30 de nov. de 2018

Encontramos o Messias

Santo André, o primeiro a ser chamado por Cristo.
Foi ele que disse ao irmão Pedro: Encontramos
ao Messias.
André, tendo permanecido com Jesus e aprendido com ele muitas coisas, não escondeu o tesouro só para si mas correu depressa à procura de seu irmão, para fazê-lo participar da sua descoberta. Repara o que lhe disse: Encontramos o Messias (que quer dizer Cristo) (Jo 1,41). Vede como logo revela o que aprendera em pouco tempo! Demonstra assim o valor do Mestre que o persuadira, bem como a aplicação e o zelo daqueles que, desde o princípio, já estavam atentos. Esta expressão, com efeito, é de quem deseja intensamente a sua vinda, espera aquele que deveria vir do céu, exulta de alegria quando ele se manifestou, e se apresa em comunicar aos outros a grande notícia.

Repara também a docilidade e a prontidão de espírito de Pedro. Acorre imediatamente. E conduziu-o a Jesus (Jo 1,42), afirma o Evangelho. Mas ninguém condene a facilidade com que, não sem muita reflexão, aceitou a notícia. É provável que o irmão lhe tenha falado pormenorizadamente mais coisas. Na verdade, os evangelistas sempre narram muitas coisas resumidamente, por razões de brevidade. Aliás, não afirma que acreditou logo, mas: E conduziu-o a Jesus (Jo 1,42), e a ele o confiou para que aprendesse com Jesus todas as coisas.Estava ali, também, outro discípulo que viera com os mesmos sentimentos.

Se João Batista, quando afirma: Eis o Cordeiro e batiza no Espírito Santo (cf. Jo 1,29.33), deixou mais clara, sobre esta questão, a doutrina que seria dada pelo Cristo, muito mais fez André. Pois, não se julgando capaz de explicar tudo, conduziu o irmão à própria fonte da luz, tão contente e pressuroso, que não duvidou sequer um momento.

-- Das Homilias sobre o Evangelho de João, de São João Crisóstomo, bispo (século IV)

22 de nov. de 2018

Santo Oscar Romero

Oscar Romero nasceu em 15 de Agosto de 1917, em El Salvador, tinha cinco irmãos e duas irmãs. Frequentou a escola pública até a terceira série, depois começou a aprender carpintaria com seu pai, que planejava que esta seria sua futura profissão. Mas aos treze anos, pediu para entrar no Seminário Menor onde poderia completar seus estudos. Depois foi admitido no Seminário Nacional e enviado para a Universidade Gregoriana em Roma, onde estava quando iniciou a II Guerra Mundial. 
Santo Oscar Romero, no Vaticano em 1942.

Foi ordenado em 4 de Abril de 1942,e permaneceu na cidade estudando Teologia. Em 1943 foi chamado de volta a seu país, mas devido a guerra, esta era uma viagem difícil e perigosa. Em Cuba, que apoiava os aliados, foi detido pelo governo que desconfiava dele por que vinha da Itália. Permaneceu em campos de internamento por meses, até que meses depois padres redentoristas conseguiram sua passagem até o México. Dali seguiu de ônibus para seu país, sem dúvida um longo caminho.

Por vinte anos serviu como pároco em São Miguel, onde promovia a devoção a Nossa Senhora da Paz e ajudou na construção da catedral. Em 1965 pediu um afastamento temporário de suas atividades, pois estava estressado. Depois de um retiro e um tempo de descanso, retomou sua rotina e foi nomeado secretário da Conferência dos Bispos de El Salvador em 1966 e editor do jornal arquidiocesano, onde forçou uma linha editorial conservativa, alinhada ao magistério tradicional da Igreja. 

Em 1970 foi apontado Bispo Auxiliar de San Salvador e em 1974 Bispo da Diocese de Santiago de Maria. Finalmente 23 de Fevereiro de 1977 tornou-se Arcebispo de San Salvador, capital do país, e o cargo mais importante da Igreja salvadorenha. Considerado um conservador que combatia a Teologia da Libertação, foi bem aceito pelo governo.

Três semanas depois, o padre jesuita Rutillo Grande, seu amigo pessoal foi assassinado por grupos de extrema-direita. Romero pediu que o governo investigasse, mas o apelo foi inútil. A imprensa, censurada, nada noticiou sobre a morte. Neste período, escolas católicas foram fechadas e outros padres perseguidos. Em 1979 uma junta militar assumiu o governo, o que apenas aumentou a perseguição. Em 2 de Fevereiro de 1980, Arcebispo Romero fez um discurso na Universidade de Louvian, Bélgica:

"Nos últimos três anos, mais de 50 padres foram atacados, ameaçados e caluniados. Seis deles foram mártires, assassinados pela sua fé. Outros foram torturados ou expulsos do país. Irmãs foram perseguidas, a rádio da arquidiocese e escolas católicas ou outras cristãs foram atacadas, intimidadas e, até mesmo, bombardeadas. Várias paróquias foram invadidas.

Se tudo isto tem acontecido com pessoas reconhecidas, representantes da Igreja, podem imaginar o que está acontecendo com os pequenos, os camponeses, catequistas, ministros leigos. Eles tem sido ameaçados, presos, torturados, mortos, centenas ou até milhares deles. 

É importante pensar por que a Igreja tem sido perseguida, a igreja tem sido atacada por estar com os pobres, estar defendendo o povo." 

Embora possa parecer que apoiava a Teologia da Libertação, continuou falando contra ela: "A libertação de Cristo e de sua Igreja não pode ser reduzida a um projeto puramente temporal, seus objetivos não são puramente voltados para o bem-estar material das pessoas, ou iniciativas de ordem popular, social ou política. Uma Teologia não pode justificar ou apoiar a violência". Em uma homília em 1979, afirmou: "Dividir a Igreja em duas, uma dos ricos, outra dos pobres é uma forma de demagogia que eu nunca aceitarei. Há somente uma Igreja, uma Igreja de Cristo, uma Igreja que adora a deus vivo e que sabe relativizar os bens materiais." 

Sua vida pessoal era baseada na ascese, mortificação e penitência. O carisma da Opus Dei lhe influenciou profudamente, seu diretor espiritual era um padre justamente da Opus Dei. Como bispo, entendia que sua missão era ser "um só coração com a Igreja", uma frase tirada dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola.  
Oscar Romero, obra de Puig Reixach (2013)

Em 1979-80, manteve um programa dominical na Rádio da Arquidiocese que basicamente transmitia suas homílias. Mas foi nestes programas que começou a denunciar desaparecimentos, torturas e assassinatos de católicos. O programa era a maior audiência do país, 73% na zona rural, 37% nas cidades. Para a maioria da população era a única forma de saber o que realmente estava acontecendo no país. Em 23 de Março de 1980, ele pediu que os soldados católicos parassem de obedecer a ordens deste tipo, pois eram contrárias aos ensinamentos de Cristo. O dia seguinte passou num retiro para padres, promovido pela Opus Dei, e dali saiu para rezar a missa na capela do Hospital da Divina Providência. Durante a celebração, homens entraram na capela, atiraram no arcebispo e fugiram em um carro. Seus assassinos nunca foram presos e o funeral transformou-se numa manifestação contra o governo, o que resultou em mais repressão. 

Em 2014, o Papa Francisco declarou que o Arcebispo Oscar Romero havia morrido como mártir, enquanto celebrava a Santa Missa, e sua morte era fruto de uma perseguição contra a Igreja. Isto permitiu a sua beatificação, pois mártires podem ser beatificadossem a necessidade de milagres que confirmem seu estado. Em 2018 um milagre de cura foi reconhecido e atribuído ao Beato, que foi canonizado em 14 de Outubro de 2018.

-- autoria própria

21 de nov. de 2018

Maria acreditou em virtude da fé, também pela fé concebeu

Prestai atenção, rogo-vos, naquilo que Cristo Senhor diz, estendendo a mão para seus discípulos: Eis minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de meu Pai que me enviou, este é meu irmão, irmã e mãe (Mt 12,49-50). Acaso a Virgem Maria, que creu pela fé, pela fé concebeu, foi escolhida dentre os homens para que dela nos nascesse a salvação e que foi criada por Cristo antes que Cristo nela fosse criado, não fez a vontade do Pai? Sim! Ela o fez! Santa Maria fez totalmente a vontade do Pai e por isto mais valeu para ela ser discípula de Cristo do que mãe de Cristo; maior felicidade gozou em ser discípula do que mãe de Cristo. Assim Maria era feliz porque, já antes de dar à luz o Mestre, trazia-o na mente.

Vede se não é assim como digo. O Senhor passava acompanhado pelas turbas, fazendo milagres divinos, quando certa mulher exclamou: Bem-aventurado o seio que te trouxe. Feliz o ventre que te trouxe! (Lc 11,27) O Senhor, para que não se buscasse a felicidade na carne, que respondeu então? Muito mais felizes os que ouvem a palavra de Deus e a guardam (Lc 11,28). Por conseguinte, também aqui é Maria feliz, porque ouviu a palavra de Deus e a guardou. Guardou a verdade na mente mais do que a carne no seio. Verdade, Cristo; carne, Cristo; a verdade-Cristo na mente de Maria; a carne-Cristo no seio de Maria. É maior o que está na mente do que o trazido no seio.

Santa Maria, feliz Maria! Contudo, a Igreja é maior que a Virgem Maria. Por quê? Porque Maria é porção da Igreja, membro santo, membro excelente, membro supereminente, mas membro do corpo total. Se ela pertence ao corpo total, logo é maior o corpo que o membro. A cabeça é o Senhor; e o Cristo total, é a cabeça e o corpo. Que direi? Temos cabeça divina, temos Deus por cabeça!

Portanto, irmãos, dai atenção a vós mesmos. Também vós sois membros de Cristo, também vós sois corpo de Cristo. Vede de que modo o sois. Diz: Eis minha mãe e meus irmãos (Mt 12,49). Como sereis mãe de Cristo? Todo aquele que ouve e faz a vontade de meu Pai que está nos céus, este é meu irmão e irmã e mãe (cf. Mt 12,50). Pensai: entendo irmão, entendo irmã; é uma só a herança, e é essa a misericórdia de Cristo que, sendo único, não quis ficar sozinho; quis que fôssemos herdeiros do Pai, co-herdeiros seus.

-- Santo Agostinho, bispo (s;eculo V)

17 de nov. de 2018

Os doutores da Igreja

Doutor da Igreja é um título dado pela Igreja Católica a alguns poucos santos reconhecidos pela sua significativa contribuição para a Teologia ou doutrina através de seus escritos. Duas condições são necessárias para se tornar um doutor da Igreja: grande qualidade doutrinária, refletida em escritos que influenciaram a Igreja; e alto grau de santidade na vida pessoal. 

Os quatro doutores da Igreja Ocidental, quadro de Pier Francesco
Sachi. Começando da esquerda, temos Agostinho,
Gregório Magno, Jerônimo e Ambrósio.  
A forma dos escritos pode variar bastante, como as cartas de Santa Catarina de Sena, as poesias de Santa Hildegarde de Bingen, a auto-biografia de Santa Teresinha do Menino Jesuus e os livros de Santo Agostinho. As funções que exerceram na Igreja também são bastante variadas: Santo Éfrem era diácono, Santa Teresa de Ávila era irmã carmelita, São João da Cruz foi monge, São Roberto Belarmino foi bispo, São Leão Magno chegou a ser Papa. 

Formalmente, um decreto da Congregação para Causas dos Santos deve proclamar o santo como doutor da Igreja, o que implicará em alterações na liturgia, como utilizar Mateus 5, 13-19 ("Tu és o sal da terra") como Evangelho do Dia e Eclesiástico 15, 5 ("No meio da assembléia abriste tua boca e Deus a encheu de sabedoria") na Oração da Manhã. Mártires não são proclamados doutores da Igreja, pois seu testemunho é de outra ordem, embora alguns mártires também tenham escritos que foram fundamentais na Igreja, como Santo Inácio de Antioquia, Santo Irineu de Lion e São Cipriano de Cártigo. 

Na Igreja Ocidental, quatro santos eram tradicionalmente reconhecidos como doutores, o que foi formalizado em 1298 alterando a liturgia para explicitamente mencionar o título. Eles eram São Gregório Magno, Santo Ambrósio, Santo Agostinho e São Jerônimo. Distinção semelhante, mas não título, era dada pela Igreja oriental para três outros: São João Crisóstomo, São Basílio Magno e São Gregório Nazianzeno, que foram reconhecidos como doutores pelo Papa Pio V em 1568.

A lista atual de doutores da Igreja é composta por 36 nomes. ao lado de cada nome está data de nascimento e morte, principal função na Igreja e o ano da proclamação do título de doutor:

  1. Santo Ambrósio (340-397), bispo de Milão, proclamado doutor em 1298.
  2. Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona, 1298.
  3. São Jerônimo (347-420), monge, 1298.
  4. São Gregório Magno (540-604), papa, 1298.
  5. São Tomás de Aquino (1225-1274), padre e fundador dos jesuítas, 1567.
  6. Santo Atanásio (298-373), bispo de Alexandria, 1568.
  7. São Gregório Nazianzeno (329-389), arcebispo de Coonstantinopla, 1568.
  8. São João Crisóstomo (347-407), arcebispo de Constantinopla, 1568.
  9. São Basílio Magno (330-379), bispo da Cesaréia, 1568.
  10. São Boaventura (1221-1274), bispo de Albano, 1588.
  11. Santo Anselmo (1033-1109), arcebispo de Canterbury, 1720.
  12. Santo Inácio de Sevilha (560-636), bispo de Sevilha, 1722.
  13. São Pedro Crisólogo (406-450), bispo de Ravena, 1729.
  14. São Leão Magno (400-461), papa, 1754.
  15. São Pedro Damião (1007-1072), cardeal de Óstia, 1828.
  16. São Bernardo (1090-1153), monge cisterciense, 1830.
  17. Santo Hilário de Poitiers (300-367), bispo de Poitiers, 1851
  18. Santo Alfonso Ligório (1696-1787), bispo de Santa Ágata e fundador da Ordem dos Redendoristas, 1871
  19. São Francisco de Sales (1567-1622), bispo de Genova, 1877.
  20. São Cirilo de Alexandria (376-444), bispo de Alexandria, 1883.
  21. São Cirilo de Jerusalem (315-386), arcebispo de Jerusalém, 1883.
  22. São João Damasceno (676-749), monge, 1890.
  23. São Beda Venerável (672-735), monge, 1899.
  24. Santo Éfrem (306-373), diácono, 1920.
  25. São Pedro Canísio (1521-1597), padre, 1925.
  26. São João da Cruz (1542-1591), monge, 1926.
  27. São Roberto Belarmino (1542-1621), Arcebispo de Cápua, 1931.
  28. São Alberto Magno (1193-1280), bispo de Regensburg, 1931.
  29. Santo Antônio de Pádua (1195-1231), padre, 1946.
  30. São Lourenço de Brindisi (1559-1619), padre, 1959.
  31. Santa Teresa de Ávila (1515-1582), monja carmelita, 1970.
  32. Santa Catarina de Sena (1347-1380), irmã domenicana, 1970.
  33. Santa Teresa do Menino Jesus (1873-1897), monja carmelita, 1997.
  34. São João de Ávila (1500-1569), padre, 2012.
  35. Santa Hildegarde de Bingen (1098-1179), abadessa beneditina, 2012.
  36. São Gregório de Narek (951-1003), monge, 2015.

Os santos que viveram antes do cisma em 1054 também são reconhecidos pelas Igrejas Ortodoxas orientais. A Igreja Anglicana utiliza o termo "Professores da fé", mas a lista é bastante idêntica à Católica. Há alguns, como o Beato Ramon Llul que é popularmente conhecido como "Doutor Iluminado", mas este é apenas um título popular; até mesmo o Papa Bento XVI chamou, de maneira informal, São Máximo Confessor de "grande doutor da Igreja Grega".

Para nós, é certo que ler os textos dos doutores da Igreja é estar seguro de que os ensinamentos são inspirados pelo Espírito Santo e de grande proveito espiritual. Com todo respeito aos padres atuais, esta é uma lista de apenas 36 santos em 2000 anos de história, portanto são textos muito especiais que merecem a nossa leitura atenta. 

-- autoria própria

6 de nov. de 2018

São Francisco Spinelli

Francisco Spinelli nasceu em Milão em 14 de Abril de 1853 e no dia seguinte foi batizado na Catedral de Santo Ambrósio. Seus pais, Bartolomeu e Emilia, vinham da região de Bérgamo e trabalhavam como mordomo e camareira na casa do Marquês Emiliano Stanga.  Devido à situação política, com a população se revoltando contra o marquês, seus pais resolveram mandar o menino para a cidade de Verdello, onde morava uma tia. Francisco passou três anos morando com ela, foi ali que começou a frequentar a missa. 

Quando pode retornar a viver com seus pais, foi matriculado na escola em Cremona. Em 19 de Maio de 1861 recebeu a Crisma na paróquia de Santa Ágata, em Cremona. Nesta época acompanhava sua mãe quando ela ia ajudar os pobres da cidade e frequentava muito a paróquia de Santo Alessandro, onde um tio materno era pároco. 

Devido a uma queda da cama, sofreu uma lesão da coluna vertebral que lhe impedia de caminhar normalmente. Certo dia foi rezar em frente à imagem de Nossa Sra de Salette quando sentiu um impulso de levantar-se da cadeira de rodas e, milagrosamente, pode caminhar. 

Ordenação
No outuno de 1871, Francisco entrou no Seminário Diocesando de Bérgamo como aluno "externo", isto é, ele morava com seu tio sacerdote e apenas frequentava as aulas de teologia e latim. No seu tempo livre, começou a ajudar um sacerdote chamado Luigi Palazollo, que viria a ser beatificado em 1963, e estava começando uma escola para pobres analfabetos, um oratório para jovens, e um grupo da Obra de Santa Dorotéa para moças. Francisco ajudava como professor e na orientação dos rapazes do oratório.

Progrediu rapidamente no Seminário, foi ordenado diácono em 22 de Maio de 1875 e sacerdote em 17 de Outubro do mesmo ano, pelo Bispo de Bérgamo, que pulou uma parte da liturgia de ordenação. Ao explicar seu erro para o Vaticano, foi ordenado que completasse a celebração em caráter privado. A Francisco, pediu: "Você tem o dever de ser duplamente bom,  pois foi duplamente ordenado". 

As Irmãs da Adoração
No Natal de 1875 foi em peregrinação para Roma. Na Catedral de Santa Maria Maior, em frente ao presépio, sentiu-se inspirado pela Virgem Maria, que teve a oportunidade única de adorar a Cristo na manjedoura, a convidar mulheres para adorar a Cristo na Eucaristia. Segundo ele, guardou isto no coração e retornou a Bérgamo, onde trabalhava com seu tio e Dom Luigi Palazollo. 

No inverno de 1882 encontrou uma jovem chamada Catarina Comessoli, que desejava fundar uma congregação dedicada à Adoração Eucarística. Catarina era camareira da Condessa Hipólita Fé, que disse que financiaria uma casa. Com a aprovação do bispo, fundaram um novo instituto religioso, as Irmãs da Adoração do Santíssimo Sacramento, que deveria dedicar-se à Adoração Permanente e ajudar os pobres. Nas suas palavras, deveriam "adorar perpetuamente o Santíssimo Sacramento, fonte de força para nosso trabalho e reparação às ofensas feitas a Deus nestes tempos e, também, reunir todos que não fossem aceitos nos hospitais e casas de saúde, especialmente os pobres". Em sete anos, a ordem já tinham nove casas de acolhida, onde tratavam doentes e deficientes mentais.

Nesta época Francisco, com apoio da diocese, comprou terrenos para o novo instituto e escolas para os pobres. Mas as doações não eram suficientes para ajudar os pobres e pagar as dívidas, um novo bispo retirou o apoio financeiro da diocese e Francisco foi forçado a declarar a falência do instituto em 18 de Janeiro de 1889. Também foi destituído da administração do instituto.

Ordem das Irmãs Sacramentinas
Foi transferido para a Diocese de Cremona, onde chegou em 4 de Março de 1889. O Bispo lhe orientou apenas a fazer o bem e ajudar os pobres. Na nova diocese, após saber do fechamento do instituto, decidiu fundar uma nova obra sob a mesma inspiração. Em 8 de Setembro de 1891, com autorização do bispo, foi erigida a Ordem das Irmãs Sacramentinas. As irmãs pediu que "adorassem a Santíssima Eucaristia com o amor mais ardente e que fossem caridosas com os pobres"

Francisco e as irmãs costumavam visitar os doentes mais pobres da cidade. Certo dia entraram na casa de um rapaz que sofria de epilepsia, tremia muito, se debatia e babava pelo canto da boca. Percebeu que uma irmã queria sair dali, pois estava enojada. Então ele lhe corrigiu: "Nesse infeliz deveis ver a Jesus Cristo. Será feliz se no dia do teu juízo puderes responder que sim quando Cristo perguntar: o que fizeste por mim?"

Certo dia conheceu o abade beneditino Jacques Gauthey, que havia saído da França quando o governo expulsou todas as ordens do país. Ao conhecer melhor a congregação, pediu para entrar na ordem, tendo sido consagrado frade em 15 de Setembro de 1907, e passou a morar na Abadia de Acguafredda, dedicando-se à oração e terminar os estatutos das Irmãs. 

Morte, milagres e canonização
Em 1910 escreveu seu testamento: "Dou graças aos sacerdotes que com sacrifícios e zelo me ajudaram ao longo da vida. Aqueles que voluntariamente ou não contribuíram para os meus sofrimentos e tristeza, digo que amo a todos, não tenho o menor rancor de ninguém e rezo ao Senhor Deus que lhes retribua com muitas graças na mesma proporção com que me fizeram sofrer, ou ainda mais graças do que isto".

Ao final de 1912 foi diagnosticado com câncer no estômago, celebrou sua última missa no Dia de Natal e faleceu em 6 de Fevereiro de 1913, enquanto fazia o sinal da cruz. 

Para sua beatificação, foi considerada milagrosa a cura de uma postulante da ordem que caiu em um caldeirão de água fervente que resultou em queimaduras de terceiro grau e coma profundo. Duas religiosas, irmãs Dorina e Cristina colocaram uma imagem do Padre Francisco sobre o corpo da moça, que no dia seguinte acordou-se, disse sentir fome e pediu que avisassem sua mãe que estava curada. 

O segundo milagre que conduziu a canonização ocorreu com um menino recém-nascido no hospital da ordem em Kinshasa, Congo. Sua mãe já estava levando-o para casa quando uma hemorragia fortíssima fez com que sangrasse intensamente. A mãe correu de volta ao hospital, mas os médicos disseram que não sabiam o que fazer, pois nada parava a hemorragia e já não havia sangue suficiente. Irmã Adelina correu a capela e começou a rezar pelo menino, que imediatamente parou de sangrar e recuperou-se. Francisco foi canonizado pelo Papa Francisco, em 14 de Outubro de 2018.

--autoria própria

Links:
Santos e beatos (em italiano)
Irmãs Adoradoras do Santíssimo Sacramento (italiano, inglês e francês)

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