhos também morreram, deixando a família reduzida apenas a Melânia e seu filho Valério Públicola, o futuro pai da neta Melânia.

Vida monástica

Ela decidiu que ao invés de casar novamente, iria deixar Roma e foi para Egito e Israel, onde passaria a viver próximo aos padres do deserto, bispos, monjes e monjas que eram o centro da igreja, que naquela época não era Roma. Surpreendente para nossos padrões atuais, ela deixou seu filho com um tutor que tinha acesso a todos os seus bens para garantir o sustento da criança e partiu para o Oriente. Ela só retornaria a ver o filho 37 anos após.

Ao chegar no Egito, ela visitou alguns monjes que viviam no deserto e decidiu que teria uma vida semelhante. No entanto, havia um problema prático: eles queriam viver em isolamento e, neste sentido, sua presença não era benvinda. Por outro lado, ela percebeu que continuar vivendo numa casa confortável, mesmo que estando em oração e jejum, envolvia ter que perder tempo com a administração da casa, limpeza e outras atividades que a distraiam do objetivo principal. 

Com estes pensamentos, ela foi para Jerusalém viver nos locais que Jesus e os apóstolos também haviam vivido. Chegando lá, inspirada pelos textos de Orígenes, construiu um monastério no Monte das Oliveiras onde passaria a viver uma vida ascética estudando as Sagradas Escrituras. Este foi um dos primeiros monastérios construídos como uma resposta intermediária entre o isolamento no deserto e as necessidades práticas de uma vida na cidade. O monastério chegou a abrigar 50 jovens vivendo uma vida penitente, mas também trabalhando numa hospedaria para peregrinos construída ao lado da casa. 

Melânia envolveu-se nos debates quanto às possíveis heresias de Orígenes, São Jerônimo que também morava em Jerusalém chegou a escrever contra ela. Quando os defensores de Orígines foram perseguidos, Melânia deu abrigo e os protegeu.

Viagem a Roma
Em 399 ela decidiu viajar para Roma. No caminho encontrou-se com São Paulino de Nola, que morava no sul da Itália, para quem deu de presente um pedaço da Santa Cruz de Cristo. Em Roma, não apenas reencontrou seu filho, mas também sua neta, a quem teria instigado a viver uma vida simples e peregrina, abandonando Roma e as riquezas da família.

Em 406 decidu retornar a Jerusalém. Novamente encontrou-se com São Paulino de Nola, que pediu-lhe para levar uma carta a São Agostinho, que estava no norte da África. Depois da longa viagem, ela permaneceu no monastério em Jerusalém até sua morte, em 410.

Santa Melânia, a Velha, é muito mais venerada pela Igreja Ortodoxa, não sendo muito popular no Ocidente. 

Dois exemplos para nós
Algumas histórias, de difícil comprovação, são contadas sobre ela.

Quando pela primeira vez chegou ao Egito, procurou um monge do deserto conhecido como Abba Pambo e deu-lhe 100 quilos de prata. Ainda habituada aos modos da corte, esperava um grande agradecimento e elogios, mas o monge não lhe disse nada. Ela insistiu e ressaltou que se tratava de 100 quilos de prata, uma fortuna. Enfim o monge lhe respondeu: "Minha filha, Deus que construiu as montanhas com seu poder, sabe que aí há 100 quilos de prata. Ele prestou atenção na viúva que deu duas moedinhas no templo (cf Mc 12, 42), Ele sabe o que estás fazendo. Mas se estás dando para mim, eu não quero bem materiais e podes levar de volta".

Anos depois, outro monge chamado Evagrius chegou a Jerusalém e ficou na hospedaria ao lado do monastério que ela havia fundado. O monge estava muito doente e não havia remédio que ajudasse. Percebendo que algo mais se passava, ela foi falar com ele e disse: "Estás doente por que há um pecado em teu coração!". O monge confessou que havia conhecido uma mulher muito linda, por quem sentia desejos da carne. Melânia lhe respondeu: "Prometa que de agora em diante vais viver em um monastério, recluso e em oração, e eu vou rezar por ti e pedir a Deus que te perdoe os pecados, sejam lá o que tiverdes feito". E, de fato, o monge se recuperou rapidamente e viveu ainda muito e muitos anos.  

-- autoria própria.


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