24 de nov. de 2016

São Paulo Le-Bao Tinh

Paulo Le-Bao Tinh nasceu em 1793 em uma família rica na vila de Trinh-Ha, no Vietnã. Estudou com mestres confucionistas, mas quando  conheceu os padres do Seminário tornou-se católico. Aos 12 anos entrou no Seminário, com a aprovação de seus pais. Agradava-lhe especialmente ler sobre a vida dos santos, era muito zeloso com as orações e estudos. Em certo momento, sentiu-se chamado a viver como heremita e abandonou o Seminário para morar numa caverna, sobrevivendo de frutas e arroz, passando dias em oração.

Assim ficou por muitos anos, até que o Bispo lhe pediu para ajudar no trabalho missionário. Paulo, que ainda não fora ordenado, se dirigiu às montanhas do Laos, combinando trabalho de evangelização com períodos de oração solitária e reclusão.

Em 1841 iniciou-se uma brutal perseguição aos cristãos na Provínca onde Paulo residia. O Vaticano considera os sofrimentos impostos como sendo um dos piores da história, com anos de torturas contínuas e uso de drogas para mantê-los vivos mas submissos às ordens dos torturdores.  Após sete anos na prisão, Paulo recebeu uma sentença de morte. Foi quando recebeu autorização para escrever uam última carta, que ele enviou aos seminaristas de Ke-Vinh. A carta inicia assim:

Eu, Paulo, preso pelo nome de Cristo, quero levar ao vosso conhecimento as minhas tribulações louvá-lo, porque a sua misericórdia é eterna (Sl 117,1).

O meu cárcere é verdadeiramente uma imagem do fogo eterno. Aos cruéis suplícios de todo gênero, como grilhões, algemas e ferros, juntam-se ódio, vingança, calúnias, palavrões, acusações, maldades, falsos testemunhos, maldições e, finalmente, angústia e tristeza. Mas Deus, que outrora libertou os três jovens da fornalha acesa, sempre me assiste e libertou-me dessas tribulações, que se tornaram suaves, porque a sua misericórdia é eterna!

No entanto, o Imperador Thieu Tri transformou a sentença de morte em exílio, enviando Paulo para a Província de Phu Yen. Ao final do ano, um novo imperador, Tu Duc, anistiou todos exilados, permitindo seu retorno. De volta ao Seminário, Paulo terminou seus estudos e foi ordenado.


Nova mudança na política e, em 1855, todos padres cristãos foram presos e condenados a morte. Paulo escreveu:

Catedral de Nossa Senhora, na cidade
de Ho-Chi-Minh
Em meio aos tormentos que fazem a todos se desesperar, pela graça de Deus estou cheio de alegria e felicidade, por que não estou sozinho. Cristo está ao meu lado. Ele, meu Mestre, sustenta todo o peso da minha cruz, deixando para mim apenas uma parte pequena, mas decisiva.

Na manhã seguinte Paulo foi trazido ao local de execução. Sua últimas palavras foram: "A religião do Mestre é perfeitamente verdadeira, mesmo que reis e imperadores persigam-na e tentem destruí-la. Ao final, esta religião será vitoriosa e, no futuro, haverá muitas conversões, muito mais fiéis que em todo passado." De fato, esta profecia cumpriu-se: hoje há mais de 5 milhões de católicos no país, representado quase 7% da população.

São Paulo Le-Bao Tinh foi canonizado em 19 de Junho de 1988 pelo Papa João Paulo II e sua memória é celebrada em 6 de Abril. Além dele, mais de 130.000 cristãos foram martirizados no Vietnã, sendo todos são celebrados em 24 de Novembro, dia dos Mártires Vietnamitas.

-- autoria própria

A participação dos mártires na vitória de Cristo Rei

Paulo le Bao-Tinh morreu
martirizado em 1857 após muitos
anos na prisão e exílio.
Eu, Paulo, preso pelo nome de Cristo, quero levar ao vosso conhecimento as minhas tribulações cotidianas que me assaltam de todos os lados, para que, inflamados pelo amor de Deus, possais louvá-lo, porque a sua misericórdia é eterna (Sl 117,1).

O meu cárcere é verdadeiramente uma imagem do fogo eterno. Aos cruéis suplícios de todo gênero, como grilhões, algemas e ferros, juntam-se ódio, vingança, calúnias, palavrões, acusações, maldades, falsos testemunhos, maldições e, finalmente, angústia e tristeza. Mas Deus, que outrora libertou os três jovens da fornalha acesa, sempre me assiste e libertou-me dessas tribulações, que se tornaram suaves, porque a sua misericórdia é eterna!

Graças a Deus, no meio desses tormentos que continuam a apavorar os outros, sinto-me alegre e contente, pois não me julgo só, mas com Cristo. Nosso Mestre suporta todo o peso da cruz, deixando-me apenas uma pequena e ínfima parte: não é só testemunha do meu combate, mas combatente, vencedor e consumador de toda luta. Assim, sobre sua cabeça é que foi colocada a coroa da vitória, de cujo triunfo participam também os seus membros.

Como, porém, Senhor, suportar tal espetáculo, ao ver diariamente os imperadores, os mandarins e seus soldados blasfemarem vosso santo nome, quando estais acima dos querubins e serafins? (cf. Sl 79,3). Eis que a vossa cruz é calcada pelos pagãos! Onde está a vossa glória? Ao ver tudo isso, me inflamo por vós, preferindo morrer com os membros amputados, em testemunho do vosso amor!

Mostrai,  Senhor, o vosso poder, salvando-me e protegendo-me. Que a força se manifeste na minha fraqueza e seja glorificada ante os gentios, pois, se eu vacilar no caminho, vossos inimigos, cheios de orgulho, poderão levantar as cabeças.

Caríssimos irmãos, ao ouvirdes tudo isto, dai alegremente graças imortais a Deus, do qual procedem todos os bens. Bendizei comigo o Senhor, porque a sua misericórdia é eterna! Minha alma engrandeça o Senhor e meu espírito exulte de alegria em Deus, meu Salvador; porque olhou para a humildade de seu servo (cf. Lc 1,46-48), todas as gerações me proclamarão bendito, porque a sua misericórdia é eterna!

Cantai louvores ao Senhor, todas as gentes, povos todos, festejai-o (Sl 116,1), porque Deus escolheu o que é fraco no mundo para confundir os fortes, e o que é vil e desprezível (1Cor 1,27-28), para confundir os nobres. Pelos meus lábios e inteligência, Deus confunde os filósofos, os discípulos dos sábios deste mundo, porque a sua misericórdia é eterna!

Tudo isto vos escrevo, para unirdes à minha a vossa fé. No meio desta tempestade lanço a âncora, a viva esperança que trago no coração, até ao trono de Deus.

Caríssimos irmãos, correi de tal modo que possais alcançar a coroa: revesti-vos com a couraça da fé (1Ts 5,8), tomai as armas de Cristo, à direita e à esquerda, segundo os ensinamentos de São Paulo, meu patrono. É melhor para vós entrar na posse da vida comum só olho ou privados de algum membro (cf. Mt 5,29), do que serdes lançados fora com todos eles.

Vinde em meu auxílio com vossas preces, para que possa combater, segundo a lei, o bom combate, e combater até o fim, encerrando gloriosamente a minha carreira. Se já não nos podemos ver nesta vida, tal felicidade nos está reservada para o futuro, quando, junto ao trono do Cordeiro imaculado, exultantes com a alegria da vitória, cantaremos em uníssono eternamente os seus louvores. Assim seja.

-- Da Carta de Paulo Le Bao-Tinh aos alunos do Seminário de Ke-Vinh, de 1843

18 de nov. de 2016

O mistério de Cristo em nós e na Igreja

Retratode de São João Eudes, 1673
Cabe-nos imitar e completar em nós os estados e mistérios de Cristo e pedir-lhe continuamente que os leve a termo e os perfaça em nós e na Igreja inteira.

Porque os mistérios de Jesus ainda não estão totalmente levados à sua perfeição e realizados. Na pessoa de Jesus, sim, não, porém, em nós, seus membros, nem na Igreja, seu Corpo místico. Por querer o Filho de Deus comunicar, estender de algum modo e continuar seus mistérios em nós e em toda a sua Igreja, determinou tanto as graças que nos concederá,quanto os efeitos que quer produzidos em nós por esses mistérios. Por esta razão deseja completá-los em nós.

Por isso, São Paulo diz que Cristo é completado na Igreja e que todos nós colaboramos para sua edificação e para a plenitude de sua idade (cf. Ef 4,13), isto é, a idade mística que tem em seu Corpo místico, mas que só no dia do juízo será plena. Em outro lugar, diz o mesmo Apóstolo que completa em sua carne o que falta aos sofrimentos de Cristo (cf. Cl 1,24).

Deste modo, o Filho de Deus decidiu que seus estados e mistérios seriam completados e levados à perfeição em nós. Quer levar à perfeição em nós o mistério de sua encarnação, nascimento, vida oculta, quando se forma e renasce em nossa alma pelos sacramentos do santo batismo e da divina eucaristia e nos dá vivermos a vida espiritual e interior, escondida com ele em Deus (Cl 3,3).

Quer ainda levar à perfeição em nós o mistério de sua paixão, morte e ressurreição que nos fará padecer, morrer e ressurgir com ele. E, finalmente, quer completar em nós o estado de vida gloriosa e imortal, quando nos fará viver com ele e nele a vida gloriosa e perpétua nos céus. Assim quer consumar e completar seus outros estados, outros mistérios em nós e em sua Igreja; deseja comunicá-los a nós e partilhá-los conosco e por nós continuá-los e propagá-los.

Assim, os mistérios de Cristo não estarão completos antes daquele tempo que marcou para o término destes mistérios em nós e na Igreja, isto é,  antes do fim do mundo.

-- Do Tratado sobre o Reino de Jesus, de São João Eudes, presbítero (século XVI)

16 de nov. de 2016

O coração do justo exultará no Senhor

O justo alegra-se no Senhor e nele espera; e gloriam-se todos os retos de coração (Sl 63,11). Acabamos de cantá-lo com a voz e com o coração. A consciência e a língua cristãs dizem estas palavras a Deus: Alegra-se o justo, não com o mundo, mas no Senhor. A luz nasceu para o justo, diz outro lugar, e a alegria, para os retos de coração(Sl 96,11). 

Indagas donde vem a alegria. Escutas: Alegra-se o justo no Senhor, e noutro passo: Põe tuas delícias no Senhor e ele atenderá aos pedidos de teu coração (Sl 36,4). 

Que nos é indicado? O que é doado, ordenado, dado? Que nos alegremos no Senhor. Quem é que se alegra com aquilo que não vê? Acaso vemos o Senhor? Já o temos em promessa. 

Agora, porém, caminhemos pela fé; enquanto estamos no corpo, peregrinamos longe do Senhor (2Cor 5,7.6). Pela fé, não pela visão. Quando, pela visão? Quando se realizar o que diz o mesmo João: Diletíssimos, somos filhos de Deus; mas ainda não se fez visível o que seremos. Sabemos que, quando aparecer, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal qual é (1Jo 3,2). 

Neste momento, então, será a grande e perfeita alegria, o gáudio pleno, onde já não mais teremos o leite da esperança, mas a realidade nos alimentará. Contudo, desde agora, antes que nos chegue a realidade, antes que cheguemos à realidade, alegremo-nos no Senhor. Não é insignificante a alegria trazida pela esperança, já que depois será a posse. 

Agora, amamos na esperança. Por isso, alegra-se o justo no Senhor e logo em seguida, e nele espera, porque ainda não vê. 

Todavia, possuímos as primícias do espírito, e talvez de algo mais. Aproximamo-nos de quem amamos e, embora por uma gotinha, já provamos e saboreamos aquilo que avidamente comeremos e beberemos. 

Como é que nos alegramos no Senhor, se está longe de nós? Que ele não esteja longe! A estar longe, és tu que o obrigas. Ama e aproximar-se-á; ama e habitará em ti. O Senhor está próximo, não fiques inquieto (Fl 4,5-6). Queres ver como, se amares, estará contigo? Deus é caridade (1Jo 4,8). 

Dir-me-ás: “Em teu parecer, que é caridade?” A caridade é a virtude pela qual amamos. O que amamos? O bem salutar, o bem inefável, o bem de todos os bens, o Criador. Que te deleite aquele de quem tens tudo o que te deleita. Não digo o pecado, pois só o pecado não recebes dele. Dele é que terás tudo.

-- Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo (século V)

13 de nov. de 2016

A anulação do casamento do Rei Henrique VIII

Todos aprendemos na escola que o Rei Henrique VIII brigou com o Papa e resolveu formar a Igreja da Inglaterra (Anglicana) por que queria casar com outra mulher, já que a primeira esposa não lhe dera um sucessor.  Dito assim, parece ser uma simples questão de divórcio, que já foi resolvida com a separação da Igreja e o Estado, bem como o fim do poder das Monarquias. Na verdade é um pouco mais complicado e ainda é uma questão atual na Igreja.

O casamento

O jovem Henrique era o segundo filho do Rei da Inglaterra, por isso as atenções eram voltadas para o irmão mais velho, Artur. Como de hábito, muito cedo iniciou a busca por uma esposa, a futura rainha. As implicações políticas eram enormes e muito mais importantes que qualquer vontade pessoal. Feitas as negociações, em 1488 ficou decidido que Artur casaria com Catarina de Aragão, filha dos Reis da Espanha. Os jovens "noivos" ainda não haviam completado três de idade, por isso casaram-se apenas em Novembro de 1501, quando completaram 15 anos. 
Henrique e Catarina casaram em 11 de Junho de 1509, duas
semanas após foram coroados Rei e Rainha da Inglaterra.

Os problemas começaram quando Artur faleceu meses após o casamento, deixando Catarina viúva. O Rei da Inglaterra, pai de Artur, ainda estava vivo e teve que refazer seus planos para a sucessão, que agora recaia em Henrique. Considerando a situação política, optou-se por Henrique casar com a viúva do irmão, mantendo os acordos com a Espanha.  

Porém havia um problema: casar com a viúva do irmão não era permitido, exceto se houvesse uma permissão especial do Bispo. Em se tratando de reis, foram direto ao Papa Julio II, que considerando as vantagens de uma firme aliança entre reinos católicos, autorizou o casamento. Se tudo houvesse corrido bem, este era o fim do caso, com os filhos de Henrique entrando na linha sucessória do trono.

O pedido de divórcio

Infelizmente Catarina tinha problemas na gravidez e as crianças, quando nasciam, tinham saúde fraca e morriam prematuramente, apenas uma menina cresceu até a idade adulta. A medida que envelheciam, ficava claro que não haveria um filho homem para suceder Henrique VIII. Junto com seus auxiliares e apoio do Cardeal Wolsey, legado papal na Inglaterra, decidiram pedir a anulação do casamento, para que o Rei casasse novamente de maneira válida. Na país considerava-se que era causa ganha e o Rei já poderia procurar uma nova esposa, no caso, Ana Bolena foi escolhida.  A palavra central é "anulação", não divórcio, ou seja, o pedido era para que a Igreja declarasse que o casamento de Henrique e Catarina fora inválido e, para todos efeitos, ambos estariam solteiros.

O argumento legal é que o Papa Julio II quando concedeu a exceção que permitiu o casamento, o fez de maneira inválida por que o Papa não pode se sobrepor a Deus, que claramente estipulara a proibição em Levítico 20,21:

Se um homem casar com a esposa de seu irmão, trará desgraça para a família, não terão filhos por causa deste incesto.

Este argumento centra a questão nos limites dos poderes de um Papa, poderes que são sempre limitados pela Lei Divina. O Papa sempre estará abaixo de Deus, assim, por exemplo, nunca poderá autorizar um casamento entre pai e filha, pois esta seria uma violação direta da Lei estabelecida por Deus, a primeira pessoa da Santíssima Trindade. Por outros motivos, como um limite de idade, o Papa poderia dispensar, pois se trata de uma regra criada pelos homens, que ao longo dos séculos tem variado. Portanto, a questão a ser resolvida é sobre como surgiu  a proibição de um irmão casar coma viúva do irmão: se é uma Lei de Deus, o Papa Julio II errou e o casamento deixaria de ser válido, Henrique e Catarina estariam solteiros; se é uma lei humana, o Papa tem poder para dispensar os noivos e o casamento foi plenamente válido. 

A decisão Papal

Papa Clemente VII governou a Igreja
de 19 de Novembro 1523 até 25 de
Setembro de 1534. 
Em tratando-se de questões canônicas, a palavra final é sempre dada pelo Papa, e especialmente num caso envolvendo Reis, o problema foi apresentado direto para o Papa Clemente VII. É certo que questões políticas faziam parte da conjuntura, mas a questão era estritamente canônica.

Se o Livro de Levítico parece sustentar o caso de Henrique, o Livro de Deuteronômio 25,5 foi usado como contra-argumento: 

Quando irmãos morarem juntos, e um deles morrer, e não tiver filho, então a mulher do falecido não se casará com homem estranho, de fora; seu cunhado estará com ela, e a receberá por mulher, e fará a obrigação de cunhado para com ela.

O papa pediu aos teólogos e exegetas romanos que estudassem o caso. A conclusão foi que sendo toda Escritura inspirada por Deus, ambos trechos eram igualmente válidos. Levítico refere-se ao caso de traição conjugal, pois ambos irmãos estariam vivos; enquanto o Deuteronômio claramente fala de uma viúva do primeiro irmão.  Assim, apesar de algumas idas e vindas influenciadas pelas questões políticas, Papa Clemente VII afirmou que a dispensa concedida pelo Papa anterior fora válida e o casamento estava mantido. 

As consequências

Henrique VIII, que nesta altura já tinha filhos com Ana Bolena, decidiu por separar a Igreja da Inglaterra da Igreja Católica, e tornar-se o seu líder. Inspirado pela idéias de Lutero, que cada cristão é capaz de interpretar as Escrituras, casou-se oficialmente com Ana Bolena. Milhões de ingleses foram separados de sua Igreja e muitos foram martirizados, incluindo seu auxiliar direto, São Tomás Moore. 

-- autoria própria



6 de nov. de 2016

Testemunhemos a Deus pelas obras

Cristo curando os doentes, cegos e necessitados.
O Senhor usou para conosco de uma misericórdia tão grande que, primeiramente, nós, seres vivos, não sacrificássemos a deuses mortos nem os adorássemos, e levando-nos por Cristo ao conhecimento do Pai da verdade. E qual é o conhecimento que nos conduz a ele? Não é acaso não negar Aquele por quem o conhecemos? Ele mesmo declarou: Ao que der testemunho de mim, eu darei testemunho dele diante do Pai (cf. Lc 12,8). É este o nosso prêmio: testemunhar aquele por quem fomos salvos. Como o testemunharemos? Fazendo o que diz, sem desprezar seus mandamentos, honrando-o não com os lábios só, mas de todo o coração e inteligência. Pois Isaías disse: Este povo me honra com os lábios, seu coração, porém, está longe de mim (Is 29,13).

Portanto, não nos contentemos em chamá-lo de Senhor; isto não nos salvará. São suas as palavras: Não é quem me diz Senhor, Senhor, que se salvará, mas quem pratica a justiça (cf. Mt 7,21). Por isso, irmãos, demos testemunho pelas obras: amemo-nos mutuamente, não cometamos adultério, não nos difamemos uns aos outros nem nos invejemos, mas vivamos na continência, na misericórdia, na bondade. E sejamos movidos pela mútua compaixão, não pela cobiça. Confessemo-lo por estas obras, não pelas contrárias. Não temos de temer os homens, mas a Deus. Porque o Senhor disse aos que assim procediam: Se estiverdes comigo, reunidos em meu seio e não cumprirdes meus mandamentos, eu vos repelirei e direi: Afastai-vos de mim, não sei donde sois, operários da iniqüidade (cf. Mt 7,23; Lc 13,27).

Por conseguinte, irmãos meus, lutemos, sabendo que o combate está em nossas mãos. Muitos se entregam a lutas corruptíveis, mas somente são coroados aqueles que mais tiverem lutado e combatido gloriosamente. Lutemos, pois, também nós, para sermos todos coroados. Para isto, corramos pelo caminho reto, pelo combate incorruptível. Naveguemos em grande número para ele e pelejemos, a fim de obter a coroa. Se não pudermos todos ser coroados, que ao menos dela nos aproximemos. Convém-nos saber que se alguém se entrega a um combate corruptível, mas é surpreendido com o corruptor, é flagelado, afastado e expulso do estádio.

Que vos parece? Que deverá padecer quem corrompe o combate da incorrupção? Sobre aqueles que não guardam o caráter, se diz: Seu verme não morre, seu fogo não se extingue e serão dados em espetáculo a toda carne (Is 66,24).

-- Da Homilia de um Autor do século segundo

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