29 de jul. de 2010

A Igreja Católica

Igreja "Católica" é o nome próprio desta santa Mãe de todos nós. Instruídos com os preceitos e o modo de viver nesta Santa Igreja Católica, possuiremos o reino dos céus e receberemos por herança a vida eterna. Por este motivo, agüentamos absolutamente tudo para a alcançarmos de Deus. Nossa meta proposta não é nada insignificante: a posse da vida eterna, esta é a nossa luta. Por isso, na profissão de fé, após termos dito: Na ressurreição da carne, isto é, dos mortos, já explicada, aprendamos a crer: E na vida eterna, que é a nossa batalha de cristãos.

-- Das catequeses de São Cirilo de Jerusálem, bispo (século IV)

28 de jul. de 2010

Igreja ou convocação do povo de Deus

Católica ou universal chama-se a Igreja, porque se espalhou de um extremo a outro de todo o orbe da terra. Igreja, isto é, convocação*: nome bem apropriado porque convoca a todos e os reúne, como o Senhor diz no Levítico: Convoca toda a congregação diante da porta do tabernáculo do testemunho. É de notar a palavra convocar, usada aqui pela primeira vez nas Escrituras, na ocasião em que o Senhor estabeleceu Aarão como sumo sacerdote. No Deuteronômio Deus diz a Moisés: convoca para junto de mim o povo para que me escutem e aprendam a temer-me. Há outra menção da Eclésia (= convocação), quando se fala das tábuas da Lei: Nelas estavam escritas todas as palavras que o Senhor vos falou no monte, do meio do fogo, no dia da Eclésia, isto é, convocação; como se dissesse mais claramente: No dia em que, chamados pelo Senhor, vos congregastes. O Salmista também diz: Eu te confessarei, Senhor, na grande "Eclésia", no meio do povo numeroso te louvarei.

-- Das Catequeses de São Cirilo de Jerusálem , bispo (século IV)

* A palavra Eclesia significa assembléia, assembléia do povo. Assim, a Igreja é a assembléia do povo. Também é utilizada em outro contexto, por exemplo, na democracia grega havia uma "eclesia" para discutir as questões de governo. O autor sabia também que nesta palavra está contido o termo grego "clesis", que quer dizer convocação.

27 de jul. de 2010

Semeai para vós mesmos na justiça

Imita a terra, ó homem! À semelhança dela produze fruto, não te reveles inferior a uma coisa inanimada. Ela nutre frutos não para seu consumo, mas para teu serviço. Tu, no entanto, todo fruto de beneficência que produzisses, colherias para ti mesmo, porque o prêmio das boas obras reverteria a ti. Como o trigo que cai na terra redunda em lucro para o semeador, assim o pão dado ao faminto, grande proveito te trará no futuro. Seja, portanto, o final de tua lavoura o início da sementeira celeste: Semeai para vós mesmos na justiça (Os 10,12). Mesmo contra a vontade, terás de deixar aqui teu dinheiro. Pelo contrário, enviarás ao Senhor a glória conseguida pelas boas obras. Ali, na presença do Juiz de todos, o povo em peso te proclamará o provedor, o generoso doador e te cobrirá com todos os nomes significantes de bondade e de benignidade.
Glória eterna, coroa de justiça, reino dos céus, tudo isto premia as coisas corruptíveis que bem usaste. Nada te cause cuidado daqueles bens, objeto da esperança, pelo pouco caso dado às coisas temporais. Ânimo, então, e reparte de diversos modos as riquezas, sendo liberal e magnânimo nos gastos com os indigentes. De ti dirão: Distribuiu, deu aos pobres; sua justiça permanecerá para sempre (Sl 112, 9).Não te alegras, não te regozijas por não teres que ir bater à porta dos outros, mas que eles venham à tua? Agora, no entanto, és rabugento, com dificuldade consegue alguém te falar: evitas encontros; não aconteça teres de abrir mão nem que seja um pouquinho. Conheces só uma frase: “Não tenho nem dou; também sou pobre”. És pobre na verdade, indigente de todo bem: pobre de amor, pobre de bondade, pobre de fé em Deus, pobre de esperança eterna.

--Das Homílias de São Basílio Magno, bispo (século IV)

26 de jul. de 2010

A misericórdia divina e a humana

Bem aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia (Mt 5,7). É suave a palavra misericórdia, meus irmãos. E se a palavra assim é, o que não será a realidade? Apesar de todos a desejarem, não agem de modo a merecer recebê-la, o que é mau. De fato, todos querem receber a misericórdia, mas poucos querem dá-la.

Que espécie de gente somos nós que, quando Deus dá, queremos receber, quando ele pede, nós nos recusamos a dar? Se um pobre tem fome, Cristo sofre necessidade, conforme disse: Tive fome e não me destes de comer (Mt 25, 35b). Por conseguinte, não desprezes a miséria dos pobres, se queres esperar confiante o perdão dos pecados. Agora Cristo passa fome, irmãos. Em todos os pobres ele se digna ter fome e sede. Mas aquilo que recebe na terra, paga-o no céu.

Pergunto-vos, irmãos, que quereis ou que buscais quando vindes à Igreja? Não é a misericórdia? Dai, então, a misericórdia terrestre e recebereis a celeste. O pobre pede a ti e tu pedes a Deus. O pobre pede um pedaço de pão; tu, a vida eterna. Dá ao mendigo o que merecerás receber de Cristo. Escuta o que ele diz: Dai e vos será dado (Lc 6, 38a). Não sei com que coragem queres receber aquilo que não queres dar. Por isto, vindo à Igreja, daí esmolas aos pobres, segundo vossas posses.

-- Dos Sermões de São Cesário de Arles, bispo (século VI)

24 de jul. de 2010

Nosso coração se dilatou

Nosso coração se dilatou. Aquilo que produz calor costuma dilatar. Assim, é próprio da caridade dilatar, pois é uma virtude cálida e fervente. Ela abria também a boca de Paulo e lhe dilatava o coração. "Não amo só de boca, diz ele; meu coração, em verdade, harmonizava-se com o amor; por isso falo confiante, com toda voz e toda a mente". Nada mais amplo que o coração de Paulo que, à semelhança de um enamorado, abraçava a todos os fiéis com intenso amor, sem dividir e enfraquecer a amizade, mas conservando-a indivisa.

Paulo não disse: "Vós não me amais", e sim: "Não do mesmo modo". De fato, não queria atormentá-los com maior severidade. Vê a censura temperada com não maior indulgência. Isto é bem de quem ama.

-- Das Homílias sobre a Segunda Carta aos Coríntios, de São João Crisóstomo, bispo (século IV)

23 de jul. de 2010

Cristo morreu por todos

Com muita razão, minha grande esperança está em Deus, porque curará todas as minhas fraquezas, por aquele que se assentaa sua direita e intercede por nós, Jesus Cristo. De outro modos desesperaria, pois são muitas e grandes as minhas fraquezas. São muitas e enormes.

Porém muito maior é teu remédio. Poderíamos ter pensado que teu Verbo estava longe de unir-se aos homens e entregarmo-nos ao desespero, se ele não se tivesse feito carne e habitado entre nós. Apavarado com meus pecados e com o peso da minha miséria, eu revolvia no espírito e pensava em fugir para o deserto. Mas me impediste e me fortaleceste, dizendo-me: Para isto Cristo morreu por todos, para os que vivem não mais vivam para si, mas para aquele que por eles morreu (2 Cor 5, 15).

Agora, Senhor, lanço em ti meus cuidados para viver e considerarei as maravilhas de tua lei (Sl 119, 18).Tu conheces minha ignorância e fragilidade: ensinai-me, cura-me. O teu Único Filho me remiu por seu sangue. Nele estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência (Cl 2, 3). Como, bebo, distribuo e, pobre, desejo saturar-me dele entre aqueles que dele comem e são saciados. Com efeito, louvarão o Senhor aqueles que o procuram (Sl 21, 27).

-- Adaptado dos Livros das Confissões, de Santo Agostinho, bispo (século V)

22 de jul. de 2010

Maria Madalena

Maria Madalena, tendo ido ao sepulcro, não encontrou o corpo do Senhor. Julgando que fora roubado, foi avisar aos discípulos. Estes vieram também ao sepulcro, viram e acreditaram no que a mulher lhes dissera. Sobre eles está escrito logo em seguida: Os discípulos voltaram então para casa (Jo 20,10). E depois acrescenta-se: Entretanto, Maria estava do lado de fora do túmulo, chorando (Jo 20,11).

Este fato leva-nos a considerar quão forte era o amor que inflamava o espírito dessa mulher, que não se afastava do túmulo do Senhor, mesmo depois de os discípulos terem ido embora. Procurava a quem não encontrara, chorava enquanto buscava e, abrasada no fogo do seu amor, sentia a ardente saudade daquele que julgava ter sido roubado. Por isso, só ela o viu então, porque só ela o ficou procurando. Na verdade, a eficácia das boas obras está na perseverança, como afirma também a voz da Verdade: Quem perseverar até o fim, esse será salvo (Mt 10,22).

Ela começou a procurar e não encontrou nada; continuou a procurar, e conseguiu encontrar. Os desejos foram aumentando com a espera, e fizeram com que chegasse a encontrar. Pois os desejos santos crescem com a demora; mas se diminuem com o adiamento, não são desejos autênticos. Quem experimentou este amor ardente, pôde alcançar a verdade. Por isso afirmou Davi: Minha alma tem sede de Deus, e deseja o Deus vivo. Quando terei a alegria de ver a face de Deus? (Sl 41,3). Também a Igreja diz no Cântico dos Cânticos: Estou ferida de amor (Ct 5,8). E ainda: Minha alma desfalece (cf.Ct 5,6).

Mulher, por que choras? A quem procuras? (Jo 20,15). É interrogada sobre o motivo de sua dor, para que aumente o seu desejo e, mencionando o nome de quem procurava, se inflame ainda mais o seu amor por ele.

Então Jesus disse: Maria (Jo 20,16). Depois de tê-la tratado pelo nome comum de mulher sem que ela o tenha reconhecido, chama-a pelo próprio nome. Foi como se lhe dissesse abertamente: Reconhece aquele por quem és reconhecida. Não é entre outros, de maneira geral, que te conheço, mas especialmente a ti. Maria, chamada pelo próprio nome, reconhece quem lhe falou; e imediatamente exclama: Rabuni, que quer dizer Mestre (Jo 20,16). Era ele a quem Maria Madalena procurava exteriormente; entretanto, era ele que a impelia interiormente a procurá-lo.

-- Das Homílias sobre os Evangelhos, de São Gregório Magno, papa (século VI)

20 de jul. de 2010

Tendes Cristo em vós

Longe de nós a indiferença ante a benignidade de Cristo. Se agisse conosco da maneira como fazemos, estaríamos perdidos. Por isto, feitos seus discípulos, aprendamos a viver de acordo com o cristianismo. Quem se faz chamar por nome diferente, não é de Deus. Rejeitai, pois, o mau fermento, velho e azedo. Mudai-vos com a força do novo fermento, que é Jesus Cristo. Salgai-vos nele para que nenhum de vós se corrompa, porque pelo cheiro seríeis descobertos.

Esforçai-vos por ficar firmes na doutrina do Senhor e dos apóstolos, para que tudo quanto fizerdes tenha bom êxito na carne e no espírito, pela fé e pela caridade, no Filho e no Pai e no Espírito, no princípio e no fim, com vosso digno bispo e a bem entretecida coroa espiritual de vosso presbitério, juntamente com os diáconos, agradáveis a Deus. Sede submissos ao bispo e uns aos outros, como, em sua humanidade, Jesus Cristo ao Pai; e os apóstolos a Cristo e ao Pai e ao Espírito, para que a união seja corporal e espiritual.

-- Da Carta aos Magnésios, de Santo Inácio de Antioquia, bispo e mártir (século I)

16 de jul. de 2010

Sobre a Eucaristia

Coisa admirável o ter Deus feito chover o maná para sustentar com o alimento celeste o povo no deserto. Por isso se disse: O homem comeu o pão dos anjos (Sl 78, 25). No entanto, aqueles que comeram deste pão, todos eles morreram no deserto. Porém, o alimento que recebeste, pão vivo que desceu do céu (JO 6, 35), comunica a substância da vida eterna e quem quer que dele comer não morrerá eternamente, pois é o corpo de Cristo.

Considera agora qual deles é de maior valor: o pão dos anjos ou a carne de Cristo, que é o corpo da vida. Aquele maná vem do céu; este acima do céu. Aquele, do céu; este, do Senhor dos céus. Aquele é corruptível, se guardado para o dia seguinte; este é totalmente imune à corrupção e quem o tomar piedosamente não poderá experimentar a corrupção. Para aqueles brotou a água da pedra; para ti, o sangue de Cristo. Aqueles, por um momento, a água saciou; a ti o sangue de Cristo refresca para sempre. O povo antigo bebe e tem sede; tu, ao beberes, não podes mais sentir sede, pois, de fato, aquilo era sombra, enquanto isto é realidade.

-- Do Tratado sobre os Mistérios, de Santo Ambrósio, bispo (século IV)

15 de jul. de 2010

A Vida de São Camilo

Começarei pela santa caridade, raiz de todas as virtudes e dom familiar a Camilo mais que qualquer outro. Ele vivia sempre imflamado pelo fogo desta santa virtude, não só para Deus, mas também para com o próximo, especialmente os doentes. Bastava vê-los para que se enchesse de ternura e se comovesse no mais íntimo do coração, a tal ponto que esquecia completametne todas as delícias, prazeres e afetos terrenos. Quando tratava de algum doente, parecia doar-se com tanto amor e compaixão que, de bom grado, tomaria sobre si toda doença, para aliviar-lhe as dores e curar as enfermidades.

Contemplava nos doentes, com tão sentida emoção, a pessoa de Cristo que, muitas vezes, quando lhes dava de comer, pensando serem outros cristos, chegava a pedir-lhes a graça e o perdão dos pecados. Mantinha-se diante deles com tanto respeito, como se estivesse realmente na presença do Senhor. De nada falava com mais frequencia e com mais fervor do que da santa caridade. O seu desejo era imprimi-la no coração de todos os homens.

Para incutir em seus irmãos religiosos esta santa virtude, costumava recordar-lhes aquelas dulcíssimas palavras de Jesus Cristo: Eu estava doente e cuidaste de mim (Mt 25,36). Parecia que ele tinha estas palavras gravadas em seu coração, tal era a frequencia com que as dizia e repetia.

Camilo era um homem de tão grande caridade, que tinha piedade e compaixão não somente dos doentes e moribundos, mas também, de modo geral, de todos os outros pobres e miseráveis. Seu coração era tão cheio de bondade para com os indigentes, que costumava dizer: "Ainda que não se encontrassem pobres no mundo, os homens deveriam andar a procurá-los e desenterrá-los, para lhe fazerem o bem e praticar a misericórdia para com eles".

-- Da Vida de São Camilo, escrita por um companheiro seu (século XVII)

14 de jul. de 2010

Presença de Cristo na Igreja

Não atentes para o mérito das pessoas, mas para o serviço dos sacerdotes. Ora, como respeitas a Elias, considera também os méritos de Pedro ou de Paulo que nos entregaram este mistério recebido do Senhor Jesus. Para os do Antigo Testamento era enviado o fogo visível a fim de que cressem. Em nós, que cremos, o fogo opera invisível. Para aqueles desceu o Espírito em figura e, para nós, ele se torna realidade. Crê, portanto que, invocado pelas preces dos sacerdotes, aí está presente o Senhor Jesus que disse: Onde quer que estejam dois ou três, aí estou eu (Mt 18, 20) Quanto mais onde está a Igreja, na qual existem os mistérios, ele se dignará a conceder a graça de sua presença.

-- Do Tratados sobre os Mistérios, de Santo Ambrósio, bispo (século IV)

13 de jul. de 2010

Das águas do Batismo

Em Mara a fonte era amarga (Ex 15, 22-27). Nela Moisés mergulhou um lenho e ela se tronou doce. A água, sem a proclamação da cruz do Senhor, não tem utilidade alguma para a futura salvação. Ao ser, porém, consagrada pelo salutar mistério da cruz, é usada no banho espiritual e no cálice da salvação. À semelhança daquela fonte em que Moisés, isto é, o Profeta, pôs o lenho, também nesta fonte o sacerdote proclama a cruz do Senhor e a água se faz doce pela graça.

Ensina-te o trecho do Livro de Reis (2 Rs 5, 1-14): Naaman era sírio, tinha lepra e ninguém podia purificá-lo. Então disse-lhe uma menina escrava que em Israel havia um profeta que poderia curar a lepra. Tomando consigo ouro e prata, Naaman dirigiu-se ao rei de Israel. Conhecendo o rei o motivo de sua vinda, rasgou as vestes em sinal de luto e declarou que este pedido tão além do poder real era antes um pretexto para um ataque contra seu reino. Mas Eliseu mandou dizer ao rei que lhe enviasse o sírio para que lhe fosse dado a conhecer como Deus estava com Israel. Tendo ele chegado, o profeta fez-lhe saber que devia mergulhar sete vezes no Rio Jordão. Naaman começou, então, a pensar que melhores eram as águas em sua pátria, onde muitas vezes mergulhara e nunca ficara limpo da lepra e quis voltar, sem obedecer à ordem do profeta. Mas, diante do conselho insistente dos seus servos, enfim concordou em banhar-se e, limpo no mesmo momento, compreendeu que não era por virtude da água que se tornara purificado, mas pela graça.

-- Do Tratado sobre os MIstérios, de Santo Ambrósio, bispo (século IV)

12 de jul. de 2010

Prefiram a Cristo


Procurando o Senhor o seu operário na multidão do povo ao qual dirige suas palavras, diz: Qual o homem que não ama sua vida, procurando ser feliz todos os dias? (Sl 33, 13) E, se tu, ao ouvires este convite, responderes: Eu, dir-te-á Deus: Se queres possuir a verdadeira e perpétua vida, afasta a tua língua da maldade, e teus lábios de palavras mentirosas. Evita o mal e faze o bem, procura a paz e vai com ela em seu caminho (Sl 33, 14-15). E quando fizeres isto, então meus olhos estarão sobre ti e meus ouvidos atentos às tuas preces; e antes mesmo que me invoques, eu te direi: Eis-me aqui (Is 58, 9).

Que há de mais doce para nós, carísssimos irmãos, do que esta voz do Senhor que nos convida? Vede como o Senhor, na sua bondade, nos mostra o caminho da vida!

-- Da Regra de São Bento, abade (século VI)

-- Aqui, o texto completo da Regra.

9 de jul. de 2010

A caridade

Felizes de nós, diletos, se cumprirmos os preceitos do Senhor na concórdia da caridade, para que pela caridade sejam perdoados nossos pecados. Pois está escrito: Felizes aqueles cujas iniquidades foram perdoadas e cobertos os pecados (Sl 31, 1-2). Homem feliz, a quem o Senhor não acusa de pecado nem há engano em sua boca. Esta felicidade pertence aos eleitos de Deus, mediante Jesus Cristo, Nosso Senhor, a quem a glória pelos séculos dos séculos. Amém.

-- Da Carta aos Coríntios, de São Clemente I, papa (século I)

8 de jul. de 2010

As Portas da Fé

Feliz aquele a cuja porta Cristo bate. Nossa porta é a fé, que quando sólida defende a casa toda. Por esta porta Cristo entra. Daí dizer a Igreja no Cântico: A voz de meu irmão bate à porta. Escuta o que bate, escuta o que deseja  entrar: Abre para mim, minha irmã esposa, minha perfeita, porque tenho a cabeça coberta de orvalho e meus cabelos, das gotas da noite.

Possuímos a porta de nossa alma, possuímos também portais sobre os quais se diz: Levantai, príncipes, vossos portais, erguei-vos, portas eternas, e entrará o Rei da Glória. Se quiseres levantar os portais da tua fé, entrará em ti o Rei da glória, trazendo a vitória de sua paixão. Tem também portas a justiça. Delas lemos o que disse o Senhor Jesus por meio de seu profeta: Abri-me as portas da justiça.

Há quem tenha portas, há quem tenha portais. A essas portas Cristo bate. Abre, então, para ele; quer entrar, quer encontrar vigilante a Esposa.

-- Do Comentário sobre o Salmo 118, Santo Ambrósio, bispo (século IV)

7 de jul. de 2010

Sobre a Canonização de Santa Maria Goretti

 
Todos conhecem o terrível combate que esta virgem teve que travar. Contra ela, levantou-se subitamente uma tremenda e cega tempestade que tentou manchar e violar a candura angélica. Mas, ao ver-se em tão grave situação, ela poderia ter repetido ao divino Redentor as palavras daquele livrinho de ouro, A Imitação de Cristo: "Ainda que eu seja tentada e provada por muitas tribulações, não temerei mal algum; contanto que a vossa graça esteja comigo. Ela é minha força; ela me aconselha e ajuda. É mais poderosa do que todos os inimigos".  Por isso, protegida pela graça celeste, à qual correspondeu com uma vontade forte e generosa, entregou a sua vida, mas não perdeu a glória da virgindade.

Na vida desta humilde mocinha, que esboçamos com leves traços, pode-se ver um espetáculo não apenas digno do céu, mas digno também de ser admirado e respeitado pelas pessoas do nosso tempo. Aprendam os pais e mães de família como é necessário educar com retidão, santidade e firmeza os filhos que Deus lhes deu e formá-los na obediência aos aos preceitos da religião católica; de tal modo que, se sua virtude for submetida a dura prova, possam superá-la, saindo dela vencedores, sem feridas e sem manchas, íntegros e incontaminados, com a ajuda da graça divina.

Aprenda a alegre infância, aprenda a ardorosa juventude a não cair tristemente nos volúveis e vazios prazeres da paixão, a não ceder perante as seduções do vício; mas, pelo contrário, a lutar com entusiasmo, mesmo em situações difíceis e espinhosas, para alcançar aquela perfeição cristã de bons costumes. Todos nós podemos atingir de certo modo tal perfeição, com a força de vontade, ajudada pela graça divina, por meio do esforço, do trabalho e da oração.

De fato, nem todos somos chamados a sofrer martírio; mas todos somos chamados a praticar virtudes cristãs. A virtude, porém, requer energia; mesmo sem atingir as alturas da fortaleza desta angélica menina, nem por isso obriga menos a um cuidado contínuo e muito atento, que deve ser sempre mantido por nós até o fim da vida. Por isso, semelhante esforço bem pode ser considerado um martírio lento e constante. A isto nos convidam as palavras de Jesus Cristo: O reino dos céus sofre violência e são os violentos que o conquistam (Mt 11,12).

Esforcemo-nos todos por alcançar este objetivo, confiados na graça de céu. Sirva-nos de estímulo a santa virgem e mártir Maria Goretti. Que ela, da mansão celeste, onde goza da felicidade eterna, interceda por nós junto ao divino Redentor, a fim de que todos, nas condições de vida que são as nossas, sigamos os seus gloriosos passos com generosidade, vontade firme e obras de virtude.

-- Da Homilia pronunciada durante a canonização de Santa Maria Goretti por Pio XII, papa (século XX)

6 de jul. de 2010

A unidade da Igreja

Irmãos, exortamos-vos insistentemente à caridade, não apenas entre vós, mas também em relação aos que estão de fora, quer sejam os ainda pagãos e descrentes, quer se tenham separado de nós, e de modo que, professando conosco a Cabeça, separaram-se do corpo. Sintamos pesar por eles, porque continuam sendo nossos irmãos. Quer queiram, quer não queiram, são nossos irmãos. De fato, só deixariam de ser nossos irmãos se deixassem de dizer: Pai Nosso.

Portanto, nós vos suplicamos por Cristo, nosso Senhor. Com efeito, é agora a ocasião de termos para com eles grande caridade, muita misericórdia, rogando a Deus por eles. Assim, pela mansidão de Cristo, nós suplicamos em favor dos nossos irmãos que frequentam nossos sacramentos, embora não conosco, mas os mesmos. Eles respondem um só Amém, embora não conosco, mas o mesmo. Portanto, derramai diante de Deus por eles o âmago de vossa caridade.

-- Dos Comentários sobre os Salmos, de Santo Agostinho, bispo (século V)

5 de jul. de 2010

Das divisões na Igreja

Está escrito: Uni-vos aos santos, porque os que deles se aproximam serão santificados. E ainda em outro lugar: Com o inocente serás inocente, com o eleito serás eleito e com o perverso usarás de astúcia. Por isso nos unimos aos inocentes e justos; eles são eleitos de Deus. Por que há entre vós lutas, cóleras, dissenssões, divisões e guerras? Porventura não temos um só Deus, um só Cristo e um só Espírito da graça derramado sobre nós e não há uma só vocação em Cristo? Por que arrancamos e despedaçamos os membros de Cristo e nos revoltamos contra nosso próprio corpo e chegamos à loucura de esquecer que somos membros uns dos outros?

Lembrai-vos das palavras de nosso Senhor Jesus: Ai daquele homem! Melhor lhe fora não ter nascido do que escandalizar a um dos meus eleitos; melhor lhe fora ser amarrado à mó de moinho e afogado no mar do que perverter um só de meus escolhidos. Vossa divisão perverte a muitos, lança a muitos no desânimo, a muitos na hesitação, a todos nós na tristeza, causa-nos aflição, e ainda persiste vossa sedição!

Vamos depressa acabar com isso! Vamos nos ajoelhar aos pés do Senhor e implorar com lágrimas e súplicas que ele nos seja proprício e se reconcilie conosco, fazendo-nos voltar ao nosso antigo modo de viver, tão belo, casto, conforme o amor fraterno. Se há um fiel, se há um notável na exposição da doutrina, um sábio no discernimento das palavras, um casto na vida, tanto mais humilde deve ser quanto parece ser maior e procure o que é útil a todos e não o próprio interesse.

-- Da Carta aos Coríntios, de São Clemente I, papa (século I)

3 de jul. de 2010

Tempo de Confissão

O tempo agora é tempo de confissão. Confessa o que cometeste por palavra ou ação, de dia n o tempo ou de noite. Confessa no tempo propícioe recebe no dia da salvação o tesouro celeste. Limpa tua jarra para conter graça mais abundante pois a remissão dos pecados é dada igualmente a todos, mas a comunicação do Espírito Santo é concedida a cada um segundo a fé. Se trabalhares pouco, receberás pouco; se fizeres muito, grande será a recompensa. Corre em teu próprio proveito.

Se tens algo contra outro, perdoa. Tu te aproximas para receber o perdão dos pecados; é necessário perdoar a quem te ofendeu.

-- Das Catequeses de São Cirilo, bispo de Jerusalém (século IV)

1 de jul. de 2010

A Fonte de Água Viva

Que o Pai seja dito fonte, encontramos em Jeremias: Afastaram-me a Mim, fonte de água viva, e cavaram para si cisternas rachadas que não podem reter as águas (Jr 2, 13). Sobre o Filho, lemos em certo lugar: Abandonaram a fonte da sabedoria (Bar 3, 12). E sobre o Espírito Santo: Quem beber da água que eu lhe der, dele brotará uma fonte de água que jorra para a vida eterna (Jo 4, 13-14), que logo o Evangelista explica tratar-se do Espírito Santo nesta palavra do Salvador. Prova-se assim claramente que as três fontes da Igreja são o mistério da Trindade.

A esta trindade aspira o fiel, aspira o batizado que diz: Minha alma tem sede de Deus, fonte viva (Sl 42,2). Não quer ver a Deus apenas de leve, mas como todo ardor, todo abrasado em sede. Com efeito, antes do Batismo, os cristãos falavam entre si e diziam: Quando irei e me apresentarei diante da face de Deus? (Sl 42,3) Agora obtiveram o que pediam: vieram e ficaram diante da face de Deus, apresentaram-se ante o altar, perante o mistério da Salvador.

Admitidos no Corpo de Cristo e renascidos na fonte da vida, proclamam com confiança: Entrarei no lugar do admirável tabernáculo, até a casa de Deus (Sl 42, 5a). A casa de Deus é a Igreja, é ela o admirável tabernáculo, nele mora a voz da exaltação e do louvor, o ruído dos convivas (Sl 42, 5b).

-- da Homília aos neófitos sobre o Salmo 41 (42), de São Jerônimo, presbítero (século V)

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