7 de mar. de 2021

Maria Santíssima Mãe da Igreja - homília de Quaresma


 A doutrina católica tradicional sobre Maria, Mãe dos Cristãos, foi renovada pela Igreja no Concílio Vaticano II, onde o papel de Maria foi incluído dentro da história da salvação e o mistério de Cristo. A Igreja explicou que predestinada pela Palavra a ser Mãe de Deus, a Virgem Maria era nesta terra a virgem mãe do Salvador e, acima de todos e de maneira singular, estava generosa e humildemente associada ao Senhor. Ela O concebeu, trouxe à vida e alimentou Cristo. Ela apresentou-O ao Pai no templo e permaneceu unido à Ele até morrer na Cruz. Desta maneira única, ela cooperou através da sua obediência, fé, esperança e caridade com a missão do Salvador de trazer à luz a alma dos pecadores. Neste sentido, ela é nossa mãe pela graça.

O Concílio explicou o papel maternal de Maria desta maneira:  A Virgem Santíssima, predestinada para Mãe de Deus desde toda a eternidade simultâneamente com a encarnação do Verbo, por disposição da divina Providência foi na terra a nobre Mãe do divino Redentor, a Sua mais generosa cooperadora e a escrava humilde do Senhor. Concebendo, gerando e alimentando a Cristo, apresentando-O ao Pai no templo, padecendo com Ele quando agonizava na cruz, cooperou de modo singular, com a sua fé, esperança e ardente caridade, na obra do Salvador, para restaurar nas almas a vida sobrenatural. É por esta razão nossa mãe na ordem da graça (Lumen Gentium, 61). 

E também: Com efeito, todo o influxo salvador da Virgem Santíssima sobre os homens se deve ao beneplácito divino e não a qualquer necessidade; deriva da abundância dos méritos de Cristo, funda-se na Sua mediação e dela depende inteiramente, haurindo aí toda a sua eficácia; de modo nenhum impede a união imediata dos fiéis com Cristo, antes a favorece (Lumen Gentium, 60).

Além dos títulos de Mãe de Deus e Mãe dos Fiéis, o Concílio também utilizou termos como tipo e figura (exemplo) para explicar o papel de Maria: Pelo dom e missão da maternidade divina, que a une a seu Filho Redentor, e pelas suas singulares graças e funções, está também a Virgem intimamente ligada, à Igreja: a Mãe de Deus é o tipo e a figura da Igreja, na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo (Lumen Gentium, 63).

A novidade destes ensinamentos sobre Maria, como sabemos, é a sua inclusão num documento da Igreja. Como é comum nestes casos, não foi sem aglum sofrimento e conflito que o Concílio renovou a Mariologia convencional dos últimos séculos. Maria não é mais tratada separadamente, como um papel de intermediária entre Cristo e a Igreja. Ela foi ligada à Igreja, como nos dias dos Santos Padres. Como Santo Agostinho disse Maria é o mais importante membro da Igreja, mas ainda assim, um membro da Igreja, não está acima dela, não está fora dela. Maria é santa, Maria é abençoada, mas a Igreja é mais importante que Maria. Por que? Por que Maria é parte da Igreja, um santo e exceptional membro, mais santo e abençoado que os demais, mas ainda é um membro da Igreja. Se ela é um membro do corpo, por consequência, conclui-se que o corpo é mais importante que seus membros.

Logo após o Concílio, o Papa Paulo VI aprofundou a idéia da maternidade de Maria para todos fiéis declarando-a explicita e solenemente com o título de Mãe da Igreja: Portanto, para glória da Virgem e para nosso conforto, proclamamos Maria Santíssima Mãe da Igreja, isto é, de todo o Povo de Deus, tanto dos fiéis como dos pastores, que lhe chamam Mãe amorosíssima; e queremos que com este título suavíssimo seja a Virgem doravante honrada e invocada por todo o povo cristão (Paulo VI, 21 de Novembro de 1964).

-- Padre Raniero Cantalamessa, quarta homília de Quaresma, parte I, 3 de Abril de 2020. 

 -- tradução própria do texto em inglês.

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