4 de jul. de 2020

Santo Isaac Jogues, mártir em terras americanas

Santo Isaac Jogues (1607-1646) e suas mãos mutiladas



Isaac Jogues nasceu em 10 de Janeiro de 1607, filho de Laurent and Françoise, na cidade de Orleans, França, foi o quinto do filho do casal, que teria ainda outros quatro. Aprendeu a ler em casa, aos 10 anos começou a frequentar uma escola jesuíta; aos 17 iniciou seu noviciado em Rouen, professou seus votos em 1626 e, após estudar Teologia em Paris, foi ordenado padre em 1636.

Nesta época alguns padres retornaram das missões na América e contaram as muitas tribulações e até torturas que sofreram. Isaac, no entanto, viu a necessidade de ir catequizar estes índios, para que pudessem se converter e modificar suas vidas. Logo após sua ordenação, foi enviado para o Canadá, onde trabalharia com os índios Huron e Algonquins, aliados dos franceses.

Missão no Canadá

Chegou em Quebec no dia 2 de Julho. Para sua mãe escreveus: “Não sei como é entrar no paraíso, mas isto e - será difícil eu sei - será difícil estar tão alegre como quando coloquei meus pés neste mundo novo e celebrei minha primeira Missa no dia da Visitação de Nossa Senhora”.

Em 11 de Setembro chegou na vila de São José, onde permaneceria. Uma epidemia atingiu a vila, resultando em índios e missionários muito doentes. Após se recuperar, pode iniciar seu trabalho de evangelização. Os índios convidavam os padres a visitar as vilas e ensiná-los sobre Deus. Viveu na vila por seis anos, aprendeu a linguagem, comida, usos e costumes dos índios, com que compartilhavam o mesmo modo de viver.

Nesta época, índios das tribos ao sul, atual Estados Unidos, começaram a contar que os colonizadores estavam ingleses e holandeses estavam trazendo calamidades e que os índios estavam lutando contra eles.

Isaac e um companheiro, Padre Garnier, decidiram rumar para o sul, na direção do estado de Ontátrio. Lá não foram recebidas por quase nenhuma vila de índios e seu trabalho, neste sentido, foi um tanto inútil. Em Setembro de 1641, Isaac e Padre Charles foram visitar a tribo dos Oijbwe. Lá foram bem recebidos por dois mil índios e construíram uma residência.

Prisão e torturas

Em 3 de Agosto de 1642, Padre Isaac, dois leigos franceses e um grupo de índios Hurons estavam retornando para Quebec quando foram atacados por índios Mohawk. Jogues conseguiu se esconder, mas percebeu que os índios haviam capturados muitos prisioneiros e decidiu se entregar pois assim poderia ajudá-los e ministrar os últimos sacramentos aos cristãos do seu pequeno rebanho.

Percebendo que Isaac era padre, tornou-se o alvo preferencial dos Mohawk que bateram com bastões, quebraram a ponta dos dedos e depois cortaram a carne até aparecer os ossos. Dali marcharam até a vila da tribo, onde passaram por uma espécie de corredor, um por vez, formado pelos guerreiros. Enquanto passavam pelo corredor, eram espancados. Uma índia cortou o dedão da mão direita de Isaac. Foram todos amarrados e as crianças jogavam carvão quente neles. Dali foram levados para outra vila, onde permaneceram amarrados por alguns dias, até que um dia decidiu que era suficiente. Durante este período, Isaac permaneceu rezando e encorajando seus companheiros.

Ao saber da captura, um comandante holandês da região tentou negociar com os Mohawk a liberação dos europeus, mas estes negaram qualquer proposta, apenas prometeram que não os matariam. Eles permaneceram prisioneiros, com pouca comida e sem vestimenta adequada para o inverno. Tinham que caçar para comer, mas os índios não lhes davam nenhuma arma. Num dia muito frio de inverno, Isaac percebeu que uma índia que estava grávida caiu num rio com grande correnteza; ele pulou na água e a salvou.

No outono de 1643, os índios levaram seus prisioneiros para negociar com os holandeses. Estes conseguiram tomá-los dos índios e os colocaram em um barco que os conduziu pelo Rio Hudson até Nova Iorque. Isaac foi o primeiro padre a visitar a cidade, ainda dominada pelos protestantes holandeses. Lá ele aguardou um navio que pudesse levá-lo de volta para a França.

Estadia na França

Ao chegar à França, Isaac foi considerado como um mártir vivo, por tudo que sofrera. Segundo as normas da época, o padre só poderia tocar o Santíssimo Sacramento com dois dedos para ter o mínimo contato possível, mas com suas mãos mutiladas, isto era impossível. O Papa Urbano VIII, ao saber do caso, concedeu-lhe uma dispensa especial. 
Imagem na porta da Catedral de São Patrício, em Nova Iorque.


Retorno ao Canadá

Na primavera de 1646, Isaac foi enviado para Canadá junto com o jesuíta Jean de Lalande, onde deveria negociar um acordo com os Mohawk, a idéia era conseguir estes dessem passagem para os franceses e seus aliados, os índios Huron.

Eles não foram bem recebidos pelos Mohawk que achavam que praticavam uma espécie de magia negra. Epidemias de febre, sarampo e varíola, que matavam muitos índios, não ajudavam os franceses. Além disso, Isaac conhecia muito bem o território e passou a ser visto como uma ameaça.

Em 18 de Outubro de 1646, os MOhawk mataram Isaac Jogues e, no dia seguinte, Jean de Lalande. Seus corpos foram jogados no Rio Mohawk, no atual estado de Nova Iorque.

Como Santo Isaac Jogues escreveu, a vida de prisioneiro, sofrimentos e tortura, eram sua participação nos sacrifícios de Cristo. Ele escreveu que: “Jesus está nos concedendo estes sofrimentos para que participemos nas suas cruzes”. Ele contou que teve uma visão onde havia uma procissão de vítimas de torturas entrando no Paraíso e dizendo “pecadores construíram monumentos e deixaram marcas de sua ira nas minhas costas”. Para ele, tudo isto era sua participação na Paixão de Cristo e, por isto, retornou para o Canadá, para  morte quase certa. Isto ele deixou claro para sua mãe, quando antes da segunda viagem, lhe escreveu que “meu coração diz que eu devo aceitar esta missão, que eu devo ir e não retornarei”.

Canonização

Santo Isaac Jogues foi canonizado pelo Papa Pio XI em 29 de Junho de 1930 junto com outros mártires. Sua festa ocorre em 19 de Outubro . O principal santuário em sua honra está localizado na cidade de Auriesville, estado de Nova Iorque.

-- autoria própria

1 de jul. de 2020

Venha a nós o vosso reino


Quem haverá, por mais irrefletido que seja, que, desejando fazer um pedido a uma pessoa importante, não discuta consigo mesmo como lhe falará, de forma a lhe agradar e não o aborrecer? Pensará também no que lhe irá pedir e para que fim, sobretudo quando se trata de coisa tão importante, como a que nosso bom Jesus nos ensina a pedir. Na minha opinião, é isso o mais fundamental.
 
Não poderíeis, Senhor meu, englobar tudo numa palavra e dizer: “Dai-nos, ó Pai, o que for conveniente e adequado?” Assim nada mais seria preciso dizer a quem tudo conhece com perfeição.

Tempestade no Mar da Galiléia, Rembrandt.
Isto na verdade, ó eterna Sabedoria, seria suficiente entre vós e vosso Pai, e foi assim que orastes no Horto de Getsêmani. Vós lhe manifestastes vossa vontade e temor, mas vos conformastes totalmente à sua vontade. Quanto a nós, Senhor meu, sabeis não sermos tão conformados assim, como o fostes à vontade do Pai. Por esta razão, cumpre pedir coisa por coisa. Deste modo, refletiremos antes se nos convém o que pedimos. Em caso contrário, deixemos de pedi-lo. De fato, somos assim: se não nos for concedido o que pedimos, este nosso livre-arbítrio não aceitará o que o Senhor nos der. Porque, embora seja o melhor quanto o Senhor nos der, se não vemos logo o dinheiro na mão, nunca pensamos ser ricos. Por isso Jesus nos ensina a dizer as palavras com que pedimos a vinda de seu reino: Santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino. Admirai, minhas filhas, a profunda sabedoria de nosso Mestre! Considero eu aqui – e para nós é bom entender – o que pedimos com este reino. A majestade de Deus via que não podíamos santificar ou glorificar como seria bom este santo nome do Pai eterno, de acordo como pouquinho que podemos, a menos que sua Majestade não providenciasse, dando-nos aqui o seu reino. Por isso o bom Jesus pôs um pedido ao lado do outro. Para entendermos o que pedimos e quanto interessa pedirmos, importuna e ardentemente, e, além disso, fazer tudo que estiver a nosso alcance para satisfazer àquele que no-lo dará, quero expor-vos aqui o que sobre isso compreendo.

O supremo bem que me parece existir no reino dos céus é que já não se dá valor às coisas da terra. Sendo assim, há um alegrar-se da alegria de todos, uma paz perpétua, uma satisfação imensa em si mesmos por ver que todos engrandecem ao Senhor e bendizem seu nome, sem ninguém mais o ofender com seus pecados. Todos o amam e em seu coração não anseiam nada mais do que amá-lo, nem podem deixar de amá-lo, porque o conhecem. É assim que o deveríamos amar também aqui, embora não o possamos com toda esta perfeição e em sua essência. Pelo menos, nós o amaríamos muito mais do que o amamos, se melhor o conhecêssemos.

-- Do livro O Caminho da Perfeição, de Santa Teresa, virgem (século XVI)

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