20 de fev. de 2019

A Sabedoria de Deus misturou o vinho e pôs a mesa para nós

A Sabedoria construiu para si uma casa (Sb 9,1a). O poder por si subsistente de nosso Deus e Pai preparou para si próprio uma casa: o universo onde ele habita por sua virtude. No universo colocou também o homem que ele criou à sua imagem e semelhança, composto de natureza visível e invisível.

Ergueu, então, sete colunas (Sb 9,1b). O Espírito Santo deu os seus sete dons ao homem depois de criado e conformado a Cristo, para que cresse em Cristo e observasse seus mandamentos. Por estes dons, o homem espiritual chega à perfeição e se fortalece, pelo enraizamento na fé, na participação da vida sobrenatural. Sua fortaleza é dinamizada pela ciência, enquanto que sua ciência se manifesta pela fortaleza.

Assim, a natural nobreza do espírito humano é elevada pelo dom da fortaleza, e predisposta a procurar com fervor e a desejar inteiramente as vontades divinas, pelas quais tudo foi criado. Pelo dom do conselho, torna-se capaz de distinguir, entre o que é falso e as santíssimas vontades de Deus, incriadas e imortais. Deste modo tornamo-nos capazes de as meditar, ensinar e cumprir. Pelo dom da prudência, enfim, somos levados a aprovar e aceitar estas mesmas vontades e não outras. Estas três virtudes exaltam o natural esplendor do espírito.

Misturou em sua taça o vinho e preparou a mesa (Sb 9,2). Neste homem, em quem, como em uma taça, mesclam-se a natureza espiritual e a corpórea, Deus uniu à ciência das coisas o conhecimento dele próprio como o criador de tudo. Este dom da inteligência, tal qual o vinho, faz o homem embriagar-se de tudo quanto se refere a Deus. Sendo assim, graças a ele, que é o pão celeste, nutrindo as almas pela virtude e inebriando e deleitando pela doutrina, a Sabedoria dispõe tudo como as iguarias do celeste banquete para os que dele desejam participar.

Enviou os seus servos, chamando-os em alta voz à sua mesa, dizendo (Sb 9,3). Enviou os apóstolos, a serviço de sua divina vontade na proclamação do Evangelho, que provindo do Espírito está acima de toda a lei, quer escrita, quer natural, a fim de chamar todos a si. Nele próprio, como numa taça, mediante o mistério da encarnação, fez-se a mistura admirável das naturezas divina e humana, de maneira pessoal, isto é hipostática, sem confusão. Enfim, pelos apóstolos ele proclama: Quem é insensato, venha a mim. Quem é insensato, porque julga em seu coração que Deus não existe, abandone a impiedade, venha a mim pela fé, e saiba que sou eu o criador de tudo e Senhor.

Aos carentes de sabedoria ele diz: Vinde, comei comigo o meu pão e bebei o vinho que misturei para vós (Sb 9,5). Tanto àqueles que não têm obras da fé quanto aos mais perfeitos em sua doutrina ele chama: “Vinde, comei o meu corpo que à semelhança do pão dos fortes vos nutre; e bebei o meu sangue, que como vinho de doutrina celeste vos deleita e conduz à deificação; pois de modo admirável misturei o sangue à divindade para vossa salvação”.

-- Do Comentário sobre o Livro dos Provérbios, de Procópio de Gaza, bispo (século VI)

9 de fev. de 2019

Beata Alexandrina de Balazar

Alexandrina Maria da Costa, também conhecida como Beata Alexandrina de Balazar, foi uma mística portuguesa, que nasceu em 30 de Março de 1904 e morreu em 13 de Outubro de 1955, tendo passado quase toda vida na sua cidadezinha natal de Póvoa do Varzim, num povoado chamado Calvário. 

O pai abandonou a família, sendo criada apenas pela mãe, pode estudar apenas por dezoito meses, já com nove anos trabalhava nas fazendas. Quando tinha 12 anos, estava ajudando a fazer um tapete de flores para a Procissão do Santíssimo, enquanto colhia flores, teve sua primeira experiência mística ao começar a sangrar na cabeça; segundo ela, Jesus lhe colocou uma coroa de espinhos e passou a chamá-la Alexandrina das Dores.

Paralisia
Aos 14 anos, no Sábado Santo de 1918, estava com a irmã e outra menina em casa, trabalhando com costura, quando quatro homens forçaram a porta de entrada. Para escapar do ataque, Alexandrina pulou de uma janela com mais de quatro metros de altura, quebrando uma ou mais vértebras. Até os 19 anos ainda conseguia se arrastar até a Igreja, onde permanecia em oração quase todo dia.

Segundo Alexandrina, até 1928, dez anos após o ataque, ainda pedia a graça da cura, prometendo que sairia como missionária pelo mundo, até que compreendeu que sua salvação seria pelo sofrimento. Disse que "Nossa Senhora concedeu-me uma graça ainda maior. Depois da resignação deu-me a conformidade completa à vontade de Deus e, por fim, o desejo de sofrer”, e também que  "Jesus, tu és prisioneiro no Tabernáculo. E eu por tua vontade prisioneira na minha cama. Far-nos-emos companhia”.

Paixão de Cristo
De sexta-feira, 3 de Outubro de 1938 a 24 de Março de 1942, ou seja por 182 vezes, viveu, em todas as sextas-feiras, os sofrimentos da Paixão: Alexandrina, superando o estado habitual de paralisia, descia da cama e com movimentos e gestos, acompanhados de angustiantes dores, repetia, por três horas e meia, os diversos momentos da Via Crucis. Depois disso, a partir de 27 de Março de 1942, Alexandrina deixou de se alimentar, vivendo exclusivamente da Eucaristia por 13 anos, até sua morte.

Em 1936, Jesus falou-lhe que deveria escrever ao Papa para que ele consagrasse o mundo ao Coração Imaculado de Maria, este pedido foi renovado várias vezes, até que em 31 de Outubro de 1942 o Papa Pio XII celebrou esta consagração em língua portuguesa, e renovou-a, no Vaticano,  em 8 de Dezembro, na Festa da Imaculada Conceição. 

Neste ponto da vida, a sua fama de santidade já era conhecida e muitas pessoas vindas de longe visitavam-na, pediam conselhos e orações. De sua cama, pedia que as pessoas organizassem novenas, jejuns e rezassem intensamente. tournou-se também uma colboradora salesiana.

Falecimento e beatificação
No início de 1955 foi-lhe revelado que deveria preparar-se, pois morreria ainda naquele ano. Em 12 de Outubro pediu a Unção dos Enfermos, no dia seguinte rezou o rosário em honra à Nossa Senhora de Fátima e faleceu tranquilamente, após declarar: “Sou feliz porque vou para o céu”.

Sobre seu túmulo, que está numa capela na igreja de Balazar, pediu para escrever:

“Pecadores, se as cinzas do meu corpo puderem ser úteis para a vossa salvação, aproximai-vos: passai todos por cima delas, pisai-as até desaparecerem, mas não pequeis mais! Não ofendais mais o nosso Jesus! Pecadores, queria dizer-vos tantas coisas. Não bastaria este grande cemitério para escrevê-las todas! Convertei-vos! Não queirais perder a Jesus por toda a eternidade! Ele é tão bom!... Amai-O! Amai-O! Basta de pecar!”

Alexandrina foi beatificada em 25 de Abril de 2004 pelo Papa João Paulo II, que assim falou sobre ela:

" "Tu me amas?", pergunta Jesus a Simão Pedro. Ele responde: "Tu sabes tudo, Senhor, bem sabes que te amo." A vida da Beata Alexandrina Maria da Costa pode resumir-se neste diálogo de amor. Investida e abrasada por estas ânsias de amor, não quer negar nada ao seu Salvador: de vontade forte, tudo aceita para mostrar que o ama. Esposa de sangue, revive misticamente a paixão de Cristo e oferece-se como vítima pelos pecadores, recebendo a força da Eucaristia que se torna o único alimento dos seus últimos treze anos de vida. Pela esteira da Beata Alexandrina, expressa na trilogia sofrer, amar, reparar, os cristãos podem encontrar estímulo e motivação para nobilitar tudo o que a vida tenha de doloroso e triste com a prova maior de amor: sacrificar a vida por quem se ama. (…) O amor a Cristo é o segredo da santidade!" 

Por obediência aos seus diretores espirituais, escreveu vários diários e relatos de experiências místicas que estão publicados.  

-- autoria própria.



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