1 de jul. de 2017

A confissão é necessária para a Salvação?

Será a confissão necessária para a Salvação? Não basta apenas confessar os pecados para Deus? Vejamos o que diz São Tomás de Aquino:

Há dois modos de um ato ser necessário à salvação:

  • obrigatório: trata-se de atos sem os quais não se pode alcançar a salvação, como a graça de Cristo e o sacramento do batismo pelo qual renascemos em Cristo. 
  • condicional, como o sacramento da penitência, pois é necessário apenas àqueles que estão em pecado. Conforme diz a Escritura: Assim, Senhor, Deus dos justos, não pediste penitência para os justos, para Abraão, Isaac e Jacó, que não pecaram contra Ti, mas pediste penitência para mim, que sou pecador (*) E na Carta a Tiago: Ora, o pecado, quando tiver sido realizado, gera a morte (Tg 1,5). 

Logo, para alcançar a salvação, é necessário que o pecador seja purificado do pecado, o que não pode ocorrer sem o sacramento da penitência, no qual a virtude da paixão de Cristo, a absolvição do sacerdote e a confissão do pecador cooperam com a graça para perdoar o pecado.

Por onde é claro que o sacramento da penitência é necessário à salvação, depois do pecado; assim como o remédio é necessário ao corpo de quem caiu em grave doença.

1. Mas arrepender-se de seus pecados não é suficiente?

O Salmo 126, 5-6 diz que "Os que semeiam entre lágrimas, colherão com alegria. Na ida, caminham chorando, os que levam a semente. Na volta, virão com alegria, quando trouxerem os seus feixes". E sobre esta tristeza que salva, São Paulo escreveu aos Coríntios: Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte (2Co 7,10). Logo, o arrependimento sem a penitência bastaria à salvação.

Este argumento é parcial, pois apenas a boa intenção e o arrependimento não são suficientes para libertar do pecado; se bastassem, não haveria causa para tristezas. Mas quando a boa intenção é vencida pelo pecado, não pode ser restituída plenamente sem a penitência, pois a tristeza com os pecados remete ao passado, a absolvição dos pecados impulsiona o futuro.

A caridade não é suficiente para apagar os pecados?

A Escritura diz: A caridade cobre todos os delitos (Pv 10,12). E a seguir: Os pecados purificam-se pela misericórdia e pela fé (Pv 16,6). Ora, se o objetivo deste sacramento é só purificar os pecados, tendo caridade, fé e misericórdia, podemos alcançar a salvação, mesmo sem o sacramento da penitência.

Nem a fé, nem a caridade nem a misericórdia podem, sem a penitência, tirar-nos do estado de pecado. Pois a caridade não exige que nos arrependamos da ofensa cometida contra o amigo, nem que nos reconciliemos com ele. A fé requer que, pela virtude da paixão de Cristo, nos justifiquemos dos nossos pecados. E por fim também a misericórdia pede que reparemos pela penitência a nossa miséria, em que nos precipitou o pecado, segundo aquilo da Escritura: o pecado é a vergonha dos povos (Pv 14,34). Donde o outro dito da Escritura: deixa lá a tua oferta diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão (Mt 5:24).

Cristo não perdoou sem confissão ou penitência?

Os sacramentos da Igreja começaram com a instituição de Cristo. Ora, como lemos no Evangelho, Cristo perdoou a mulher adúltera, sem penitência (cf Jo 8,1-11). Logo, parece não ser a penitência necessária à salvação.

Pela excelência do poder, que só Cristo tinha, é que concedeu à mulher adúltera o efeito do sacramento da penitência - a remissão dos pecados - sem esse sacramento; embora não sem a penitência interior, que operou nela pela graça.

-- adaptado da Suma Teológica, III parte, questão 84, artigo 5, de São Tomás de Aquino

 (*) Este trecho de 2Cr 11 não está incluído na Bíblia Católica atual, mas faz parte de várias versões históricas, é um apêndice na Vulgata, provavelmente usada por São Tomás de Aquino, e ainda é mantido na versão luterana. 

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