14 de mar. de 2021

Maria no Mistério Pascal - Homília de Quaresma

Antes de concluir esta catequese sobre Maria no mistério pascal, próxima à cruz,  gostaria de dedicar um pouco de tempo para Maria, modelo de esperança. Sempre há um tempo na vida em que precisamos da fé e esperança de Maria. Quando parece que Maria não escuta mais nosssas súplicas, quando parece que Ele não cumprirá suas promessas,quando nos faz experimentar derrota após derrota, quando parece que os poderes da escuridão são vitoriosos e tudo é amedontrador, como a escuridão que cobriu toda terra (Mt 27,45). Como diz um dos salmos, parece que Deus "não tem misericórdia para com o justo" (Salmo 76, 9). É nesta hora que devemos lembrar de Maria, sua fé e esperança, e clamar como outros fizeram: "Pai, eu não consigo entender teus desígnios, mas eu confio em vós!"

Talvez Deus esteja pedindo para que sacrifiquemos nosso Isaac, como Abraão, sacrificar aquela pessoa, um bem, um projeto, uma fundação, uma tarefa que gostamos, que Deus confiou a nós e para o qual temos dedicado nossas vidas. Esta é a ocasião que Deus está oferecendo para mostrar que confiamos nele, mais do que nos presentes, mais do que em nossas idéias.

Deus disse a Abraão, "Eu te fiz pai de muitas nações" (Gn 17,5) e após o teste de Isaac, diz, “Juro por mim mesmo, diz o Senhor: pois que fizeste isto, e não me recusaste teu filho, teu filho único, eu te abençoarei. Multiplicarei a tua posteridade como as estrelas do céu, e como a areia na praia do mar. Ela possuirá a porta dos teus inimigos, e todas as nações da terra desejarão ser bendita como ela, porque obedeceste à minha voz” (Gn 22,16-18). Ele disse o mesmo a Maria, e ainda mais: Eu te farei mãe de todas nações da terra, mãe da Igreja! Todas as gerações te chamarão abençoada e por ti serão abençoadas. 

Um dos líderes do Protestantismo, Calvino, enquanto comentaca o livro do Gênesis 12,3 ("todas as famílias da terra serão benditas em ti”), diz que "Abraão não é apenas um exemplo, mas é uma fonte de bençãos". Isto ajuda a esclarecer a afirmação de Santo Irineu para todos cristãos, que disse "Assim como Eva, pela sua desobediência, tornou-se causa de morte para todos homens, Maria, pela sua obediência, tornou-se motivo de salvação para si mesma e todos nós". Também Maria não é apenas um exemplo, mas uma fonte de bençãos, por que foi instrumento de Deus, pela Sua graça, não pelo seu mérito.

A Bíblia nos conta que Judite, após arriscar sua vida em favor do povo judaico, retornou a sua cidade e o povo correu para encontrá-la, o sumo sacerdote a abençoou dizendo:  “Minha filha, tu és bendita do Senhor, Deus Altíssimo, mais que todas as mulheres da terra. Bendito seja o Senhor, criador do céu e da terra, que te guiou para cortar a cabeça de nosso maior inimigo! Ele deu neste dia tanta glória ao teu nome, que nunca o teu louvor cessará de ser celebrado pelos homens, que se lembrarão eternamente do poder do Senhor. Ante os sofrimentos e a angústia de teu povo, não poupaste a tua vida, mas salvaste-nos da ruína, em presença de nosso Deus." (Judite 13, 23-25)

Recordemos a presença de Maria no Mistério Pascal, considerando que as palavras de São Paulo resumindo a missão de Cristo, também podem ser aplicadas a ela, pois são como um resumo da vida cristã: 

Maria, embora fosse a Mãe do Deus, não considerou isto como um privilégio para ser usado, mas se considerava a menor, chamando a si mesma, serva, e viveu como todas as mulheres do seu tempo. Ela humilhou-se a si mesma, obediente a Deus, até a morte de seu Filho, e morte de Cruz. 

Por isso Deus a exaltou e lhe deu um nome pelo qual, após a morte de Jesus, todos a chamarãom todos irão inclinar sua cabeça frente a ela, nos céus e na terra, e embaixo da terra, e toda língua confessará que Maria é a Mãe de Deus, para glória de Deus, seu Pai. Amém!

-- Padre Raniero Cantalamessa, quarta homília de Quaresma, parte III, 3 de Abril de 2020. 

 -- tradução própria

7 de mar. de 2021

Maria Santíssima Mãe da Igreja - homília de Quaresma


 A doutrina católica tradicional sobre Maria, Mãe dos Cristãos, foi renovada pela Igreja no Concílio Vaticano II, onde o papel de Maria foi incluído dentro da história da salvação e o mistério de Cristo. A Igreja explicou que predestinada pela Palavra a ser Mãe de Deus, a Virgem Maria era nesta terra a virgem mãe do Salvador e, acima de todos e de maneira singular, estava generosa e humildemente associada ao Senhor. Ela O concebeu, trouxe à vida e alimentou Cristo. Ela apresentou-O ao Pai no templo e permaneceu unido à Ele até morrer na Cruz. Desta maneira única, ela cooperou através da sua obediência, fé, esperança e caridade com a missão do Salvador de trazer à luz a alma dos pecadores. Neste sentido, ela é nossa mãe pela graça.

O Concílio explicou o papel maternal de Maria desta maneira:  A Virgem Santíssima, predestinada para Mãe de Deus desde toda a eternidade simultâneamente com a encarnação do Verbo, por disposição da divina Providência foi na terra a nobre Mãe do divino Redentor, a Sua mais generosa cooperadora e a escrava humilde do Senhor. Concebendo, gerando e alimentando a Cristo, apresentando-O ao Pai no templo, padecendo com Ele quando agonizava na cruz, cooperou de modo singular, com a sua fé, esperança e ardente caridade, na obra do Salvador, para restaurar nas almas a vida sobrenatural. É por esta razão nossa mãe na ordem da graça (Lumen Gentium, 61). 

E também: Com efeito, todo o influxo salvador da Virgem Santíssima sobre os homens se deve ao beneplácito divino e não a qualquer necessidade; deriva da abundância dos méritos de Cristo, funda-se na Sua mediação e dela depende inteiramente, haurindo aí toda a sua eficácia; de modo nenhum impede a união imediata dos fiéis com Cristo, antes a favorece (Lumen Gentium, 60).

Além dos títulos de Mãe de Deus e Mãe dos Fiéis, o Concílio também utilizou termos como tipo e figura (exemplo) para explicar o papel de Maria: Pelo dom e missão da maternidade divina, que a une a seu Filho Redentor, e pelas suas singulares graças e funções, está também a Virgem intimamente ligada, à Igreja: a Mãe de Deus é o tipo e a figura da Igreja, na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo (Lumen Gentium, 63).

A novidade destes ensinamentos sobre Maria, como sabemos, é a sua inclusão num documento da Igreja. Como é comum nestes casos, não foi sem aglum sofrimento e conflito que o Concílio renovou a Mariologia convencional dos últimos séculos. Maria não é mais tratada separadamente, como um papel de intermediária entre Cristo e a Igreja. Ela foi ligada à Igreja, como nos dias dos Santos Padres. Como Santo Agostinho disse Maria é o mais importante membro da Igreja, mas ainda assim, um membro da Igreja, não está acima dela, não está fora dela. Maria é santa, Maria é abençoada, mas a Igreja é mais importante que Maria. Por que? Por que Maria é parte da Igreja, um santo e exceptional membro, mais santo e abençoado que os demais, mas ainda é um membro da Igreja. Se ela é um membro do corpo, por consequência, conclui-se que o corpo é mais importante que seus membros.

Logo após o Concílio, o Papa Paulo VI aprofundou a idéia da maternidade de Maria para todos fiéis declarando-a explicita e solenemente com o título de Mãe da Igreja: Portanto, para glória da Virgem e para nosso conforto, proclamamos Maria Santíssima Mãe da Igreja, isto é, de todo o Povo de Deus, tanto dos fiéis como dos pastores, que lhe chamam Mãe amorosíssima; e queremos que com este título suavíssimo seja a Virgem doravante honrada e invocada por todo o povo cristão (Paulo VI, 21 de Novembro de 1964).

-- Padre Raniero Cantalamessa, quarta homília de Quaresma, parte I, 3 de Abril de 2020. 

 -- tradução própria do texto em inglês.

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