29 de jul. de 2021

Felizes os que mereceram receber a Cristo em sua casa

 


As palavras de nosso Senhor Jesus Cristo nos advertem que, em meio à multiplicidade das ocupações deste mundo, devemos aspirar a um único fim. Aspiramos porque estamos a caminho e não em morada permanente; ainda em viagem e não na pátria definitiva; ainda no tempo do desejo e não na posse plena. Mas devemos aspirar, sem preguiça e sem desânimo, a fim de podermos um dia chegar ao fim.

Marta e Maria eram irmãs, não apenas irmãs de sangue, mas também pelos sentimentos religiosos. Ambas estavam unidas ao Senhor; ambas, em perfeita harmonia, serviam ao Senhor corporalmente presente. Marta o recebeu como costumam ser recebidos os peregrinos. No entanto, era a serva que recebia o seu Senhor; uma doente que acolhia o Salvador; uma criatura que hospedava o Criador. Recebeu o Senhor para lhe dar o alimento corporal, ela que precisava do alimento espiritual. O Senhor quis tomar a forma de servo e, nesta condição, ser alimentado pelos servos, por condescendência, não por necessidade. Também foi por condescendência que se apresentou para ser alimentado. Pois tinha assumido um corpo que lhe fazia sentir fome e sede.

Portanto, o Senhor foi recebido como hóspede, ele que veio para o que era seu, e os seus não o acolheram. Mas, a todos que o receberam, deu-lhes capacidade de se tornarem filhos de Deus (Jo 1,11-12). Adotou os servos e os fez irmãos; remiu os cativos e os fez co-herdeiros. Que ninguém dentre vós ouse dizer: Felizes os que mereceram receber a Cristo em sua casa! Não te entristeças, não te lamentes por teres nascido num tempo em que já não podes ver o Senhor corporalmente. Ele não te privou desta honra, pois afirmou: Todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes (Mt 25,40).

Aliás, Marta, permite-me dizer-te: Bendita sejas pelo teu bom serviço! Buscas o descanso como recompensa pelo teu trabalho. Agora estás ocupada com muitos serviços, queres alimentar os corpos que são mortais, embora sejam de pessoas santas. Mas, quando chegares à outra pátria, acaso encontrarás peregrinos para hospedar? encontrarás um faminto para repartires com ele o pão? um sedento para dares de beber? um doente para visitar? um desunido para reconciliar? um morto para sepultar? Lá não haverá nada disso. Então o que haverá? O que Maria escolheu: lá seremos alimentados, não alimentaremos. Lá se cumprirá com perfeição e em plenitude o que Maria escolheu aqui: daquela mesa farta, ela recolhia as migalhas da palavra do Senhor. Queres realmente saber o que há de acontecer lá? É o próprio Senhor quem diz a respeito de seus servos: Em verdade eu vos digo: ele mesmo vai fazê-los sentar-se à mesa e, passando, os servirá (Lc 12,37).

 -- Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo (século V)

-- A Memória de Santa Marta é celebrada em 29 de Julho 

19 de jul. de 2021

Ladainha do Amor

Senhor, tende misericórdia de nós,

Cristo, tende misericórdia de nós,

Senhor, tende misericórdia de nós,

Jesus, nos escute,

Jesus nos escute com todo Teu Amor,

Deus Pai dos céus, tende misericórdia de nós,

Deus Filho, Salvador do mundo, tende misericórdia de nós,

Deus Espírito Santo, tende misericórdia de nós,

Santíssima Trindade, Deus uno, tende misericórdia de nós


Jesus, meu amado,

Jesus, minha força,

Jesus, luz da minha mente,

Jesus, força da minha vontade,

Jesus, vida da minha vida,

Jesus, vida da minha alma,

Jesus, alma da minha vida,

Jesus, alma da minha alma.


Jesus, meu deleite infinito,

Jesus, minha bem-aventurança arrebatadora,

Jesus, minha infinita alegria,

Jesus, verdadeira paz da minha alma,

Jesus, meu ser,

Jesus, meu céu,

Jesus, meu magnífico amor,

Jesus, meu repouso eterno,

Jesus, meu desejo,

Jesus, meu esposo crucificado,

Jesus, meu Rei,

Jesus, meu Deus.


Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo; assim como era no princípio, agora e sempre, pelos séculos dos séculos. Amém!

 

-- Esta ladainha foi escrita pela Beata Miriam Teresa Demjanovich, século XX

17 de jul. de 2021

São Frederico de Utrecht

Frederico nasceu em torno do ano de 780 na Frísia, norte da atual Holanda, seus pais eram da família real, seu avô Radbod havia reinado até 719. O Cristianismo ainda era recente na região, foi introduzido com o auxílio do rei Aldegisel, provável bisavô de Frederico, em 678. Em 770 a Frísia passou a ser controlada pelo Imperador Carlos Magno, que apoiava a Igreja Católica. Próximo ao final do seu reinado indicou o Duque Godfrid Haraldsson para governar sobre a Frísia, o que ele fez de 1810 até 839.

Frederico foi educado pelos padres de Utrecht, incluindo o Bispo Ricfried. Desde criança acostumou-se a prestar atenção nas homílias da Missa e depois repeti-las em casa para a família. Ele escolheu o presbiterato, ao invés de casar com alguma princesa para manter a sua família na corte. Após ser ordenado, o Bispo Ricfried pediu que cuidasse da conversão daqueles que ainda praticavam o politeísmo na região. Muito dedicado, Frederico viajava pela diocese pregando a palavra de Deus e tentando converter os pagãos.

Quando o bispo morreu, em torno de 825, foi escolhido como o novo Bispo de Utrecht. Ele atribuiu a tarefa de conversão dos pagãos ao futuro Santo Odulfo e apoiou-lhe na fundação do monastério de Stavoren. O apostolado na região era perigoso, pois os pagãos eram violentamente contrários a Igreja. Frederico, no entanto, continuou a realizar visitas regulares, mesmo sobre risco de vida. 

Também acabou involvido nas questões da família real, especialmente nos problemas do Imperador Luis, sua esposa Judite e filhos. Como bispo, não autorizou casamentos incestuosos ou com não-católicos, o que atrapalhou os planos de alianças políticas dos governantes. Além disso, criticou publicamente a Imperatriz Judite, que era famosa por viver uma vida dissoluta, sendo infiel ao seu marido. 

Em 18 de Julho de 838, logo após celebrar a Missa na Catedral, foi esfaqueado e morto por dois homens, ainda dentro da igreja. Percebendo que estava mortalmente ferido, perdou seus assassinos, pediu ao povo que se convertesse e morreu recitando o Salmo 144: "Dia a dia vos bendirei, e louvarei o vosso nome eternamente". Nunca foi esclarecido se os assassinos haviam sido enviados pelos pagãos ou pela Imperatriz Judite. 

Após seu martírio, São Frederico de Utrecht foi canonizado, sua festa é celebrada em 18 de Julho. Hoje é considerado um dos santos padroeiros dos surdos, junto com São Francisco de Sales. Na arte, é representado carregando a palma do martírio, as vezes com dois punhais, uma referência a maneira como morreu.  

Oração:

Que possamos, como São Frederico de Ultrecht, ser um conhecedor das Sagradas Escrituras e ter a coragem de defender e propagar os valores cristãos das famílias e nas famílias, sem medo de proclamar os valores do Reino de Deus e testemunhar com a vida que cremos na Santíssima Trindade, ou seja, em um Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo. Amém!

-- autoria própria


3 de jul. de 2021

O que é a fé?

 Queridos irmãos e irmãs,

Hoje gostaria de meditar convosco sobre uma questão fundamental: o que é a fé? Ainda tem sentido a fé, num mundo em que ciência e técnica abriram horizontes até há pouco tempo impensáveis? O que significa crer hoje? Com efeito, no nosso tempo é necessária uma renovada educação para a fé, que inclua sem dúvida um conhecimento das suas verdades e dos acontecimentos da salvação, mas sobretudo que nasça de um encontro verdadeiro com Deus em Jesus Cristo, do amá-lo, do ter confiança nele, de modo que a vida inteira seja envolvida por Ele.

Hoje, juntamente com tantos sinais de bem, aumenta ao nosso redor um certo deserto espiritual. Às vezes tem-se como que a sensação, a partir de certos acontecimentos dos quais recebemos notícias todos os dias, que o mundo não caminha rumo à construção de uma comunidade mais fraterna e mais pacífica; as próprias ideias de progresso e de bem-estar mostram também as suas sombras. Não obstante a grandeza das descobertas da ciência e dos êxitos da técnica, hoje o homem não parece ter-se tornado verdadeiramente mais livre, mais humano; subsistem muitas formas de exploração, de manipulação, de violência, de prepotência, de injustiça... Além disso, um certo tipo de cultura educou a mover-se só no horizonte das coisas, do realizável, a acreditar unicamente naquilo que se vê e se toca com as próprias mãos. Mas por outro lado, aumenta também o número daqueles que se sentem desorientados e, na tentativa de ir além de uma visão apenas horizontal da realidade, estão dispostos a crer em tudo e no seu contrário. Neste contexto sobressaem algumas interrogações fundamentais, que são muito mais concretas do que parecem à primeira vista: que sentido tem viver? Há um futuro para o homem, para nós e para as novas gerações? Para que rumo orientar as opções da nossa liberdade, para um êxito bom e feliz da vida? O que nos espera além do limiar da morte?

Destas interrogações insuprimíveis sobressai que o mundo da planificação, do cálculo exato e da experimentação, em síntese o saber da ciência, embora seja importante para a vida do homem, sozinho não é suficiente. Temos necessidade não só do pão material, mas precisamos de amor, de significado e de esperança, de um fundamento seguro, de um terreno sólido que nos ajude a viver com um sentido autêntico também na crise, nas obscuridades, nas dificuldades e nos problemas quotidianos. A fé oferece-nos precisamente isto: é um entregar-se confiante a um "Tu", que é Deus, o qual me confere uma certeza diversa, mas não menos sólida do que aquela que me deriva do cálculo exato ou da ciência. A fé não é simples assentimento intelectual do homem a verdades particulares sobre Deus; é um gesto mediante o qual me confio livremente a um Deus que é Pai e que me ama; é adesão a um "Tu" que me dá esperança e confiança. Sem dúvida, esta adesão a Deus não está isenta de conteúdos: com ela estamos conscientes de que o próprio Deus nos é indicado em Cristo, mostrou o seu rosto e fez-se realmente próximo de cada um de nós. Aliás, Deus revelou que o seu amor pelo homem, por cada um de nós, é incomensurável: na Cruz, Jesus de Nazaré, o Filho de Deus que se fez homem, mostra-nos do modo mais luminoso até que ponto chega este amor, até ao dom de si mesmo, até ao sacrifício total. Com o mistério da Morte e Ressurreição de Cristo, Deus desce até ao fundo na nossa humanidade, para lha restituir, para a elevar à sua altura. A fé é crer neste amor de Deus que não diminui diante da maldade do homem, perante o mal e a morte, mas é capaz de transformar todas as formas de escravidão, oferecendo a possibilidade da salvação. Então, ter fé é encontrar este "Tu", Deus, que me sustém e me faz a promessa de um amor indestrutível, que não só aspira à eternidade, mas também a concede; é confiar-me a Deus com a atitude da criança, a qual sabe bem que todas as suas dificuldades, todos os seus problemas estão salvaguardados no "tu" da mãe. E esta possibilidade de salvação através da fé é um dom que Deus oferece a todos os homens. Penso que deveríamos meditar mais frequentemente — na nossa vida quotidiana, caracterizada por problemas e situações por vezes dramáticas — sobre o fato de que crer cristãmente significa este abandonar-se com confiança ao sentido profundo que me sustém, a mim e ao mundo, àquele sentido que não somos capazes de nos darmos a nós mesmos, mas só de receber como dádiva, e que é o fundamento sobre o qual podemos viver sem temor. Temos que ser capazes de anunciar com a palavra e de mostrar com a nossa vida cristã esta certeza libertadora e tranquilizadora da fé.

Contudo, ao nosso redor vemos todos os dias que muitos permanecem indiferentes, ou rejeitam aceitar este anúncio. No final do Evangelho de Marcos, hoje temos palavras duras do Ressuscitado, que diz: "Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado" (Mc 16, 16), perder-se-á a si mesmo. Gostaria de vos convidar a meditar sobre isto. A confiança na ação do Espírito Santo deve impelir-nos sempre a ir e anunciar o Evangelho, ao testemunho corajoso da fé; mas para além da possibilidade de uma resposta positiva ao dom da fé há inclusive o risco da rejeição do Evangelho, do não-acolhimento do encontro vital com Cristo. JáSsanto Agostinho apresentava este problema num seu comentário à parábola do semeador: "Nós falamos — dizia — lançamos a semente, espalhamos a semente. Há aqueles que desprezam, aqueles que repreendem, aqueles que zombam. Se os tememos, não teremos mais nada para semear, e no dia da ceifa permaneceremos sem colheita. Por isso, venha a semente da terra boa" (Discursos sobre a disciplina cristã, 13, 14: pl 40, 677-678). Portanto, a rejeição não nos pode desencorajar. Como cristãos, somos testemunhas deste terreno fértil: apesar dos nossos limites, a nossa fé demonstra que existe a terra boa, onde a semente da Palavra de Deus produz frutos abundantes de justiça, de paz e de amor, de uma nova humanidade, de salvação. E toda a história da Igreja, com todos os problemas, demonstra também que existe a terra boa, que existe a semente boa, e dá fruto.

Mas perguntemo-nos: de onde haure o homem aquela abertura do coração e da mente, para acreditar no Deus que se tornou visível em Jesus Cristo, morto e ressuscitado, para acolher a sua salvação, de tal modo que Ele e o seu Evangelho sejam guia e luz da existência? Resposta: nós podemos crer em Deus, porque Ele se aproxima de nós e nos toca, porque o Espírito Santo, dom do Ressuscitado, nos torna capazes de acolher o Deus vivo. Então, a fé é antes de tudo uma dádiva sobrenatural, um dom de Deus. O Concílio Vaticano II afirma: "Para prestar esta adesão da fé, são necessários a prévia e concomitante ajuda da graça divina e os interiores auxílios do Espírito Santo, o qual move e converte a Deus o coração, abre os olhos do entendimento, e dá “a todos a suavidade em aceitar e crer na verdade” " (Constituição dogmática Dei Verbum, 5). Na base do nosso caminho de fé está o Batismo, o sacramento que nos confere o Espírito Santo, tornando-nos filhos de Deus em Cristo, e marca a entrada na comunidade da fé, na Igreja: não cremos por nós mesmos, sem a prevenção da graça do Espírito; e não cremos sozinhos, mas juntamente com os irmãos. Do Batismo em diante, cada crente é chamado a reviver e fazer sua esta profissão de fé, com os irmãos.

A fé é dom de Deus, mas é também ato profundamente livre e humano. O Catecismo da Igreja Católica afirma-o claramente: "O ato de fé só é possível pela graça e pelos auxílios interiores do Espírito Santo. Mas não é menos verdade que crer é um ato autenticamente humano. Não é contrário nem à liberdade nem à inteligência do homem" (n. 154). Aliás, envolve-as e exalta-as, numa aposta de vida que é como que um êxodo, ou seja um sair de nós mesmos, das nossas seguranças, dos nossos esquemas mentais, para nos confiarmos à ação de Deus que nos indica o seu caminho para alcançar a liberdade verdadeira, a nossa identidade humana, a alegria do coração, a paz com todos. Crer é confiar-se com toda a liberdade e com alegria ao desígnio providencial de Deus sobre a história, como fez o patriarca Abraão, como fez Maria de Nazaré. Então, a fé é um assentimento com que a nossa mente e o nosso coração dizem o seu "sim" a Deus, professando que Jesus é o Senhor. E este "sim" transforma a vida, abre-lhe o caminho rumo a uma plenitude de significado, tornando-a assim nova, rica de júbilo e de esperança confiável.

Caros amigos, o nosso tempo exige cristãos que tenham sido arrebatados por Cristo, que cresçam na fé graças à familiaridade com a Sagrada Escritura e com os Sacramentos. Pessoas que sejam quase um livro aberto que narra a experiência da vida nova no Espírito, a presença daquele Deus que nos sustém no caminho e nos abre para a vida que nunca mais terá fim. Obrigado!

-- Papa Bento XVI, catequese na audiência geral de 24 de Outubro de 2012

 

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