28 de mai. de 2010

Sobre a Sabedoria

A sabedoria deste mundo está em esconder as maquinações do coração, velar o sentido das palavras, mostrar como o verdadeiro é falso, demonstrar ser errado aquilo que é verdadeiro.

Pelo contrário, a sabedoria dos justos consiste em nada fingir por ostentação; declarar o sentido das palavras; amar as coisas verdadeiras como são; evitar as falsas; fazer o bem gratuitamente; preferir tolerar de bom grado o mal a fazê-lo; não procurar vingança contra a injúria; reputar lucro a afronta em bem da verdade.

Zomba-se, porém, desta simplicidade dos justos porque para os prudentes deste mundo a virtude da pureza de coração é tida por loucura. Tudo quanto se faz com inocência, eles reputam tolice e aquilo que a verdade aprova nas ações, soa falso à sabedoria humana.

-- Dos livros Moralia sobre Jó, de São Gregório Magno, papa (século VI)

A Caridade é múltipla

Paulo soube enumerar a multiplicidade desta lei ao dizer: A caridade é paciente, é benigna, não é invejosa, não se ensoberbece, não age mal; não é ambiciosa, não busca o que não é seu, não se irrita, não pensa mal, não se alegra com a iniquidade, mas se rejubila com a verdade.


É paciente a caridade, pois tolera com serenidade as afrontas recebidas. É benigna porque retribui os males com bens generosos. Não é invejosa porque, nada cobiçando neste mundo, não tem por onde invejar os êxitos terrenos. Não se ensoberbece; deseja ansiosamente a retribuição interior, por isso não se exalta com os bens exteriores. Não age mal, pois somente se dilata com o amor a Deus e ao próximo, por isto ignora tudo quanto se afasta da retidão.

Não é ambiciosa porque, cuidando ardentemente de si no íntimo; não cobiça fora, de modo algum, as coisas alheias. Não busca o que não é seu, pois tudo quanto possui aqui considera-o transitório e alheio, sabendo que nada lhe é próprio a não ser aquilo que permanece sempre com ela. Não se irrita, pois quando insultada, não se deixa levar por sentimentos de vingança, já que por grandes trabalhos espera prêmios ainda maiores. Não pensa mal, porque, firmando o espírito no amor da pureza, arranca pela raiz todo ódio e não admite na alma mancha alguma.

Não se alegra na iniquidade: o seu único anseio consiste no amor para com todos sem se alegrar com a perda dos adversários. Rejubila com a verdade porque, amando os outros como a si próprio, enche-se de gozo ao ver neles o que é reto como se tratasse do progresso próprio.

-- Dos livros Moralia sobre Jó, de São Gregório Magno, papa (século VI)

25 de mai. de 2010

Homem simples e reto

Há quem seja simples demais, a ponto de não saber o que é correto. Daí a exortação de São Paulo aos discípulos: Quero que sejais sábios no bem, simples no mal. E ainda, Não vos façais crianças pelo entendimento, mas sede pequeninos na malícia.

Daí o Espírito Santo manifestar-se pela figura da pomba e, também, pela do fogo. Pela figura da pomba mostrou a simplicidade; pela figura do fogo, o zelo. Manifesta-se pela pomba e pelo fogo, porque aqueles que dele estão cheios, guardam com a mansidão da simplicidade e , assim, não impedem que se acenda o zelo da retidão contra as culpas dos delinquentes.  Simples e reto, temendo a Deus e afastando-se do mal. Quem deseja chegar à patria eterna, mantém-se, sem dúvida alguma, simples e reto: simples na obras e reto na fé.

Existem ainda alguns que não são simples no bem que praticam, buscando não uma retribuição interior, mas o apluso exterior. Deles, bem falou certo sábio: Ai do pecador que entra no país por dois caminhos. Entra por dois caminhos o pecador quando a obra que pratica é de Deus; a sua intenção, porém, é mundana.

-- dos Livros "Moralia" sobre Jó, de São Gregório Magno, papa (século VI)

21 de mai. de 2010

O Dom do Pai - o Espírito Santo

Escutemos o que diz a palavra do Senhor sobre a ação do Espírito em nós: Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de compreendê-las agora (Jo 16,12). É bom para vós que eu parta: se eu me for, vos mandarei o defensor (Jo 16,7).

Em outro lugar: Eu rogarei ao Pai, e ele vos dará um outro defensor, para que permaneça para sempre convosco: o Espírito da Verdade (Jo 14, 16-17). Ele vos conduzirá à plena verdade. Pois ele não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido; até as coisas futuras vos anunciará. Ele me glorificará porque receberá do que é meu (Jo 16, 13-14).

Estas palavras foram ditas para nos dar a conhecer a vontade daquele que confere o Dom e a  natureza e a perfeição do mesmo Dom. Por conseguinte, já que nossa natureza não nos permite compreender nem o Pai nem o Filho, o Espírito Santo estabelece um certo contato entre nós e Deus, para iluminar a nossa fé nas dificuldades relativas à encarnação de Deus. O Espírito Santo é recebido para nos tornar capazes de compreender. Assim é a alma humana: se não recebe pela fé o Dom que é o Espírito, tem certamente uma natureza capaz de conhecer a Deus, mas falta-lhe a luz para chegar a esse conhecimento.

-- do Tratado Sobre a Trindade, de Santo Hi;ário, bispo (século IV)

20 de mai. de 2010

Se eu não for, o Espírito não virá a vós

O tempo mais oportuno para o envio do Espírito Santo e sua descida sobre nós foi o que se seguiu à ascenção de Cristo nosso Salvador. Cristo tinha cumprido a sua missão sobre a terra, e para nós havia chegado o momento de entrarmos em comunhão com a natureza divina do Verbo. Era preciso que a nossa vida anterior fosse transformada em outro diferente , começando um novo estilo de vida em santidade. Ora, isto só pode ser realizado pela participação do Espírito Santo.

De fato, enquanto Cristo vivia visivelmente entre seus fiéis, ele mesmo dispensava-lhes todos os bens. Mas quando chegou o momento de subir ao Pai celeste, era necessário que continuasse presente no meio de seus fiéis por meio do Espírito e habitasse pela fé em nossos corações, a fim de que, pudéssemos clamar com toda confiança: Abá, ó Pai! (Rm 8,15). E ainda nos tornássemos capazes de progredir sem demora no caminho de perfeição, superando com fortaleza invencível as ciladas do demônio e as perseguições dos homems, graças à assistência do Espírito todo-poderoso.

-- adaptado do Comentário sobre o Evangelho de João, de São Cirilo de Alexandria, bispo (século V)

19 de mai. de 2010

A missão do Espírito Santo na Igreja

Terminada na terra a obra que o Pai confiou ao Filho, o Espírito Santo foi enviado no dia de Pentecostes a fim de santificar continuamente a Igreja. Ele é o Espírito da vida, a fonte de água que jorra para a vida eterna. Por meio dos sacramentos e ministérios, o Espírito Santo não apenas santifica e conduz o povo de Deus e o adorna com virtudes, mas ainda distribui a cada um seus dons conforme quer (1Cor 12,11), e concede também graças especiais aos fiéis de todas as condições. Torna-os assim aptos e disponíveis para assumir obras ou funções, em vista de uma séria renovação e mais ampla edificação da Igreja, conforme foi dito: A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum (1Cor 12,5).

Estes carismas devem ser recebidos com ação de graças e consolação. Pois todos, desde os mais extraordinários aos mais simples e comuns, são perfeitamente apropriados e úteis às necessidades da Igreja.

-- Da Constituição dogmática Lumem Gentium sobre a Igreja, do Concílio Vaticano II (século XX)

18 de mai. de 2010

A ação do Espírito Santo

O Espírito Santo é fonte de santidade e luz de inteligência; é ele que dá uma certa iluminação à nossa razão natural para que encontre a verdade. Por ele, os corações são elevados ao alto, os fracos são conduzidos pela mão, os que progridem na virtude chegam à perfeição. Ele ilumina os que foram purificados de toda a mancha e torna-os espirituais pela comunhão consigo.

E como os corpos límpidos e transparentes, sob a ação da luz, se tornam também extraordinariamente brilhantes e irradiam um novo fulgor, da mesma forma também as almas que recebem o Espírito e são por ele iluminadas tornam-se espirituais e irradiam sobre os outros a graça que lhes foi dada.

Dele procede a previsão do futuro, a inteligência dos mistérios, a compreensão das coisas ocultas, a distribuição dos carismas, a participação na vida do céu, a companhia dos coros dos anjos. Dele nos vem a alegria sem fim, a união constante e a semelhança com Deus; dele procede o bem mais sublime que se pode desejar: o homem é divinizado.

-- Do Tratado Sobre o Espírito Santo, de São Basílio Magno, bispo (século IV)

A água viva do Espírito Santo

A água que lhe der se tornará nele fonte de água viva, que jorra para a vida eterna (Jo 4,14). Água diferente, esta que vive e jorra; mas jorra apenas sobre os que são dignos dela. Por que motivo o Senhor dá o nome de "água" à graça do Espírito Santo? Certamente porque tudo tem necessidade de água; ela sustenta as ervas e os animais. A água das chuvas cai dos céus; e embora caia sempre do mesmo modo e na mesma forma, produz efeitos muitos variados.

Com o Espírito Santo acontece o mesmo. Sendo único, com uma única maneira de ser e indivisível, distribui a graça a cada um conforme lhe apraz. E assim como a árvore ressequida produz novos frutos ao receber água, assim também a alma pecadora produz frutos de justiça ao receber do Espírito Santo o dom do arrependimento. O Espírito tem um só e o mesmo modo de ser; mas, por vontade de Deus e pelos méritos de Cristo, produz efeitos diversos.

Serve-se da língua de uns para comunicar o dom da sabedoria; ilumina a inteligência de outros com o dom da profecia. A este dá o poder de interpretar as Sagradas Escrituras. a uns fortalece na temperança, a outros ensina a misericórdia; a estes inspira a prática do jejum e como suportar as austeridades da vida ascética; e àqueles o domínio das tendências carnais; a outros prepara para o martírio. Enfim, manifesta-se de modo diferente em cada um, mas permanece sempre igual a si mesmo, como está escrito: A cada um é dada a manisfestação do Espírito em vista do bem comum (1Cor 12,5).

-- Das catequeses de São Cirilo de Jerusálem, bispo (século IV)

15 de mai. de 2010

A Ascensão do Senhor aumenta a nossa fé

Os santos apóstolos, apesar dos milagres contemplados e dos ensinamentos recebidos, ainda se atemorizavam perante as atrocidades da paixão do Senhor e hesitavam ante a notícia da sua ressuirreição. Porém, com a Ascensão do Senhor progrediram tanto que tudo quanto antes era motivo de temor, se converteu em motivo de alegria. Toda a contemplação de seu espírito se concentrava na divindade daquele que estava sentado à direita do Pai; agora sem a presença visível do seu corpo, podiam compreender claramente, com os olhos do espírito, que aquele que ao descer à terra não tinha deixado o Pai, também não abandonou os discípulos ao subir para o céu.

A partir de então, caríssimos filhos, o Filho do homem deu-se a conhecer de modo mais sagrado e profundo como Filho de Deus. Ao ser acolhido na glória da majestade do Pai começou, de um modo novo e inefável, a estar mais presente no meio de nós pela divindade quando sua humanidade visível se ocultou de nós.

-- Dos Sermões de São Leão Magno, papa (século V)

As duas vidas

A Igreja conhece duas vidas, que lhe foram anunciadas por Deus; uma é vivida na fé; outra na visão. Uma no tempo da caminhada; outra, na mansão eterna. Uma, no trabalho; outra, no descanso. Uma, no exílio; outra, na pátria. Uma, no esforço da caridade; outra no prêmio da contemplação.

A primeira é representada pelo apóstolo Pedro; a segunda, pelo apóstolo João. Pedro, o primeiro apóstolo, recebeu as chaves do reino dos céus, com o poder de ligar e desligar os pecados, para que fosse timoneiro de todos os santos, unidos inseparavelmente ao corpo de Cristo, em meio às tempestades desta vida. E João, o evangelista, reclinou a cabeça sobre o peito de Cristo, para exemplo dos mesmos santos, a fim de lhes indicar o porto seguro daquela vida divinamente tranquila e feliz.

Todavia, não é somente Pedro, mas a Igreja universal, que liga e desliga os pecados. E não é só João que bebe da fonte do coração do Senhor, para ensinar com sua pregação que, no princípio, a Palavra era Deus junto de Deus, e outros ensinamentos profundos a respeito da divindade de Cristo, da Trindade e da Unidade de Deus. No reino dos céus, estas verdades serão por nós contempladas face a face, mas na terra nos limitamos a vê-las como num espelho e obscuramente, até que o Senhor venha. Não foi somente ele que descobriu estes tesouros do coração de Cristo, mas a todos foi aberta pelo mesmo Senhor a fonte do evangelho, a fim de que por toda a face da terra todos bebessem dele, cada um segundo sua capacidade.

-- Dos Tratados sobre o Evangelho de João, de Santo Agostinho, bispo (século V)

13 de mai. de 2010

Ascensão de Cristo

Hoje nosso Senhor Jesus Cristo subiu aos céus; suba também com ele nosso coração. Ouçamos as palavras do Apóstolo: Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres (Cl 3,1-2). E assim como ele subiu sem se afastar de nós, também nós subimos com ele, embora não se tenha ainda realizado em nosso corpo o que está prometido.

O Senhor Jesus Cristo não deixou o céu quando de lá desceu até nós; também não se afastou de nós quando subiu novamente ao céu. Ele mesmo afirma que se encontrava no céu quando vivia na terra, ao dizer: Ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu (Jo 3,13).

Desceu do céu por sua misericórdia e ninguém mais subiu senão ele; mas nele, pela graça, também nós subimos. Portanto, ninguém mais desceu senão Cristo e ninguém mais subiu além de Cristo.

-- trechos Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo (Século V)

12 de mai. de 2010

Os dias entre a ressurreição e a ascensão do Senhor

Durante todo esse tempo, caríssimos filhos, passado entre a ressurreição e a ascensão do Senhor, a providência de Deus esforçou-se por ensinar e insinuar não apenas aos olhos, mas também aos corações dos seus que a ressurreição do Senhor Jesus era tão real como seu nascimento, paixão e morte.

Os santos apóstolos e todos os discípulos ficaram muito pertubados com a tragédia da cruz e hesitavam em acreditar na ressurreição. De tal modo eles foram fortalecidos pela evidência da verdade que, quando o Senhor subiu aos céus, não experimentaram tristeza alguma, mas, pelo contrário, encheram-se de grande alegria.

Na verdade, era grande e indizível o motivo de sua alegria: diante daquela santa multidão, contemplavam a natureza humana que subia a uma dignidade superior à de todas as criaturas celestes, ultrapassando até mesmo as hierarquias dos anjos e a altura sublime dos arcanjos. Deste modo, foi recebida junto do Eterno Pai, que a associou ao trono da sua glória, depois de tê-la unido na pessoa do Filho à sua própria natureza divina.

-- Dos Sermões de São Leão Magno, papa (século V)

11 de mai. de 2010

Renovação pelo Batismo

Os homens são concebidos duas vezes: uma corporalmente, a outra pelo Divino Espírito Santo. Acerca de um e outro nascimento, escreveram muito bem os autores sagrados. João diz: A todos que o receberam, deu-lhes a capacidade de se tornarem filhos de Deus, isto é, aos que acreditam no seu nome, pois estes não nasceram da vontade da carne nem da vontade do homem, mas de Deus mesmo (Jo 1,12-13).

Todos os que acreditaram em Cristo, afirma ele, receberam a capacidade de se tornarem filhos de Deus, quer dizer, do Espírito Santo, e participantes da natureza divina. E para ficar bem claro que o Deus que gera é o Espírito Santo, acrescenta estas palavras de Cristo: Em verdade, em verdade, te digo, se alguém não nasce da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus (Jo 3,5).

Como um vaso de barro, o homem precisa primeiro ser purificado pela água; em seguida, fortalecido e aperfeiçoado pelo fogo espiritual. Deus, com efeito, é um fogo devorador. Precisamos do Espírito Santo para nossa perfeição e renovação. Pois o fogo espiritual sabe também regar, e a água batismal é também capaz de queimar como o fogo.

-- Do Tratado sobre a Trindade, de Didimo de Alexandria (século IV)

8 de mai. de 2010

Aleluia Pascal

Podemos considerar duas fases da nossa existência: a primeira, que acontece agora em meio às tentações e dificuldades da vida presente; e a segunda, que virá depois na segurança e alegria eterna. Por isso, foram instituídas para nós duas celebrações: a do tempo antes da Páscoa e a do tempo depois da Páscoa.

O tempo antes da Páscoa representa as tribulações que passamos nesta vida. O que celebramos agora, depois da Páscoa, significa a felicidade que alcançamos na vida futura. Portanto, antes da Páscoa celebramos o que estamos vivendo; depois da Páscoa celebramos o que ainda não possuímos. Eis porque passamos o primeiro tempo em jejuns e orações; no segundo, porém, que estamos celebrando, deixamos os jejuns, nos dedicamos ao louvor de Deus.

É este o significado do Aleluia que cantamos. Agora, pois, irmãos, vos exortamos a louvar a Deus A ressurreição e glorificação do Senhor nos revelam a vida que um dia nos será dada. É isto o que todos nós exprimimos mutuamente quando cantamos: Aleluia. Louvai o Senhor com todas as vossas forças, não só com a língua e a voz, mas também com a vossa consciência, vossa vida, vossas ações.

-- adaptado Dos Comentários sobre os salmos, de Santo Agostinho, bispo (século V).

7 de mai. de 2010

Batismo e o Corpo de Cristo

Pelo Espírito Santo, Jesus nasceu da Virgem Maria; pelo mesmo Espírito, nós também renascemos na fonte batismal como filhos de Deus e membros do corpo de Cristo. E assim como ele nasceu livre de todo pecado, também nós renascemos pela remissão de nossos pecados.

Assim como na cruz ele tomou sobre seu corpo de carne os pecados de todos nós (que formamos seu corpo espiritual), do mesmo modo, pela graça da regeneração, concedeu ao seu corpo espiritual que não lhe fosse atribuído nenhum pecado, como está escrito: Feliz o homem a quem o Senhor não acusa de pecado (Sl 31,2). Este homem feliz é, sem a menor dúvida, Cristo: enquanto cabeça do Cristo místico é Deus e perdoa os pecados; enquanto cabeça do corpo, é o filho do homem, nada tendo que se lhe perdoar.

Ele é justo em si mesmo e justifica-se a si mesmo. Ele próprio é Redentor e redimido. Tomou sobre seu corpo, na cruz, os pecados daquele corpo que ele purifica por meio da água do batismo, e continua salvando pela cruz e pela água. Ele é o Cordeiro de Deus que tira, que carrega o pecado do mundo (Jo 1,29). Ele é Deus que, oferecendo-se a si mesmo, reconciliou-se consigo próprio, com o Pai e com o Espírito Santo.

-- adaptado Dos Sermões do Bem-aventurado Isaac, abade do mosteiro de Stella (século XII)

6 de mai. de 2010

A Eucaristia - corpo e sangue

Um só morreu por todos. É ele mesmo que em todas as igrejas do mundo, pelo mistério do pão e do vinho nos alimenta, vivifica e santifica. Esta é a carne e este é o sangue do Cordeiro. O pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo (Jo 6,51). Também o seu sangue está expresso sob a espécie do vinho. Jesus mesmo afirma: Eu sou a videira verdadeira (Jo 15,1), manifestando com toda clareza que é seu sangue todo vinho oferecido como sacramento da paixão. O grande patriarca Jacó já profetizara acerca de Cristo, ao dizer: Lavará no vinho a sua túnica e no sangue da uva o seu manto (Gn 49,11).

O Criador e Senhor da natureza, que produz o pão da terra, também transforma o pão no seu próprio Corpo (porque pode fazê-lo e assim havia prometido). Do mesmo modo, aquele que transformou a água em vinho, transforma o vinho no seu sangue.

O que recebes é o corpo daquele pão do céu, e o sangue é daquela videira sagrada. Porque, ao dar o pão e vinho consagrados a seus discípulos, disse-lhes: Isto é o meu corpo. Isto é o meu sangue (Mt 26, 26.28). Acreditemos portanto, naquele em quem pusemos nossa confiança: a Verdade não sabe mentir.

-- Dos Tratados de São Gaudêncio de Bréscia, bispo (Século IV)

5 de mai. de 2010

Os cristãos no mundo

Os cristãos não se diferenciam dos outros homems nem pela pátria, nem pela língua, nem por um gênero de vida especial. De fato, não moram em cidades próprias, nem usam linguagem peculiar, e sua vida nada tem de extraordinário. A sua doutrina não procede da imaginação fantasista de espíritos exaltados, nem se apóia em qualquer teoria simplesmente humana, como tantas outras.

Moram em cidades gregas ou bárbaras, conforme as cinrcunstâncias de cada pessoa; seguem os costumes da terra, quer no modo de vestir, quer nos alimentos que tomam, quer nos outros usos. Habitam em suas pátrias, mas como de passagem; têm tudo em comum como os outros cidadãos, mas tudo suportam como se não tivessem pátria. Todo país estrangeiro é sua pátria e toda pátria é para eles terra estrangeira.

Os cristãos são no mundo o que a alma é no corpo. A alma está em todos os membros do corpo; e os cristãos em todas as cidades do mundo. A alma habita no corpo, mas não provém do corpo; os cristãos estão no mundo, mas não são do mundo. A alma invisível é guardada num corpo invisível; todos vêem os cristãos, pois habitam no mundo, contudo, sua piedade é invisível. A alma imortal habita numa tenda mortal; os cristãos vivem como peregrinos em moradas corruptíveis. A alma aperfeiçoa-se com a mortificação na comida e bebida; os cristãos, constantemente mortificados, vêem seu número crescer dia a dia.

-- adaptado Da Carta a Diogneto (século II). Aqui, para o texto completo em espanhol

4 de mai. de 2010

Eu sou a videira, vós os ramos

Querendo mostrar a necessidade de estarmos unidos a Deus pelo amor, o Senhor afirma que é a videira. Os ramos são os que já se tornaram participantes da sua natureza pela comunicação do Espírito Santo. De fato, é o Espírito de Cristo que nos une a ele.

A adesão a esta videira nasce da boa vontade; a união da videira conosco procede do seu afeto e natureza. Foi pela boa vontade que nos aproximamos de Cristo, mediante a fé; mas participamos da sua antureza por termos recebido dele a dignidade da adoção filial. Pois, segundo São Paulo, quem adere ao Senhor torna-se com ele um só espírito (1 Cor 6, 17).

Assim como a raiz faz chegar aos ramos a sua seiva natural, também o Filho de Deus concede aos homens, sobretudo aos que lhe estão unidos pela fé, o seu Espírito. Ele os conduz à santidade perfeita, alimenta-os na piedade e dá-lhes a sabedoria de toda virtude e bondade.

-- do Comentário sobre o Evangelho de São João, de São Cirilo de Alexandria, bispo (século V)

3 de mai. de 2010

A nova criação

Apareceu um novo nascimento, uma nova vida, um novo modo de viver; a própria natureza foi transformada. Que nascimento é este? É o daqueles que não nasceram do sangue nem da vontade da carne nem da vontade do homem, mas de Deus mesmo (Jo 1,13).

Tu perguntas: como isto pode acontecer? Escuta-me, vou te explicar em poucas palavras. Este novo ser é concebido pela fé; é dado à luz pela regeneração do batismo; tem por mãe a Igreja que o amamenta com sua doutrina e tradições. Seu alimento é o pão celeste; sua idade adulta é a santidade; seu matrimônio é a familiaridade com a sabedoria; seus filhos são a esperança; sua casa é o reino; sua herança e riqueza são as delicias do paraíso; seu fim não é a morte, mas aquela vida feliz e eterna que está preparada para o que dela são dignos.

-- dos Sermões de São Gregório de Nissa, bispo (século IV)

Igreja - Corpo Espiritual

Sendo muitos, nós formamos um só corpo e somos membros uns dos outros; e é Cristo quem nos une pelo vínculo da caridade. Convém, portanto, que tenhamos os mesmos sentimentos uns para com os outros; se um membro sofre, todos sofrem com ele; se um membro é honrado, os demais se alegram com ele.

Acolhei-vos uns aos outros, como Cristo também vos acolheu, para a Glória de Deus (Rm 15, 7). Para pôr em prática este acolhimento recíproco, devemos ter os mesmos sentimentos, carregando os fardos uns dos outros e guardando a unidade do espírito pelo vínculo da paz (Ef 4, 3). Foi assim que Deus também nos acolheu em Cristo. Falou a verdade quem disse: Deus amou tanto o mundo, que deu seu Filho Unigênito (Jo 3,16). Efetivamente o mundo inteiro foi salvo pela misericórdia de Deus.

-- adaptado da Carta aos Romanos, de São Cirilo de Alexandria, bispo (século V).

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