30 de dez. de 2023

Esperança

Todo início de ano temos eperança de que o próximo seja melhor, que tenhamos mais saúde, alegria, tranquilidade e amor. Tudo isto é bom e não é errado desejar um vida melhor, afinal ninguém precisa ser um filósofo estóico para alcançar os céus e se alguém não tiver mais esperanças e desejos na vida, o que resta é apenas desespero e a morte. Mas enquanto todos tem esperança, há alguams diferenças importantes quando consideramos a esperança baseada na fé.

O Catecismo da Igreja Católica (CIC 1817) define esperança assim:

A esperança é a virtude teologal pela qual desejamos o Reino dos céus e a vida eterna como nossa felicidade, pondo toda a nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos, não nas nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo. "Conservemos firmemente a esperança que professamos, pois Aquele que fez a promessa é fiel" (Heb 10, 23). "O Espírito Santo, que Ele derramou abundantemente sobre nós, por meio de Jesus Cristo nosso Salvador, para que, justificados pela sua graça, nos tornássemos, em esperança, herdeiros da vida eterna" (Tt 3, 6-7).

Em primeiro lugar, a esperança é um dom de Deus, que Ele prometeu para nosso benefício. A esperança nos dá a possibilidade de enfrentarmos qualquer situação sabendo que por mais difícil que pareça, Deus pode agir e transformá-la em algo diferente do que pensamos. Os desafios da vida podem parecer impossíveis, todos nós já enfrentamos situações assim, mas Deus tem o poder de recriar a vida a partir de uma situação de morte. Cristo fez exatamente isto quando desceu à mansão dos mortos e ressuscitou no terceiro dia, subiu aos céus, onde está sentado à direita de Deus. Professamos esta fé em cada Missa, e quando temos uma situação como uma doença, desemprego, crise na família, podemos confiar que Deus pode renovar nossa vida, refazer a nossa história e conduzir a vida melhor. 

Em segundo lugar, devemos ter nossos olhos não apenas na vida terrestre, mas sabermos que o Reino dos Céus e a vida eterna devem ser o centro da nossa esperança e da nossa vida. Com o auxílio do Espírito Santo, do qual a esperança é um dos dons, podemos ter a certeza que, arrependidos de nossos pecados, levando uma vida santificada, também ascenderemos aos céus e nos encontraremos junto de Deus. A vida não termina com a nossa morte, a vida é eterna.

Em terceiro lugar, devemos confiar em Deus, não nas nossas forças. Como seres humanos somos imperfeitos e nossa compreensão é incompleta, mas Deus é perfeito e onisciente. Nele podemos confiar plenamente, pois Ele sabe, melhor que nós, onde estará nossa felicidade. Nossos erros do passado podem ser apagados, nosso futuro reconstruído por Deus. Não há dificuldade que Deus não possa nos ajudar a superar, não há problema que Deus não possa resolver. Nosso papel é rezar e confiar em Deus, para que a vontade Dele se faça na nossa vida, não que Ele faça o que queremos, mas que Ele nos ajude a estarmos preparados para aceitar o que Ele coloca na nossa vida. 

Deixo aqui algumas passagens bíblicas que podemos ler e explorar, que falam desta esperança em Deus, que a fé o Espírito Santo nos trazem. Que todos tenhamos um Feliz Ano Novo!


  • Coragem! E sede fortes. Nada vos atemorize, e não os temais, porque é o Senhor, vosso Deus, que marcha à vossa frente: ele não vos deixará nem vos abandonará” (Dt 31, 6)
  • Vós sois meu abrigo e meu escudo; vossa palavra é minha esperança. (Sl 119, 114)
  • Em recompensa, o meu Deus há de prover magnificamente a todas as vossas necessidades, segundo a sua glória, em Jesus Cristo. (Fp 4, 19)
  • O Senhor é minha luz e minha salvação, a quem temerei? O Senhor é o protetor de minha vida, de quem terei medo? Quando os malvados me atacam para me devorar vivo, são eles, meus adversários e inimigos, que resvalam e caem. Se todo um exército se acampar contra mim, não temerá meu coração. Se se travar contra mim uma batalha, mesmo assim terei confiança. Uma só coisa peço ao Senhor e a peço incessantemente: é habitar na casa do Senhor todos os dias de minha vida, para admirar aí a beleza do Senhor e contemplar o seu santuário. Assim, no dia mau ele me esconderá na sua tenda, irá ocultar-me no recôndito de seu tabernáculo, sobre um rochedo me erguerá. (Sl 26, 1-5).
  • Paulo, servo de Deus, apóstolo de Jesus Cristo para levar aos eleitos de Deus a fé e o profundo conhecimento da verdade que conduz à piedade, na esperan­ça da vida eterna prometida em tempos longínquos por Deus verdadeiro e fiel. (Tt 1, 1-2)
  • Manifestou-se, com efeito, a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens. Veio para nos ensinar a renunciar à impiedade e às paixões mundanas e a viver neste mundo com toda sobriedade, justiça e piedade, na expectativa da nossa esperança feliz, a aparição gloriosa de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo, que se entregou por nós, a fim de nos resgatar de toda a iniqui­dade, nos purificar e nos constituir seu povo de predileção, zeloso na prática do bem. (Tt 2, 11-14)
  • Bendito seja Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo! Na sua grande misericórdia ele nos fez renascer pela Ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma viva esperança, para uma herança incorruptível, incontaminável e imarcescível, reservada para vós nos céus; para vós que sois guardados pelo poder de Deus, por causa da vossa fé, para a salvação que está pronta para se manifestar nos últimos tempos. (1Pe 1, 3-5)
  • A confiança que depositamos nele é esta: em tudo quanto lhe pedirmos, se for conforme à sua vontade, ele nos atenderá. E se sabemos que ele nos atende em tudo quanto lhe pedirmos, sabemos daí que já recebemos o que pedimos. (1Jo 5, 14-15)
  • Se é só para esta vida que temos colocado a nossa espe­rança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de lástima. Mas não! Cristo ressuscitou dentre os mortos, como primícias dos que morreram! Com efeito, se por um homem veio a morte, por um homem vem a ressurreição dos mortos. Assim como em Adão todos morrem, assim em Cristo todos reviverão. Cada qual, porém, em sua ordem: como primícias, Cristo; em seguida, os que forem de Cristo, na ocasião de sua vinda. (1Co 15, 19-23)
  • O Deus da esperança vos en­cha de toda a alegria e de toda a paz na vossa fé, para que pela virtude do Espírito Santo transbordeis de esperança! (Rm 15, 13)
  • Cristo em vós, esperança da glória! (Cl 1, 27b)
  • Aproximemo-nos, pois, confiadamente do trono da graça, a fim de alcançar misericórdia e achar a graça de um auxílio oportuno. (Hb 4, 16)

-- autoria própria

22 de dez. de 2023

Sobre a benção de casais - Fiducia supplicans

Em 18 de Dezembro de 2023 Dicastério para a Doutrina da Fé publicou um document chamado Fiducia supplicans, que está disponível no site do Vaticano. Não há versão em português, então vou traduzir alguns trechos da versão em espanhol

9. Desde o ponto de visto estritamente litúrgico, uma benção requer que auqele que a recebe esteja em conformidade com a vontade de Deus manifestada nos ensinamentos da Igreja

10. As bençãos se celebram, de fato, em virtude da fé e objetivam o louvor a Deus e o proveito espiritual do povo. [...] Por isso, se convida a aqueles que pedem a benção de Deus através da Igreja a intensificar suas disposições internas na fé de que não há nada impossível e confiar na caridade que premia os que guardam os mandamentos de Deus.

11. Baseando-se nestas considerações, [...] a Congregação para Doutrina da Fé recorda que quando, com um rito litúrgico adequado, se invoca uma benção sobre alguma relação humana, aquilo que se bendiz deve corresponder as desígnios de Deus inscritos na Criação e plenamente revelados por Cristo, Nosso Senhor. Por isso, dado que a Igreja sempre considerou moralmente lícitas apenas as relações sexuais que se vivem dentro do matrimônio, não tem poder de conferir sua benção litúrgica quando está, de alguma maneira, pode oferecer uma forma legítimidade moral a uma união que se presume ser um matrimônio ou uma prática sexual extramatrimonial. 

31. Assim, no horizonte delineado neste documento, se coloca uma possibilidade de bençãos de casais em situações irregulares e casais do mesmo sexo, cuja forma não deve encontrar nenhuma forma fixa por parte das autoridades eclesiásticas, para não produzir confusão com a benção própria do sacramento do matrimônio. [...] As bençãos devem expressar uma súplica a Deus para que se conceda aquelas ajudas que provêm do Espírito Santo [...] para que as relações humanas possam amadurecer e crescer em fidelidade na mensagem do Evangelho [...].

32. A graça de Deus, de fato, atua na vida daqueles que não se consideram justos, mas que se reconhecem humildemente pecadores como todos. [...] Por isso, com incansável sabedoria e maternidade, a Igreja acolhe a todos que se aproximam de Deus com coração humilde, aompanhando-os com auxílios espirituais que permitam a todos compreender e realizar plenamente a vontade de Deus em sua existência. 

Comentário:

Agora é meu comentário particular, não partes de documentos da Igreja:: 

  • seria importante ter uma tradução oficial e completa do documento em português, espero que a CNBB esteja trabalhando neste sentido;
  • não podemos esquecer que todos somos pecadores e recebemos bençãos da Igreja para mudarmos nossas atitudes;
  • o documento começa reafirmando os ensinamentos da Igreja sobre a ilegitimidade de casamentos em segunda união e parcerias homossexuais, ou seja, a doutrina não mudou;
  • não haver uma fórmula para  a benção nestas situações permite aos padres adaptar a benção a cada caso particular mas, ao mesmo tempo, deixa a todos, padres, comunidades e Igreja, abertos a situações contrárias aos ensinamentos da Igreja;
  • considerando a alta probabilidade de confusões e mal-entendidos, não é de se estranhar que bispos tenham orientado os padres a não abençoar casais em situação irregular, prudência é uma virtude;
  • a benção deve ressaltar a importância de modificar o comportamento individual, saindo da atual situação de pecado;
  • como sempre, a imprensa não leu o documento completo, ou se leu, destacou apenas o que interessa a sua agenda.






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