31 de out. de 2015

Porque somos levados ao politeísmo

Os homens são levados ao politeísmo por quatro motivos:

1. A fraqueza da inteligência humana. Há homens cuja inteligência não lhes permite ir além das coisas corpóreas e, por isso, não acreditam na existência de alguma natureza superior aos seres corpóreos. Pensam então que os mais belos e dignos seres corpóreos devem presidir o mundo e prestam um culto divino a eles. Assim consideram os astros do céu, o sol, a lua e as estrelas. Sobre eles fala o Profeta Isaías (51, 6): Levantai os olhos para o céu, volvei vosso olhar à terra: os céus vão desvanecer-se como fumaça, como um vestido em farrapos ficará a terra, e seus habitantes morrerão como moscas. Mas minha salvação subsistirá sempre, e minha vitória não terá fim . 

Muitas vezes estas razões não se manifestam por palavras, mas pelos atos. Aqueles que acreditam que os astros podem modificar a vida dos homens, que para agir devem esperar certas épocas, estão aceitando que os astros dominam os homens. Contra isto adverte a Palavra: Não imiteis o procedimento dos pagãos; nem temais os sinais celestes, como os temem os pagãos, porquanto os deuses desses povos são apenas vaidade (Jr 10, 2).

2 - A adulação dos homens. Muitos desejando adular reis e senhores, tributaram-lhes a honra devida a Deus. Obedecem e se submetem a eles. Há quem os endeuse após a morte, outros até em vida. Deles fala a Escritura: A multidão, seduzida pelo encanto da obra, em breve tomou por deus aquele que tinham honrado como homem. E isto foi uma cilada para a humanidade: os homens, sujeitando-se à lei da desgraça e da tirania, deram à pedra e à madeira o nome incomunicável. (Sab 14,21).

Também aqueles que obedecem aos reis mais que a Deus, constituem a essas pessoas como deuses. Adverte-nos também a Escritura: Convém mais obedecer a Deus que os homens (At 5,29).

3- A afeição carnal aos filhos e parentes. Alguns, levados por excessivo amos aos parentes, levantam-lhes estátuas após a morte e, assim, são conduzidos a prestar culto divino àquelas estátuas.

Também os que amam os filhos mais que a Deus revelam pelos seus atos que acreditam em muitos deuses. São Paulo nos adverte: Quanto a questões tolas, genealogias, contendas e disputas relativas à lei, foge delas, porque são inúteis e vãs (Tt 3,9).

4- A malícia do demônio. Este, desde o início, quis ser igual a Deus: Escalarei os céus e erigirei meu trono acima das estrelas. Assentar-me-ei no monte da assembléia, no extremo norte. Subirei sobre as nuvens mais altas e me tornarei igual ao Altíssimo. (Is 14,13). Até hoje não revogou essa vontade e esforça-se para que os homens o adorem e lhe ofereçam sacrifícios. Não lhe satisfaz a oferta de animais, mas deleita-se quando lhe é prestado o culto devido a Deus. Ele mesmo falou a Cristo: Dar-te-ei toda terra se de joelhos me adorares (Mt 4,9). Para que sejam adorados como deuses, se disfarçam de ídolos, Sobre eles fala a Escritura: os deuses dos pagãos, sejam quais forem, não passam de ídolos. Mas foi o Senhor quem criou os céus (Sl 95,5); as coisas que os pagãos sacrificam, sacrificam-nas a demônios e não a Deus. E eu não quero que tenhais comunhão com os demônios. (1Cor 10,20). 

Os que praticam a feitiçaria e se entregam aos sortilégios acreditam nos demônios como se eles fossem deuses, porque pedem aos demônios o que só se pode pedir a Deus, como revelações e conhecimentos sobre coisas futuras.

Como tudo isto é falso, devemos acreditar que há somente um Deus.

-- São Tomás de Aquino, Sermão sobre o Credo. (século XIII)

26 de out. de 2015

Insensato é não acreditar em Deus

Entre todas as verdades, em primeiro lugar deve-se acreditar que Deus existe. 

Além disso, deve-se considerar o que significa este nome - Deus. Significa precisamente Aquele que governa e cuida de todas as coisas. Acredita na existência de Deus quem acredita que todas as coisas deste mundo são governadas e estão subordinadas à sua Providência. 

Quem pensa que todas as coisas originam-se do acaso, não acredita na existência de Deus. Seria insensato não crer que a natureza seja governada por alguém, vendo que tudo se processa a seu tempo, com ordem. Vemos o Sol, a Lua, as estrelas e muitos outros elementos da natureza obedecerem um determinado curso. Ora, isso não aconteceria se houvesse caos. Eis por que é insensato não acreditar na existência de Deus, como lembra o salmista: O insensato diz em seu coração: não há Deus (Sl 13,1).

Há alguns que acreditam que Deus governa e ordena coisas naturais, mas não acreditam que governe os atos humanos. Pensam assim porque vêem no mundo os bons sofrerem e os maus prosperarem, concluem que a Providência de Deus não atinge os homens. 

Afirmar tal coisa seria grande insensatez. Seria como pensar que se o médico dá a um doente um remédio e a outro doente outro remédio, tudo é por acaso e não por motivo ponderado. Seria pensar que o médico é insensato. 

Pois Deus também age como médico. Por motivo justo e pela sua Providência, dispõe Ele as coisas necessárias aos homens, quando aflige alguns bons e permite que os maus prosperem. Acreditar que isto é obra do acaso é, evidentemente, insensato. 

Assim pensa porque desconhece a maneira de Deus agir e razão pela qual dispõe de todas as coisas. Lê-se em Jó: Oxalá Ele te revele os segredos da sua sabedoria e a multiplicidade dos seus planos (Jó 11,6). E no Livro dos Salmos: Disseram os maus: Deus não vê. O Deus de Jacó não percebe as coisas. Compreendei agora, é néscios! Ó estultos, até quando sereis insensatos? Aquele que nos orelhas, não ouve? Aquele que nos deus olhos, não vê? O Senhor conhece o pensamento dos homens (Sl 103, 7-10).

Deus vê todas coisas, os pensamentos, segredos dos homens. Como diz São Paulo: Tudo está nu e descoberto aos seus olhos (Hb 4, 13). 

-- Santo Tomás de Aquino, Sermão sobre o Credo. (século XIII)

20 de out. de 2015

Evangelização para vencer a crise das famílias

Este testemunho foi dado pela Dra Anca-Maria Cernea, Presidente da Associação dos Doutores Católicos de Bucareste (romênia), durante o Sínodo Ordinário sobre as Famílias, nesta sexta-feira passada. 

Sua Santidade, Bispos e padres, irmãos e irmãs, eu represento a Associação dos Doutores Católicos de Bucareste; sou da Igreja Católica Ortodoxa Greco-Romena. 

Meu pai era um líder político católico que foi preso pelos comunistas por 17 anos. Meus pais estavam noivos, prontos para casar, mas seu casamento aconteceu apenas 17 anos depois. Minha mãe esperou todos estes anos em que meu pai esteve preso, embora ela não soubesse se ele ainda estava vivo. Eles foram fiéis a Deus e sua promessa. O exemplo deles demonstra que a Graça de Deus pode superar terríveis circunstâncias sociais e a pobreza material.

Nós, doutores católicos, que defendemos a vida e a família, podemos ver em primeira mão esta batalha. A pobreza espiritual e o consumismo não são a causa primária da crise familiar. A causa principal está na revolução cultural e sexual, é ideológica.

Nossa Senhora de Fátima alertou que os erros da Rússia se espalhariam pelo mundo. Isto ocorreu primeiro de forma violenta, pelo Marxismo clássico, matando dezenas de milhões. Agora está ocorrendo através do marxismo cultural. Há uma clara continuidade desde a revolução de Lenin, através de Gramsci e a Escola de Frankfurt, até as atuais questões dos direitos dos gays e ideologia de gênero. 

O marxismo clássico pretendia reorganizar a sociedade através da tomada violenta da propriedade privada. Agora a revolução é mais profunda, pretende redefinir a família, identidade de sexo e a natureza humana. Esta ideologia chama-se de progressista mas não é nada além da antiga oferta da serpente, do homem poder controlar sua vida, sobrepor-se a Deus, para arranjar sua salvação aqui, neste mundo. É um erro de natureza religiosa, é o Gnosticismo.

É tarefa dos pastores reconhecer isto e alertar seu rebanho contra este perigo. Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo (Mt 6,33). A missão da Igreja é salvar almas. O Mal, neste mundo, vêm do pecado. Não da disparidade econômica ou das mudanças de clima. 

A solução é Evangelização e Conversão.

Não é aumentar o controle do governo. Não é um governo mundial. Estes são, hoje, os principais agentes impondo o Marxismo cultural a outras nações, sob a forma de controle da população, saúde reprodutiva, direitos dos gays, educação sexual, e outras coisas.

O que o mundo precisa não é limitação da liberdade, mas uma liberdade real, liberdade dos pecados. precisa de Salvação.

Nossa Igreja foi suprimida pela ocupação soviética, mas nenhum dos nossos 12 bispos traiu a comunhão com o Santo Padre. Nossa Igreja sobreviveu graças a determinação dos nossos bispos e seu exemplo resistindo à prisões e terror. Nossos bispos pediram à comunidade para não seguir o mundo, não cooperarem com os comunistas. Agora é tempo de Roma dizer ao mundo: Fazei penitência porque está próximo o Reino dos céus (Mt 3,2).

Não apenas nós, leigos católicos, mas todos cristãos ortodoxos estão ansiosamente rezando por este Sínodo. Por que, como dizemos, se a Igreja Católica der seu espírito para o mundo, será muito difícil aos outros critãos resistir contra a Igreja.



17 de out. de 2015

Sou trigo de Deus e serei moído pelos dentes das feras

Tenho escrito a todas as Igrejas e a todas elas faço saber que moro por Deus com alegria, desde que vós não me impeçais. Suplico-vos: não demonstreis por mim uma benevolência inoportuna. Deixai-me ser alimento das feras; por elas pode-se alcançar a Deus. Sou trigo de Deus, serei triturado pelos dentes das feras para tornar-me o puro pão de Cristo. Rogai a Cristo por mim, para que por este meio me torne sacrifício para Deus. 

Nem as delícias do mundo nem os reinos terrestres são vantagens para mim. Mais me aproveita morrer em Cristo Jesus do que imperar até os confins da terra. Procuro-o, a ele que morreu por nós; quero-o, a ele que por nossa causa ressuscitou. Meu nascimento está iminente. Perdoai-me, irmãos! Não me impeçais de viver, não desejeis que eu morra, eu, que tanto desejo ser de Deus. Não me entregueis ao mundo nem me fascineis com o que é material. Deixai-me contemplar a luz pura; quando lá chegar, serei homem. Concedei-me ser imitador da paixão de meu Deus. Se alguém o possui no coração, entenderá o que quero e terá compaixão de mim, sabendo quais os meus impedimentos. 

O príncipe deste mundo deseja arrebatar-me e corromper meu amor para com Deus. Nenhum de vós, aí presentes, o ajude! Ponde-vos de meu lado, ou melhor, do lado de Deus. Não podeis dizer o nome de Jesus Cristo, enquanto cobiçais o mundo. Que a inveja não more em vós! Mesmo que eu em pessoa vos rogue, não me acrediteis; crede antes no que vos escrevo, desejando morrer. Meu amor está crucificado, a matéria não me inflama, porque uma água viva e murmurante dentro de mim me diz em segredo: “Vem para o Pai”. Não sinto prazer com o alimento corruptível nem com os prazeres deste mundo. Quero o pão de Deus, a carne de Jesus Cristo, que nasceu da linhagem de Davi; e quero a bebida, o seu sangue, que é a caridade incorruptível. 

Não quero mais viver segundo os homens. Isto acontecerá se vós quiserdes. Rogo-vos que o queirais para alcançardes também vós a misericórdia. Com poucas palavras dirijo-me a vós; acreditai em mim! Jesus Cristo vos manifestará que digo a verdade; ele, a boca verdadeira pela qual o Pai verdadeiramente falou. Pedi vós por mim, para que o consiga. Não por motivos carnais, mas segundo a vontade de Deus vos escrevi. Se for martirizado, vós me quisestes bem; se rejeitado, vós me odiastes.

-- Da Carta aos Romanos, Santo Inácio de Antioquia, bispo e mártir (século I)

14 de out. de 2015

A luz que ilumina todo ser humano

A lâmpada posta sobre o candelabro é a paterna e verdadeira luz que ilumina todo ser humano que vem ao mundo (cf. Jo 1,9), nosso Senhor Jesus Cristo. Por ser um de nós e ter assumido nossa carne, tornou-se e foi chamado lâmpada. Isto é, a sabedoria e a palavra do Pai por natureza, que na Igreja de Deus é pregada com fé pura e, pela vida orientada pela virtude e observância dos mandamentos, é erguida e resplandece entre as nações. Ilumina a todos que estão em casa (a saber, neste mundo), conforme a mesma Palavra de Deus em certo trecho: Ninguém acende uma lâmpada e a põe sob uma vasilha, mas sobre o candelabro. E iluminará a todos que estão em casa (Mt 5,15), dando a si mesmo claramente o nome de lâmpada, porquanto, sendo Deus por natureza, fez-se homem segundo o desígnio divino.  

Parece-me que também o grande Davi, compreendendo isto, diz ser o Senhor uma lâmpada, ao dizer: Lâmpada para meus pés, a tua lei é luz para meus caminhos (Sl 118,105). Meu Salvador e Deus é tão luminoso que dissipa as trevas da ignorância e do vício. Também por isto a Escritura o designa como lâmpada.  

Na verdade só ele, qual lâmpada, desfaz a escuridão da ignorância, repele o negrume da maldade e do vício. Por este motivo fez-se o caminho de salvação para todos. Pelo poder e a ciência conduz ao Pai aqueles que estão resolvidos a nele caminhar, como pela via da justiça, nos divinos mandamentos. Por candelabro entende-se a santa Igreja, onde a palavra de Deus refulge pela pregação diante de todos quantos habitam neste mundo como em uma casa, ilumina com o esplendor da verdade e os espíritos ficam repletos da ciência divina.  

A palavra não se sujeita a ser posta sob uma vasilha, ela que se destina a ser colocada no mais alto cume e na imensa beleza da Igreja. Enquanto a palavra se acha presa à letra da lei, como sob uma vasilha, todos se privam da luz eterna. Não seria fonte de contemplação espiritual para aqueles que procuram libertar-se da sedução enganadora dos sentidos que nos inclinam a captar somente as coisas passageiras e materiais. Mas é colocada no candelabro da Igreja, a fim de iluminar a todos pela adoração em espírito e verdade.  

Se a letra não é interpretada segundo o seu espírito, não tem senão o valor material de sua expressão, e não permite que a alma chegue a compreender o sentido do que está escrito.  

Por conseguinte, tendo acendido a lâmpada (quer dizer, o sentido que acende a luz da ciência) pelo ato da contemplação e da ação, não a ponhamos sob uma vasilha. E também não sejamos acusados de falta por comprimir na letra o indizível poder da sabedoria.Mas sim sobre o candelabro (a santa Igreja) para que,do alto vértice da verdadeira contemplação, estenda a todos o facho da divina doutrina.

-- Das Respostas a Talásio, de São Máximo Confessor, abade (século VI)

10 de out. de 2015

28º Domingo do Tempo Comum - 11/10/2015

Mc 10,17-30

Naquele tempo, 17quando Jesus saiu a caminhar, veio alguém correndo, ajoelhou-se diante dele e perguntou: “Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?”
18Jesus disse: “Por que me chamas de bom? Só Deus é bom, e mais ninguém. 19Tu conheces os mandamentos: não matarás; não cometerás adultério; não roubarás; não levantarás falso testemunho; não prejudicarás ninguém; honra teu pai e tua mãe”.
20Ele respondeu: “Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha juventude”.
21Jesus olhou para ele com amor, e disse: “Só uma coisa te falta: vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!”
22Mas quando ele ouviu isso, ficou abatido e foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico.
23Jesus então olhou ao redor e disse aos discípulos: “Como é difícil para os ricos entrar no Reino de Deus!”
24Os discípulos se admiravam com estas palavras, mas ele disse de novo: “Meus filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! 25É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!”
26Eles ficaram muito espantados ao ouvirem isso, e perguntavam uns aos outros: “Então, quem pode ser salvo?”
27Jesus olhou para eles e disse: “Para os homens isso é impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo é possível”.
28Pedro então começou a dizer-lhe: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos”.
29Respondeu Jesus: “Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, 30receberá cem vezes mais agora, durante esta vida — casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições — e, no mundo futuro, a vida eterna.
Comentário:
Para aqueles que querem anunciar o Evangelho e seguir a Cristo por todo lado, ele pede homens livres de compromissos, que renunciem radicalmente às preocupações cotidianas com dinheiro, família e trabalho. Esta é uma mudança importante do entendimento judaico tradicional que via as riquezas como uma benção de Deus e a pobreza como sinal de afastamento. 
Leituras Relacionadas
Antigo Testamento
Livros Históricos
  • Exodo  20,12-16
  • Deuteronomio 5, 16-20
  • 1 Reis 3, 6-13
Livros Sapienciais e Proféticos
  • Salmos 89
  • Sabedoria 7, 7-11
Evangelhos
  • Mateus 19, 15-22
  • Lucas 18, 15-22
  • Mateus 10, 40
Cartas

7 de out. de 2015

Testamento espiritual de São João Bosco

Meus caros irmãos filhos em Jesus Cristo,

Antes de partir para a minha eternidade devo cumprir alguns deveres para convosco e assim satisfazer o grande desejo do meu coração. Antes de mais nada agradeço-vos com o mais vivo afeto do coração a obediência que me prestastes e todo trabalho que tivestes para sustentar e propagar a nossa Congregação.

Eu vos deixo aqui na terra, mas apenas por pouco tempo. Espero da infinita misericórdia de Deus que um dia nos possamos encontrar todos na feliz eternidade. Lá vos espero.

Recomendo-vos que não choreis a minha morte. É uma dívida que todos havemos de pagar, mas depois será copiosamente recompensado todo trabalho sofrido pelo amor de nosso Mestre, o nosso Bom Jesus.

Em vez de chorar, fazei firmes e eficazes resoluções de permanecerdes fiéis à vocação até a morte. Ficai atentos e cuidai a fim de que o amor do mundo, a afeição dos parentes, tampouco o desejo de uma vida mais cômoda não vos levem ao grande despropósito de profanar os santos votos e assim transredir a profissão religiosa, com que nos consagramos ao Senhor. Nenhum de nós tome de novo o que já demos a Deus.

Se me amastes no passado, continuais a amar-me no futuro com a exata observância das nossas Constituições.

Morreu o vosso primeiro Reitor. Mas o nosso verdadeiro Superior, Jesus Cristo, não morrerá.  Será ele sempre o nosso Mestre, nosso Guia, nosso Modelo. Não vos esqueçais, porém, de que a seu tempo será o nosso Juiz e Remunerador da fidelidade em seu serviço.

O vosso Reitor já não vive, mas será eleito outro que cuidará de vós e da vossa eterna salvação. Ouvi-o, amai-o, obedecei-lhe, rezai por ele, como fizestes para comigo.

Adeus, queridos filhos, adeus. No céu vos espero. Lá falaremos de Deus, de Maria, Mãe e sustentadora da nossa Congregação; lá bendiremos por todo o sempre esta nossa Congregação, cujas regras por nós observadas contribuíram poderosa e eficazmente para a nossa salvação. 

Bendito seja o nome do Senhor de agora até o século futuro (Sl 113, 2). Em ti, Senhor, esperei, não serei confundido na eternidade (Sl 71,1).

-- São João Bosco, padre (século XIX)

3 de out. de 2015

Encontro das Famílias 1997 - Discurso do Santo Papa João Paulo II

Eu gostaria de recolher aqui, em breve síntese, aquilo que haveis refletido, após uma intensa preparação catequética conforme o Magistério da Igreja, nas Assembléias Familiares, nas Dioceses, Paróquias, Movimentos e Associações. Foi, sem dúvida, uma formosa preparação, cujos frutos trazeis hoje aqui para proveito e alegria de todos.

Papa João Paulo II abraça Fafá de Belém, após ela cantar Ave Maria
A família é patrimônio da humanidade, porque é mediante a família que, conforme o desígnio de Deus, deve-se prolongar a presença do homem sobre a terra. Nas famílias cristãs, fundadas no sacramento do matrimônio, a fé nos vislumbra maravilhosamente o rosto de Cristo, esplendor da verdade, que enche de luz e de alegria os lares que inspiram a sua vida no Evangelho.

Hoje, infelizmente, vai-se difundindo pelo mundo uma mensagem enganosa de felicidade impossível e inconsistente, que só arrasta consigo desolação e amargura. A felicidade não se consegue pela via da liberdade sem a verdade, porque esta é a via do egoísmo irresponsável, que divide e corrói a família e a sociedade.

Não é verdade que os esposos, como se fossem escravos condenados à sua própria fragilidade, não possam permanecer fiéis à sua entrega total até à morte! O Senhor, que vos chama a viver na unidade de "uma só carne", unidade de corpo e alma, unidade da vida toda, dá-vos força para uma fidelidade que enobrece e que faz com que a vossa união não corra o risco da traição que rouba a dignidade e a felicidade e introduz, no seio do lar, divisão e amargura cujas maiores vítimas são os filhos. A melhor defesa do lar está na fidelidade que é uma dádiva do Deus fiel e misericordioso, num amor por Ele redimido.

Quero, uma vez mais, lançar aqui um clamor de esperança e liberdade. Famílias da América Latina e do mundo inteiro, não vos deixeis seduzir por esta mensagem de mentira que degrada aos povos, atenta contra as melhores tradições e valores, e faz cair sobre os filhos sofrimentos e tristezas. A causa da famíliia dignifica o mundo e o liberta para uma autêntica verdade sobre o ser humano, o mistério da vida, dom de Deus, do homem e mulher, imagens de Deus. É necessário lutar por esta causa para assegurar vossa felicidade e o futuro da família humana.

Daqui, nesta tarde, em que as famílias de todas as partes do mundo estreitam suas mãos, como uma imensa coroa de amor e feliciadade, lanço este convite para que trabalhem na edificação de uma nova sociedade na qual reine a civilização do amor; defendei, como dom precioso e insubstituível, vossas famílias; protegei-as com leis justas que combatam a miséria e o desemprego. que permitam aos pais cumprir sua missão. Como podem os jovens crer na família se não podem manter-la? A miséria destrui a família, impede o acesso a cultura e educação básica, corrompe os costumer, danifica a saúde de todos.  Ajudem as famílias, aí se joga o futuro.

Existe na história moderna numerosos fenômenos sociais que nos convidam a um exame de consciência sobre a família. Em muitos casos é necessário reconhecer com vergonha muitos erros e desvios. Como não denunciar os comportamentos, motivados pela irresponsabilidade, que conduzem a tratar o ser humano como simples instrumentos do prazer passageiro e vazio? Como não reagir ante à falta de respeito, pornografia e todo tipo de exploração, onde muitas vezes crianças e jovens são os mais sofredores?

As sociedades que se despreocupam da infância são desumanas e irresponsáveis. Os lares que não educam integralmente seus filhos, que os abandonam, cometem uma gravíssima injustiça de que deverão prestar contas diante do tribunal de Deus. Sei que não poucas famílias são, por vezes, vítimas de situações maiores que elas próprias. Em tais casos, ocorre fazer apelo à solidariedade de todos, porque as crianças acabam sofrendo todas as formas de pobreza: a da miséria econômica e, sobretudo, da miséria moral que produz o fenômeno a que aludia na Carta às Famílias: Há muitos órfãos de pais vivos! (n. 14).

Como foi lembrado pelo Cardeal Presidente do Pontifício Conselho para a Família, para servir de símbolo de uma caridade efetiva e fruto do Primeiro Encontro Mundial com as Famílias em Roma, foi concluída uma "Cidade das Crianças" em Ruanda, tendo sido construída com a ajuda de muitas pessoas e algumas generosas instituições; e começam a construir outra em Salvador da Bahia, naqueles mesmos Alagados que visitei e aos quais deixei um apelo à esperança e à promoção humana durante a minha primeira Visita Apostólica ao Brasil em julho de (mil novecentos e oitenta) 1980. Este esforço leva em si uma mensagem e um convite que dirijo ao mundo, através de vós famílias de todo o mundo: acolhei vossos filhos com um amor responsável; defendei-os como um dom de Deus, desde o momento em que são concebidos, em que a vida humana surge no ventre das mães; que o crime abominável do aborto, vergonha para a humanidade, não condene os concebidos à mais injusta das execuções: a dos seres humanos mais inocentes! Esta proclamação sobre o inestimável valor da vida desde o ventre materno e contra qualquer manobra de supressão da vida, quantas vezes a ouvimos dos lábios da Madre Teresa de Calcutá!? Ouvimo-la todos durante o Ato Testemunhal do Primeiro Encontro, em Roma. Aqueles lábios estão agora mudos pela morte. Mas a mensagem de Madre Teresa em favor da vida continua vibrante e convincente como nunca.

Neste Estádio, convertido agora pelo jogo de luzes como em vitrais de uma imensa Catedral, a celebração de hoje quer chamar a todos a um grande e nobre compromisso, sobre o qual invocamos a ajuda de Deus Onipotente: 

Pelas famílias, para que unidas no amor de Cristo, organizadas pastoralmente, presentes ativamente na sociedade, comprometidas na sua missão de humanização, de libertação, de construção de um mundo segundo o coração de Cristo, sejam realmente a esperança da humanidade!

Pelos filhos, para que cresçam como Jesus, no lar de Nazaré. No seio das mães, dorme a semente da nova humanidade. No rosto das crianças, brilha o futuro, o futuro milênio, o porvir que está nas mãos de Deus.

Pelos jovens, para que se empenhem, com grande entusiasmo, a preparar sua família de amanhã, educando-se a si mesmos para o amor verdadeiro que é abertura ao outro, capacidade de escuta e de resposta, compromisso de doação generosa, inclusive a custo de sacrifício pessoal, e disponibilidade à compreensão recíproca e ao perdão.

 Famílias de todo o mundo, quero concluir renovando um apelo: Sede testemunhos vivos de Cristo, que é «o caminho, a verdade e a vida» (cf. Carta às Famílias, 23)! Deixai que entrem no próprio coração os frutos do Congresso Teológico-Pastoral recém concluído. E que a graça e a paz da parte de Deus, nosso Pai, e da parte do Senhor Jesus Cristo, estejam convosco! (cf. 2 Cor1,2)

Maria, Rainha da Família, 

Sede da Sabedoria, Serva do Senhor, 
rogai por nós. Amém.

-- Papa João Paulo II, 4 de Outubro de 1997

* O Encontro das Famílias foi realizado em 1997 foi realizado no Rio de Janeiro.  A vigília foi realizada no Estádio do Maracanã, sábado à noite. 

1 de out. de 2015

Bem Aventurado Herman de Reichenau, o autor do Salve Rainha

Sempre que rezamos um Rosário, estamos também lembrando do Bem-Aventurado Herman de Reichenau, autor da oração Salve Rainha.  

Herman nasceu em 18 de Julho de 1013, filho do conde de Altshausen. Nasceu deformado, com palato fendido e sérios problemas nas costas, talvez espinha bífida, ou esclerose lateral amiotrófica ou atrofia muscular espinal. Seja qual fosse o problema, falava e andava com enorme dificuldades. Ainda criança, caiu doente de poliomielite, mas milagrosamente sobreviveu. Seguindo as práticas da época, quando completou sete anos, seus pais o colocaram no mosteiro beneditino de Reichenau, que fica isolado em uma ilha do Lago Constança, no Sul da Alemanha. Foi onde Herman passou o resto da sua vida.

Ali começou a estudar teologia e o mundo. Aos vinte anos tornou-se monge. Como não podia ajudar em nenhuma tarefa, passava os dias a rezar e estudar. Dele temos obras sobre geometria, aritmética, astronomia e teoria musical. Como historiador, compilou e organizou relatos, que até então eram dispersos, sobre os primeiros séculos da Igreja, incluindo a vida de Jesus Cristo e seus discípulos; além de um martiriológio dos cristãos sob domínio romano. Era fluente em várias línguas, incluindo o árabe, grego e latim; escreveu poesias e construia instrumentos musicais e astronômicos, em especial o astrolábio, um enorme avanço científico na época que viria a ser fundamental nas grandes navegações. Como compositor, temos ainda hoje os ofícios a São Gregório Magno, Santa Afra e São Wolfgang. 

Nos últimos anos de vida ficou cego. Foi nesta época que compôs o Salve Regina, um canto gregoriano para ser utilizado na Liturgia das Horas e Festas Marianas. Suas traduções são geralmente recitadas em forma de oração, cotidianamente no Rosário.

Faleceu em 24 de Setembro de 1054, aos 41 anos, de pleurite. A morte foi narrada assim por seu discípulo Bertoldo: Quando finalmente Deus decidiu livrar sua alma da tediosa prisão do mundo, Herman foi atacado pela pleurisia, tendo sofrido terrível e continuadamente por seus últimos dez dias. Numa manhã, após assistir a Santa Missa, lhe perguntei se sentia-se melhor. Ele respondeu que havia pensado muito sobre o bem e o mal, e todas as coisas que ainda pretendia escrever, mas que o mundo futuro, a vida eterna era muito mais desejável, que já era hora de partir. E assim foi. 

Seu corpo foi enterrado na tumba de sua família, que perdeu-se no tempo. Algumas de suas relíquais encontram-se em Zurique e imediações. Herman foi beatificado em 1863 pelo Papa Pio IX.

Texto em latim do Salve Rainha, como utilizado no canto:

Salve, Regina, Mater misericordiæ,
vita, dulcedo, et spes nostra, salve.
Ad te clamamus exsules filii Hevæ,
Ad te suspiramus, gementes et flentes
in hac lacrimarum valle.
Eia, ergo, advocata nostra, illos tuos
misericordes oculos ad nos converte;
Et Jesum, benedictum fructum ventris tui,
nobis post hoc exsilium ostende.
O clemens, O pia, O dulcis Virgo Maria.

-- Autoria própria

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