29 de jul. de 2017

Jesus, minha alegria


Jesu, meine Freude (Jesus, minha alegria) é um hino alemão escrito por Johan Frank em 1650. O texto foi composto a partir do ponto de vista de um fiel, que para enfrentar os inimigos e vaidades do mundo, conta com a proteção de Cristo para sustentar o seu Espírito em todas circunstâncias, contrastando imagens de tranquilidade e felicidade ao lado de Cristo, com as ameaças do Demônio. Sua inspiração é a Carta aos Romanos 8,1-2;9-11, que fala de Jesus Cristo libertando o homem dos pecados e morte.  


Várias composições foram escritas com base no texto, a mais notável é de Bach, que teria sido escrita para o funeral de Johanna Maria Käsin em 18 de Julho de 1723. É justamente esta a versão do vídeo acima.  

O texto, numa tradução livre, é:

1. Jesus, minha alegria,
alimento do meu coração,
Jesus, meu tesouro!
Ah, por quanto tempo
Meu coração tem sofrido
e te desejado!
Cordeiro de Deus, meu noivo,
Além de Ti, nada no mundo
Deve ser mais desejado por mim.

2. Não há nada de condenável
naqueles que estão em Cristo Jesus,
que não caminham de acordo com a carne,
mas deixam o Espírito conduzir seu caminho.

3. Sob a Tua proteção
Estou a salvo das tempestades,
De todos os inimigos.
Deixe Satanás enraivecido,
Deixe o inimigo bufar de raiva,
Jesus está ao meu lado.
Mesmo que haja raios e trovões,
pecados e o Inferno terrível,
Jesus está me protegendo.

4. A Lei do espírito,
que dá vida à Jesus Cristo,
Fez-me livre da Lei
do pecado e da morte.

5. O velho dragão me desafia,
A vingança da morte me desafia,
O medo também me desafia!
O ódio e o mundo me atacam,
Eu permaneço aqui cantando
Em paz e seguro!
A força de Deus está vigilante,
Céus e terra devem permanecer em silêncio,
Por mais que tentem me aterrorizar.

6. Tu, no entanto, não és de carne,
mas foste moldado pelo Espírito,
O Espírito de Deus vive em ti.
No entanto, quem não tiver o Espírito de Cristo, não é dEle.

7. Longe de todos tesouros,
Tu é meu deleite,
Jesus, minha alegria!
Longe de todas honras vãs,
Eu devo passar longe delas,
Devem permanecer desconhecidas para mim!
Miséria, necessidade, torturas, vergonha e morte,
Embora eu deva sofrer muitas delas,
Não podem me separar de Jesus.

8. Se Cristo estiver em ti,
Então o corpo está morto para o pecado,
Mas vive em ti o Espírito de vida,
Que te manterá na justiça.

9. Boa noite, existência
que deseja o mundo!
Tu não me agradas.
Boa noite, pecados,
Fiquem longe de mim,
Nunca mais retornem a luz!
Boa noite, orgulho e glória!
A ti, vida miserável e corrompida,
Boa noite deve ser dado!

10. Agora que o Espírito de Deus que ressuscitou Jesus dos mortos está sobre ti,
O mesmo que ressuscitou Jesus dos mortos irá fazer teu corpo mortal viver,
pelo poder do Espírito que está sobre ti.

11. Pois agora os espíritos da tristeza,
Estão derrotados pelo Mestre da Alegria,
Jesus que veio a nós.
Para aqueles que amam a Deus,
Mesmo em suas tribulações,
Deve ser pura felicidade.
Mesmo que tenha que suportar a zombaria e vergonha,
Tu estás ao meu lado mesmo no sofrimento,
Jesus, minha alegria.

-- autoria própria
-- tradução livre feita a partir do inglês, não do original alemão.

21 de jul. de 2017

Sobre as correntes de oração

Queridos amigas e amigos:
Preocupado com as constantes correntes de oração que me enviam, envolvendo trabalho, prosperidade, anjos, Nossa Senhora e Madre Teresa de Cálcuta, entre outras coisas, comorações lindas, mas sempre condicionando os efeitos a enviar para outras pessoas num período de alguns dias, para que possam continuar circulando, pedi ao Padre Adolfo Franco que me desse sua opinião sobre o assunto. Eis a sua resposta:
“Estas correntes de oração são uma ABERRAÇÃO que vai contra a fé, é querer manipular a Providência de Deus, que por ser Deus atua livremente e que não está sujeito a condições impostas pelos homens, como 'envie a dez pessoas', nem está enviando ameaças, tipo 'se não enviares, acontecerá o contrário e perderá a saúde ou dinheiro'.
E muito ruim que pessoas que deveriam uma formação cristã mais sólida enviem estas correntes: a fé cristão remove estas ameaças e não aceita estes tabus.
Poderia ler, entre outros textos, Deuteronômio 18, 10-12: 'Entre ti não se achará quem faça passar pelo fogo a seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro, nem encantador, nem quem consulte a um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos, pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao Senhor; e por estas abominações o Senhor teu Deus os lança fora de diante de ti.'
Estas fórmulas se utilizam nas correntes de oração estão, na verdade, convertendo Deus em uma receita: faça isto e obterás tal coisa, se não fizeres, uma maldição te atingirá.
Crer em Deus, sua paternidade e providência, é algo muito diferente. Não se trata de assegurarmos coisas mediante nossos esforços, mas confiar e se deixar conduzir pelas mãos de Deus.".

Um abraço e minhas orações.

-- Carta escrita pelo Padre Javier L. de Guevara, assessor espiritual dos Cursilhos de Cristandade, diocese de Córdoba.

18 de jul. de 2017

Tudo lhes acontecia em figura

A ti ensina o Apóstolo que todos os nossos pais estiveram debaixo da nuvem e todos atravessaram o mar e todos, conduzidos por Moisés, foram batizados na nuvem e no mar. Em seguida o mesmo Moisés diz no cântico: Enviaste teu espírito e o mar os cobriu. Nota que nesta passagem dos hebreus pelo mar já se prenuncia a figura do santo batismo, onde perece o egípcio, e liberta-se o hebreu. Não é isto o que diariamente o sacramento nos ensina, a saber, que a culpa é afogada, destruído o erro, e a santidade e toda inocência passam através dele?

Ouves que nossos pais estiveram debaixo da nuvem, a boa nuvem que refresca o ardor das paixões carnais, a boa nuvem que cobre com sua sombra aqueles que o Espírito Santo torna a visitar. Esta boa nuvem, em seguida, veio sobre a Virgem Maria e o poder do Altíssimo a envolveu com sua sombra, ao gerar a redenção do homem. Este milagre realizou-o Moisés em figura. Se, portanto, lá esteve o Espírito em figura, não estará aqui a realidade, já que a Escritura te diz que a lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade nos vieram por Jesus Cristo?

Em Mara a fonte era amarga. Nela Moisés mergulhou um lenho e ela se tornou doce. A água, sem a proclamação da cruz do Senhor, não tem utilidade alguma para a futura salvação. Ao ser, porém, consagrada pelo salutar mistério da cruz, é usada no banho espiritual e no cálice da salvação. À semelhança daquela fonte em que Moisés, isto é, o Profeta, pôs o lenho, também nesta fonte o sacerdote proclama a cruz do Senhor e a água se faz doce para a graça.

Não creias apenas nos teus olhos corporais. Enxerga-se muito melhor o que não se vê, porque o que vemos é transitório, isto é terreno. No entanto, se vemos o que os olhos não alcançam, enxergamos com coração e a mente.
Naaman banha-se no Rio Jordão milagrosamente curando-se da lepra.
Na época pensava-se que doenças eram consequencia de pecados cometidos
pelo doente, quanto mais severa a doença, mais graves os pecados.

Por fim ensina-te o trecho do Livro dos Reis: Naaman era sírio, tinha a lepra e ninguém podia purificá-lo. Então disse-lhe uma menina escrava que em Israel havia um profeta, que o poderia curar da lepra. Tomando consigo ouro e prata, Naaman dirigiu-se ao rei de Israel. Conhecendo o rei o motivo da vinda, rasgou as vestes em sinal de luto e declarou que este pedido tão além do poder real era antes um pretexto para um ataque contra o reino. Mas Eliseu mandou dizer ao rei que lhe enviasse o sírio para que lhe fosse dado conhecer como Deus estava em Israel. Tendo ele chegado, o profeta fez-lhe saber que devia mergulhar sete vezes no rio Jordão. Naaman começou, então, a pensar que melhores eram as águas de sua pátria, onde muitas vezes mergulhara e nunca ficara limpo da lepra e quis voltar, sem obedecer à ordem do profeta. Mas, diante do conselho insistente de seus servos, enfim concordou em banhar-se e, limpo no mesmo momento, compreendeu que não era por virtude da água que se tornara purificado, mas pela graça.

Ora, Naaman duvidou antes de ser curado. Tu, porém, já estás são: não podes duvidar!

-- Do Tratado sobre os Mistérios, de Santo Ambrósio, bispo (século IV)

8 de jul. de 2017

É necessário o padre dizer "eu te absolvo" após a Confissão?

A perfeição de todo ser ou ato está relacionada à sua forma. Da mesma forma, um sacramento perfeito tem uma forma perfeita, a forma perfeita dos sacramentos é aquela que torna visível o seu efeito. Ora, o sacramento da penitência consiste na remoçãodo pecado, essa remoção é expressa pelo sacerdote quando diz: Eu te absolvo.  Pois, os pecados são como amarras, segundo aquilo da Escritura: O homem será preso por suas próprias faltas e ligado com as cadeias de seu pecado (Pv 5,22). Portanto é claro que esta é a frase é convenientíssima para ressaltar o que acontece na Penitência, que somos libertos de nossos pecados quando ouvimos: Eu te absolvo.

Esta mesma perfeição de forma é visível em outros sacramentos. A forma do batismo é "Eu te batizo"; e a da confirmação "Eu te assinalo com o sinal da cruz e te confirmo com o crisma da salvação". Estas palavras são acompanhadas pelo uso da matéria, da água e dos santos óleos. No sacramento da Eucaristia, a consagração ocorre também com a ajuda da matéria, o pão e vinho, mas a verdade da consagração é expressa quando o sacerdote diz: "Isto é o meu corpo". Mas o sacramento da penitência não consiste na consagração de matéria nenhuma nem utiliza qualquer matéria santificada; mas antes, na remoção do pecado, quando o sacerdote declara: Eu te absolvo.

Agora vamos discutir alguns argumentos contrários e respondê-los:

1. Se Cristo não disse "Eu te absolvo", porque os sacerdotes usam esta frase?

A frase em questão é tirada das próprias pa­lavras que Cristo disse a Pedro: Tudo o que ligares sobre a terra, será ligado nos céus (Mt 18,18). "Eu te absolvo" é a forma que a Igreja utiliza na absolvição sacramental para indicar que os pecados estão desligados - desvinculados - da pessoa.

2. Nas absolvições dadas em público, o padre não diz "Eu te absolvo".


Objeção: No uso comum, em certas absolvições públicas na Igreja, o celebrante não fala no modo indicativo, dizendo "Eu te absolvo", mas em modo de súplica, dizendo "Que Deus oni­potente tenha misericórdia de vós", ou, "Deus onipo­tente vos dê a absolvição". Ainda, o Papa Leão (I) disse: "não podemos obter o perdão de Deus senão pelas súplicas dos sacerdotes".

Resposta: As absolvições dadas em público são orações voltadas à remissão dos pecados veniais. A oração do sacerdote não está, objetivamente, perdoando os pecados cometidos por cada pessoa, mas pedindo a Deus que os absolva. No sacramento da Penitência há algo mais, os pecados são efetivamente perdoados, e isto é confirmado quando o sacerdote declara "Eu te absolvo".

3. Somente Deus pode absolver os pecados


Objeção: Absolver e perdoar são sinônimos. Como diz Santo Agostinho, somente Deus pode perdoar os pecados, purificar-nos interiormente deles Logo, osacerdote não deveria dizer "Eu te absolvo".

Resposta:  Só Deus, pela sua autoridade, pode perdoar os pecados. Os sacerdotes, através do seu minis­tério, são instrumentos de Deus em todos sacramentos. É a virtude divina que realiza a obra interiormente, realizando aquilo que é visível nos sinais sacramen­tais, suas palavras e gestos. Isto é claro pelo que Cristo disse a Pedro: "Tudo o que desatares sobre a terra, etc."; e também aos discípulos: "Aos que vós perdoardes os pecados, ser-­lhes-ão perdoados" (Jo 20, 23). Eu te absolvo está de acordo com as palavras ditas pelo Senhor quando deu o po­der das chaves. Como o sacerdote absolve na qualidade de ministro, se acrescentam palavras concernentes à primária autoridade de Deus, e são: Eu te absolvo em nome do Padre e do Filho e do Espírito Santo; ou seja, por virtude da paixão de Cristo; ou, por autoridade de Deus. Não sendo porém esse acréscimo determinado pelas palavras de Cristo, como no batismo, isso é deixado ao arbítrio dos sacerdotes.

4. Milagres de cura são realizados por Deus, mas parece que o milagre do perdão dos pecados é realizado pelo sacerdote.


Objeção: Assim como o Senhor deu aos discípulos o poder de absolver dos pecados, tam­bém lhes deu o poder de curar as enfermidades e expulsar os demônios. Ora, para curar os enfermos os Apóstolos não pronunciavam as palavras "Eu te curo", mas ­O Senhor Jesus Cristo te cure. Logo, parece que os sacerdotes, recebendo um poder outorgado por Cristo aos Apóstolos, não devem usar da fórmula - Eu te absolvo; mas - Cristo te dê a absol­vição.


Resposta: Aos Apóstolos não foi dado o poder de, por si mesmos, curarem os en­fermos, mas que estes fossem curados pelas ora­ções deles. Foi-lhes porém conferido o poder de celebrar os sa­cramentos. Por onde, nos sacramentos pode usar o modo indicativo - Eu te absolvo - mas quando curar doenças ou expulsam demônios, falam em forma de súplica - Que Deus te cure. Mas isto não é absoluto, às vezes, pois Pedro ordenou ao coxo - O que tenho isso te douEm nome de Jesus Cristo levanta-te e anda.

5. A absolvição dos pecados seria dependente de uma revelação de Deus, que não ocorre comumente a cada confissão. 


Objeção: Como lemos no Evangelho, antes de Cristo ter dito a Pedro: "Tudo o que ligares sobre a terra, etc.", disse-lhe: "Bem-aventurado és, Simão, filho de João, porque não foi a carne e sangue quem te revelou, mas sim meu Pai, que está nos céus (Mt 16, 17)"Assim, parece que o sacerdote, a quem não foi nenhuma feita revelação, diz presunçosamente "Eu te absolvo".


Resposta: Os sacramentos da Lei Nova não só signi­ficam, mas também realizam o que significam, e isto nos assegura a revelação "geral" da nossa fé, não sendo necessária uma revelação particular a cada sacramento.  Quando o sacerdote batiza alguém, o declara interiormente purificado, por palavras e por atos que não somente significam, mas produzem essa purificação; assim também quando diz  "Eu te absolvo", declara o penitente absolvido, não só significativa, mas também efetivamente.   Tanto no batismo quanto na penitência, o sacerdote age com a certeza da fé. Assim também todos outros sacramen­tos da lei nova produzem por si mesmos um efeito, em virtude da paixão de Cristo. 

Ao penitente que acreditar nesta absolvição, os horizontes se abrem. Como exemplo, Santo Agostinho declara: "Não é vergonhosa nem difícil, depois de perpetrado, mas expiado o adultério, a reconciliação dos cônjuges, quando, pelo poder das chaves do reino dos céus, não se tem mais dúvida sobre a remissão dos pecados".

-- adaptado da Suma Teológica, III parte, questão 84, artigo 3, de São Tomás de Aquino


1 de jul. de 2017

A confissão é necessária para a Salvação?

Será a confissão necessária para a Salvação? Não basta apenas confessar os pecados para Deus? Vejamos o que diz São Tomás de Aquino:

Há dois modos de um ato ser necessário à salvação:

  • obrigatório: trata-se de atos sem os quais não se pode alcançar a salvação, como a graça de Cristo e o sacramento do batismo pelo qual renascemos em Cristo. 
  • condicional, como o sacramento da penitência, pois é necessário apenas àqueles que estão em pecado. Conforme diz a Escritura: Assim, Senhor, Deus dos justos, não pediste penitência para os justos, para Abraão, Isaac e Jacó, que não pecaram contra Ti, mas pediste penitência para mim, que sou pecador (*) E na Carta a Tiago: Ora, o pecado, quando tiver sido realizado, gera a morte (Tg 1,5). 

Logo, para alcançar a salvação, é necessário que o pecador seja purificado do pecado, o que não pode ocorrer sem o sacramento da penitência, no qual a virtude da paixão de Cristo, a absolvição do sacerdote e a confissão do pecador cooperam com a graça para perdoar o pecado.

Por onde é claro que o sacramento da penitência é necessário à salvação, depois do pecado; assim como o remédio é necessário ao corpo de quem caiu em grave doença.

1. Mas arrepender-se de seus pecados não é suficiente?

O Salmo 126, 5-6 diz que "Os que semeiam entre lágrimas, colherão com alegria. Na ida, caminham chorando, os que levam a semente. Na volta, virão com alegria, quando trouxerem os seus feixes". E sobre esta tristeza que salva, São Paulo escreveu aos Coríntios: Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte (2Co 7,10). Logo, o arrependimento sem a penitência bastaria à salvação.

Este argumento é parcial, pois apenas a boa intenção e o arrependimento não são suficientes para libertar do pecado; se bastassem, não haveria causa para tristezas. Mas quando a boa intenção é vencida pelo pecado, não pode ser restituída plenamente sem a penitência, pois a tristeza com os pecados remete ao passado, a absolvição dos pecados impulsiona o futuro.

A caridade não é suficiente para apagar os pecados?

A Escritura diz: A caridade cobre todos os delitos (Pv 10,12). E a seguir: Os pecados purificam-se pela misericórdia e pela fé (Pv 16,6). Ora, se o objetivo deste sacramento é só purificar os pecados, tendo caridade, fé e misericórdia, podemos alcançar a salvação, mesmo sem o sacramento da penitência.

Nem a fé, nem a caridade nem a misericórdia podem, sem a penitência, tirar-nos do estado de pecado. Pois a caridade não exige que nos arrependamos da ofensa cometida contra o amigo, nem que nos reconciliemos com ele. A fé requer que, pela virtude da paixão de Cristo, nos justifiquemos dos nossos pecados. E por fim também a misericórdia pede que reparemos pela penitência a nossa miséria, em que nos precipitou o pecado, segundo aquilo da Escritura: o pecado é a vergonha dos povos (Pv 14,34). Donde o outro dito da Escritura: deixa lá a tua oferta diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão (Mt 5:24).

Cristo não perdoou sem confissão ou penitência?

Os sacramentos da Igreja começaram com a instituição de Cristo. Ora, como lemos no Evangelho, Cristo perdoou a mulher adúltera, sem penitência (cf Jo 8,1-11). Logo, parece não ser a penitência necessária à salvação.

Pela excelência do poder, que só Cristo tinha, é que concedeu à mulher adúltera o efeito do sacramento da penitência - a remissão dos pecados - sem esse sacramento; embora não sem a penitência interior, que operou nela pela graça.

-- adaptado da Suma Teológica, III parte, questão 84, artigo 5, de São Tomás de Aquino

 (*) Este trecho de 2Cr 11 não está incluído na Bíblia Católica atual, mas faz parte de várias versões históricas, é um apêndice na Vulgata, provavelmente usada por São Tomás de Aquino, e ainda é mantido na versão luterana. 

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