30 de mar. de 2016

Cristo, autor da ressurreição e da vida

Lembrando a felicidade da salvação recuperada, Paulo exclama: assim como por Adão entrou a morte neste mundo, da mesma forma por Cristo foi restituída a salvação ao mundo. (cf. Rm 5,12). E ainda: O primeiro homem, tirado da terra, é terrestre; o segundo homem, que vem do céu, é celeste (1Cor 15,47).
E prossegue, dizendo: Como já refletimos a imagem do homem terreno, isto é, envelhecido pelo pecado, assim também refletimos a imagem do celeste (1Cor 15,49), ou seja, conservaremos a salvação do homem recuperado, redimido, renovado e purificado em Cristo. Segundo o mesmo Apóstolo, Cristo é o princípio, quer dizer, é o autor da ressurreição e da vida; em seguida, vêm os que são de Cristo, isto é, os que vivendo na imitação da sua santidade, podem considerar-se sempre seguros na esperança da sua ressurreição e receber com ele a glória da promessa celeste. É o próprio Senhor quem afirma no Evangelho: Quem me segue não perecerá, mas passará da morte para a vida (cf. Jo 5,24). 
Deste modo, a paixão do Salvador é a salvação da vida humana. Precisamente para isso ele quis morrer por nós, a fim de que, acreditando nele, vivamos para sempre. Ele quis, por algum tempo, tornar-se o que somos, para que, alcançando a sua promessa de eternidade, vivamos com ele para sempre. 
É esta a imensa graça dos mistérios celestes, é este o dom da Páscoa, é esta a grande festa anual tão esperada, é este o princípio da nova criação. 

Nesta solenidade, os novos filhos que são gerados nas águas vivificantes da santa Igreja, com a simplicidade de crianças recém-nascidas, fazem ouvir o balbuciar da sua consciência inocente. Nesta solenidade, os pais e mães cristãos obtêm, por meio da fé, uma nova e inumerável descendência. 
Nesta solenidade, à sombra da árvore da fé, brilha o esplendor dos círios com o fulgor que irradia da pura fonte batismal. Nesta solenidade, desce do céu o dom da graça que santifica os recém-nascidos e o sacramento espiritual do admirável mistério que os alimenta. 
Nesta solenidade, a assembleia dos fiéis, alimentada no regaço materno da santa Igreja, formando um só povo e uma só família, adorando a Unidade da natureza divina e o nome da Trindade, canta com o Profeta o salmo da grande festa anual: Este é o dia que o Senhor fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos (Sl 117,24).
Mas, pergunto, que dia é este? Precisamente, aquele que nos trouxe o princípio da vida, a origem e o autor da luz, o próprio Senhor Jesus Cristo que de si mesmo afirma: Eu sou a luz. Se alguém caminha de dia, não tropeça (Jo 8,12; 11,9), quer dizer, aquele que em todas as coisas segue a Cristo, chegará, seguindo os seus passos, ao trono da eterna luz. Assim pedia ele ao Pai em nosso favor, quando ainda vivia em seu corpo mortal, ao dizer: Pai, quero que onde eu estou, aí estejam também os que acreditaram em mim; para que assim como tu estás em mim e eu em ti, assim também eles estejam em nós (cf. Jo 17,20s). 

-- Da Homilia pascal de um Autor antigo 

27 de mar. de 2016

A beleza salvará o mundo

"A beleza salvará o mundo". Kiko Arguello, iniciador do Caminho Neocatemunal, cita esta frase muitas vezes em suas catequeses. Como artista é certo que o conceito de beleza lhe interessava, e, em algum momento, deve ter se deparado com esta frase. Mesmo após ouvi-la muitas vezes no Caminho, sempre pensei sobre seu significado, afinal, num pensamento simplista, a salvação é Jesus Cristo, não a beleza. Então, o que está por trás desta frase?
Dostoiévski (1821-1881)

Para começar, vamos às origens da frase. Ela é do escritor russo Dostoievski, no livro O idiota; é uma fala do personagem principal, Princípe Myskin, um nobre russo que sofre de epilepsia, atormentado pela doença, mas ainda capaz de ver além das aparências.  Do seu sofrimento, ele afirma que a beleza salvará o mundo, não a riqueza ou a ciência.

1. A beleza da criação pode conduzir a Deus

A frase é muito conhecida, apenas para citar um exemplo atual, na homília desta Sexta-Feira Santa (2016), Frei Cantalamessa, o pregador do Vaticano, a utilizou para falar de Jesus Cristo. Para ele, a salvação é a misericórdia de Deus que resgata a humanidade do sofrimento.

O Papa Bento XVI, em um encontro com artistas (21/Nov/2009), comentou:  A expressão de Dostoievsky que estou para citar é sem dúvida ousada e paradoxal, mas convida a refletir: "A humanidade pode viver – diz ele – sem a ciência, pode viver sem pão, mas unicamente sem a beleza já não poderia viver, porque nada mais haveria para fazer no mundo. Qualquer segredo consiste nisto, toda a história consiste nisto". Faz-lhe eco o pintor Georges Braque: "A arte existe para perturbar, enquanto a ciência tranquiliza". A beleza chama a atenção, mas precisamente assim recorda ao homem o seu destino último, volta a pô-lo em marcha, enche-o de nova esperança, dá-lhe a coragem de viver até ao fim o dom único da existência.  

Então temos a afirmação que o ser humano precisa da beleza para ordenar o mundo, até mesmo acima do alimento. Viver sem beleza é viver sem esperança, uma espécie de não-vida. É a beleza que dá esperança, faz o o homem viver. 

Nesta afirmação Dostoiévski e o Papa Bento XVI não estão sozinhos. Também São Basílio Magno afirmou que "Por sua natureza, o homem deseja a beleza, e a deseja imensamente. Platão disse que a beleza é o esplendor da verdade" (Veritatis Splendor). Jesus Cristo completa: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Se a beleza salvará o mundo, Jesus Cristo, o Verbo incarnado, será sua face visível". Santo Agostinho, no livro As Confissões, referindo-se a Cristo, escreveu: "Tarde te amei, beleza tão antiga e tão nova".     

Ainda mais surpreendente é reler o primeiro capítulo do livro do Gênesis, quando a criação é relatada. A cada passo, repete-se que Deus viu que a criação era boa, e Ele pode proceder para o passo (dia) seguinte. Pois bem, a palavra hebraica empregada nos originais poderia ser muito bem traduzida por "belo"; a cada momento da criação, Deus via que estava criando formas belas. E sim, contemplando a natureza, a vastidão do mar, as montanhas, os rios, o ser humano é capaz de compreender que uma força superior à humanidade o criou, e que o mundo é belo.

2.  A beleza não estaria em Jesus Cristo

A imagem mais conhecida de Cristo é na Cruz, torturado e morrendo, coberto de sangue. Certamente não é uma imagem bela, quem assistiu ao filme a Paixão de Cristo deve recordar bem da aparência nada inspiradora de Cristo.

Mesmo na Bíblia, o profeta Isaías assim se refere ao Messias: As multidões ficaram pasmadas diante dele, pois ele não tinha mais figura humana e sua aparência não era mais de homem (Is 52, 14). E também: não tinha beleza nem esplendor que pudesse atrair o nosso olhar, nem formusura capaz de nos deleitar. Era desprezado e abandonado pelos homens (Is 53, 2b-3a).
O corpo de Cristo morto na tumba, de Hans Holbein (1521)

Também recorrendo a Dostoiésvki, na Encíclica Lumen Fidei, o Papa Francisco afirmou: Na sua obra O Idiota, Dostoiévski faz o protagonista — o príncipe Myskin — dizer, à vista do quadro de Cristo morto no sepulcro, pintado por Hans Holbein: "Aquele quadro poderia mesmo fazer perder a fé a alguém"; de fato, o quadro representa, de forma muito crua, os efeitos destruidores da morte no corpo de Cristo. E todavia é precisamente na contemplação da morte de Jesus que a fé se reforça e recebe uma luz fulgurante, é quando ela se revela como fé no seu amor inabalável por nós, que é capaz de penetrar na morte para nos salvar. Neste amor que não se subtraiu à morte para manifestar quanto me ama, é possível crer; a sua totalidade vence toda e qualquer suspeita e permite confiar-nos plenamente a Cristo.

Mas se a beleza salvará o mundo e Cristo não era belo, pode-se concluir que Cristo não salvará o mundo! Mas a afirmação claríssima dos Evangelhos, dos santos e de toda Igreja é que Cristo é a Salvação. E é óbvio que aqui não se afirmará nada diferente.

3. A beleza de Cristo, salvação do mundo

No dia da Ressurreição, dois discípulos estavam a caminho de Emaús. Segundo São Lucas, "o próprio Jesus aproximou-se e pos-se a caminhar com eles; seus olhos, porém, estavam impedidos de reconhecê-los" (Lc 24, 15). Apenas muito tempo depois, quando Cristo abençoou o pão, seus "olhos se abriram e o reconheceram; ele porém ficou invisível diante deles" (Lc24, 31). Como discípulos que haviam convivido anos com Ele por anos não o reconheceram?

Na aparição aos discípulos, exceto Tomé, também parece haver uma dúvida sobre quem se tratava. O Evangelho de São João (Jo 20, 19-20) narra que "Jesus veio e, pondo-se no meio deles, lhes disse: "A paz esteja convosco!" Tendo dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado, Os discípulos então ficaram cheios de alegria por verem o Senhor." Ou seja, os discípulos se alegram não no momento da saudação inicial, como se nem mesmo a voz tivessem reconhecido. Foi preciso mostrar mãos e lado onde a lança penetrou para que vissem ser mesmo Cristo. Só então se alegraram. 

Por que esta dificuldade em reconhecer a Cristo? Segundo a Bíblia de Jerusalém, a razão disso é que permanecendo inteiramente idêntico a si mesmo, o corpo do Ressuscitado encontra-se num estado novo, que modifica sua forma exterior e o liberta das aparências deste mundo. 

Aparição de Cristo para Maria Madalena após a Ressurreição, pintado por
Alexander Ivanov (1835) 
Em 1Cor 15,44, afirma-se: Semeado corpo natural, ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo espiritual. São Paulo explica que o corpo natural, terrestre, será revestido de um novo corpo, o corpo espiritual. Os mortos surgiram renovados, em um corpo coberto pela glória. É este corpo renovado, espiritual, que os discípulos tem dificuldade de reconhecer. 

Do corpo glorioso de Jesus Cristo Ressuscitado não há repulsa; pelo contrário, com sua visão os discípulos se alegram, como se alegra quem contempla a beleza. O corpo renovado de Cristo ainda pode ter as marcas de seu sofrimento, mas já é sinal da vitória sobre a morte. Após testemunhar Cristo Ressuscitado que os apóstolos partem a anunciá-lo, que podem ousar dizer: ó morte onde está tua vitória, onde está teu aguilhão? 

O corpo ressuscitado e glorioso é a beleza que traz a salvação, Cristo não terminou na cruz, mas subiu aos céus e está sentado a direita de Deus Pai. Como disse o Papa Bento XVI, é esta beleza que recorda ao homem o seu destino final e o enche-o de esperança. Cristo é a beleza a ser amada, Ele é a face visível da vida eterna.

No Cântico dos Cânticos, a amada Igreja assim descreve se refere a Cristo: Como és belo, meu amado, e que doçura! (Ct 1,16); por ti, estou doente de amor (Ct 2,5b); sua cabeça é ouro puro, uma copa de palmeira seus cabelos, negros como o corvo. Seus olhos são pombas à beira de águas correntes: banham-se no leite e repousam na margem. Suas faces são canteiros de bálsamo, colinas perfumadas; seus lábios são lírios com mirra, que flui e se derrama. Seus braços são torneados em ouro, incrustado com pedras preciosas. Seu ventre é blobo de marfim cravejado com safiras. Suas pernas, colunas de mármore firmados em bases de ouro puro. Seu aspecto é o do Líbano altaneiro, como um cedro. Sua boca é muito doce... Ele todo é uma delícia! (Ct 5,10-16). 

É a beleza deste Cristo Ressuscitado, corpo glorioso, que a Igreja deve anunciar, tanto esteticamente quanto através da palavra, é o Cristo que venceu a morte que deve ser destacado, Toda liturgia, cantos, arquitetura e estética de uma igreja deve colocar a Salvação do mundo no centro, as leituras, homília e catequeses devem sempre falar do mistério pascal, da beleza de Cristo Ressuscitado que nos traz a salvação.

-- autoria própria, na Páscoa de 2016

25 de mar. de 2016

O poder do sangue de Cristo

Queres conhecer o poder do sangue de Cristo? Voltemos às figuras que o profetizaram e recordemos a narrativa do Antigo Testamento: Imolai, disse Moisés, um cordeiro de um ano e marcai as portas com o seu sangue (cf. Ex 12,6-7). Que dizes, Moisés? O sangue de um cordeiro tem poder para libertar o homem dotado de razão? É claro que não, responde ele, não porque é sangue, mas por ser figura do sangue do Senhor. Se agora o inimigo, ao invés do sangue simbólico aspergido nas portas, vir brilhar nos lábios dos fiéis, portas do templo dedicado a Cristo, o sangue verdadeiro, fugirá ainda mais para longe.

Queres compreender mais profundamente o poder deste sangue? Repara de onde começou a correr e de que fonte brotou. Começou a brotar da própria cruz, e a sua origem foi o lado do Senhor. Estando Jesus já morto e ainda pregado na cruz, diz o evangelista, um soldado aproximou-se, feriu-lhe o lado com uma lança, e imediatamente saiu água e sangue: a água, como símbolo do batismo; o sangue, como símbolo da eucaristia. O soldado, traspassando-lhe o lado, abriu uma brecha na parede do templo santo, e eu, encontrando um enorme tesouro, alegro-me por ter achado riquezas extraordinárias. Assim aconteceu com este cordeiro. Os judeus mataram um cordeiro e eu recebi o fruto do sacrifício.

De seu lado saiu sangue e água (Jo 19,34). Não quero, querido ouvinte, que trates com superficialidade o segredo de tão grande mistério. Falta-me ainda explicar-te outro significado místico e profundo. Disse que esta água e este sangue são símbolos do batismo e da eucaristia. Foi destes sacramentos que nasceu a santa Igreja, pelo banho da regeneração e pela renovação no Espírito Santo, isto é, pelo batismo e pela eucaristia que brotaram do lado de Cristo. Pois Cristo formou a Igreja de seu lado traspassado, assim como do lado de Adão foi formada Eva, sua esposa.

Por esta razão, a Sagrada Escritura, falando do primeiro homem, usa a expressão osso dos meus ossos e carne da minha carne (Gn 2,23), que São Paulo refere, aludindo ao lado de Cristo. Pois assim como Deus formou a mulher do lado do homem, também Cristo, de seu lado, nos deu a água e o sangue para que surgisse a Igreja. E assim como Deus abriu o lado de Adão enquanto ele dormia, também Cristo nos deu a água e o sangue durante o sono de sua morte.

Vede como Cristo se uniu à sua esposa, vede com que alimento nos sacia. Do mesmo alimento nos faz nascer e nos nutre. Assim como a mulher, impulsionada pelo amor natural, alimenta com o próprio leite e o próprio sangue o filho que deu à luz, também Cristo alimenta sempre com o seu sangue aqueles a quem deu novo nascimento.

-- Das catequeses de São João Crisóstomo (século IV)

17 de mar. de 2016

Autobiografia de São Patrício

São Patrício (386-461) foi um missionário cristão, é um dos santos padroeiros da Irlanda, juntamente com anta Brígida de Kildare e São Columba. Quando tinha dezesseis anos foi capturado e vendido como escravo para a Irlanda, de onde escapou e retornou à casa de sua família seis anos mais tarde. Iniciou então sua vida religiosa e retornou para a ilha de onde tinha fugido para pregar o Evangelho. Converteu centenas de pessoas, muitas delas se tornaram monges. 

Para explicar como a Santíssima Trindade era três e um ao mesmo tempo utilizava o trevo de três folhas e por isso o mesmo tem papel importante na cultura Irlandesa. É bastane cultuado na Irlanda e Estados Unidos. A catedral de Nova Iorque leva seu nome. 

Tem-se conhecimento de duas cartas escritas por ele. A primeira chama-se Confissões, e é como uma autobiografia. Para facilitar, esta dividida em cinco partes:

8 de mar. de 2016

Deus tem um amor especial aos jovens

Persuadidos, queridos filhos, de que todos nós fomos criados para o Paraíso, devemos encaminhar as nossas ações para este grande fim. A isso deve animar-nos o prêmio que Deus nos promete e o castigo com que nos ameaça, mas o que mais que tudo nos deve atrair ao seu amor e serviço é o grande amor que Deus nos dedica. 

Embora ame todos os homens como obra de suas mãos, consagra todavia  particular afeto aos jovens, encontrandoo neles suas delícias. Jovens, foi o amor de Deus que vos criou. Ele vos ama porque ainda tendes tempo para praticar muitas obras boas; ama-vos porque estais ainda na idade da simplicidade, humildade e inocência, e em geral não chegastes a ser presa infeliz do inimigo infernal. 

Provas de especial benevolência para com as crianças e jovens deu-as também o nosso Salvador. Assegura que considera como feito a si mesmo tudo o que se fizer em benefício deles. 

Ameaça terrivelmente os que vos dão escândalos com palavras ou ações. Eis aqui as suas palavras: Se alguém escandalizar a algum destes pequenos que crêem em mim, melhor seria que lhe pusessem ao pescoço uma mó de moinho e o lançassem no mais profundo do mar. Gostava de que os pequenos O seguissem, chamava-os para junto de si, abraçava-os e lhes dava sua santa bênção. 

Uma vez que o Senhor tanto vos ama na idade em que vos achais, como não deve ser firme o vosso propósito de corresponder a ele, procurando fazer tudo o que for de seu agrado, e evitando tudo o que poderia causar-lhe desgosto?

-- São João Bosco, presbítero (século XIX)

*segunda parte de um manual para os jovens escrito por Dom Bosco


5 de mar. de 2016

Conhecer a Deus

Erguei os olhos, queridos filhos, e contemplai tudo quanto existe no céu e na terra. Tempo houve em que o sol, a lua, as estrelas, o ar, a água, o fogo não existiam. Com a sua onipotência Deus os tirou do nada e criou, e por esse motivo se chama Criador. 

Este Deus, que sempre existiu e sempre há de existir, depois de ter criado tudo o que há no céu e na terra, deu existência ao homem, a mais perfeita de todas as criaturas visíveis, De modo que os nossos olhos, os pés, a boca, a língua, os ouvidos, as mãos, tudo é dom do Senhor. 

O homem se distingue de todos os outros animais especialmente porque é dotado de urna alma que pensa, raciocina e conhece o que é bem e o que é mal. Sendo puro espírito, a alma não pode morrer com o corpo, mas quando o corpo for levado à sepultura, a alma começará uma nova vida que não terminará jamais. Se for virtuosa, será para sempre bem-aventurada com Deus no paraíso, onde gozará de todos os bens por toda a eternidade; se praticar o mal, será punida com terrível castigo no inferno, onde sofrerá para sempre toda a espécie de suplícios. 

Por isso convencei.vos, queridos filhos, de que todos fostes criados para o Paraíso, e Deus, pai amoroso, experimenta imenso desgosto quando se vê constrangido a condenar alguém ao inferno. Oh! quanto o Senhor vos ama e deseja que pratiqueis boas obras para depois vos tomardes participantes da grande felicidade que Ele preparou para todos eternamente no Céu! 

-- São João Bosco, presbítero (século XIX)

2 de mar. de 2016

Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus

Se me disserem: “Mostra-me o teu Deus”, dir-te-ei: “Mostra-me o homem que és e eu te mostrarei o meu Deus”. Mostra, portanto, como veem os olhos de tua mente e como ouvem os ouvidos de teu coração.
São Teófilo de Antioquia, bispo (Séc.II)

Os que veem com os olhos do corpo, percebem o que se passa nesta vida terrena, e observam as diferenças entre a luz e as trevas, o branco e o preto, o feio e o belo, o disforme e o formoso, o que tem proporções e o que é sem medida, o que tem partes a mais e o que é incompleto; o mesmo se pode dizer no que se refere ao sentido do ouvido: sons agudos, graves ou harmoniosos. Assim também acontece com os ouvidos do coração e com os olhos da alma, no que diz respeito à visão de Deus.

Na verdade, Deus é visível para aqueles que são capazes de vê-lo, porque mantêm abertos os olhos da alma. Todos têm olhos, mas alguns os têm obscurecidos e não veem a luz do sol. E se os cegos não veem, não é porque a luz do sol deixou de brilhar; a si mesmos e a seus olhos é que devem atribuir a falta de visão. É o que ocorre contigo: tens os olhos da alma velados pelos teus pecados e tuas más ações.

O homem deve ter a alma pura, qual um espelho reluzente. Quando o espelho está embaçado, o homem não pode ver nele o seu rosto; assim também, quando há pecado no homem, não lhe é possível ver a Deus.

Mas, se quiseres, podes ficar curado. Confia-te ao médico e ele abrirá os olhos de tua alma e de teu coração. Quem é este médico? É Deus, que pelo seu Verbo e Sabedoria dá vida e saúde a todas as coisas. Foi por seu Verbo e Sabedoria que Deus criou o universo: A Palavra do Senhor criou os céus, e o sopro de seus lábios, as estrelas (Sl 32,6). Sua Sabedoria é infinita. Com a sua Sabedoria, Deus fundou a terra; com a sua inteligência consolidou os céus; com sua ciência foram cavados os abismos e as nuvens derramaram o orvalho.

Se compreenderes tudo isto, ó homem, se a tua vida for santa, pura e justa, poderás ver a Deus. Se deres preferência em teu coração à fé e ao temor de Deus, então compreenderás. Quando te libertares da condição mortal e te revestires da imortalidade, então serás digno de ver a Deus. Sim, Deus ressuscitará o teu corpo, tornando-o imortal como a tua alma; e então, feito imortal, tu verás o que é Imortal, se agora acreditares nele.

-- Do Livro A Autólico, de São Teófilo de Antioquia, bispo (Séc.II)

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