O ícone da Santíssima Trindade foi pintado pelo monge André Rublev em 1425. Uns cento e cinquenta anos após, o Concílio da Igreja Ortodoxa definiu-o como modelo para todas representações da Trindade.
O ícone possui três níveis de representação:
1. Em primeiro lugar, lembra o relato bíblico da visita dos três peregrinos a Abraão (Gn 18, 1-5). O bem-aventurado Abraão recebe os três anjos em sua tenda, como se fossem a divindade una e trina. Abraão e Sara não estão representados, ficam em segundo plano, para que se possa apreciar mais profundamente Trindade que visita a humanidade, um fato realmente surpreendente.
2. Os três anjos celestes formam um conselho celeste; a tenda de Moisés é um alto palácio; o carvalho de Mambré é a árvore da vida; e no centro da mesa está o cálice de vinho, sinal da presente de Cristo como alimento eterno.
Os três anjos estão sentados, mas são altos, as asas se elevam ao céus, há algo de impossível na composição que desafia a gravidade. A perspectiva irreal elimina a distância, mostra que não apenas Deus está presente, como também está próximo, em primeiro plano.
As três pessoas estão conversando, mas sobre o que? A Palavra de Deus sempre se torna real, o cálice do sacrifício está no centro. Os anjos estão a conversar sobre o Cristo, pois Deus amou o mundo de tal maneira que deu a seu único filho como sacrifício (Jo 4,9).
3. O terceiro nível está apenas sugerido, é transcendente e inacessível aos sentidos humanos, mas a fé pode relevelá-lo. A essência de Deus é o amor, o amor que sente pelo mundo é o mesmo amor que tem pelo seu Filho. O cálice representa este amor em torno do qual se sustenta a Santíssima Trindade; no cálice está o Cordeiro imolado, a comida celeste dos últimos tempos prometida no Livro do Apocalipse. Os anjos estão repouso, pois o sacrifício pascal já trouxe a salvação ao mundo, podem comtemplar ao Cristo em êxtase. Eles lembram São Gregório de Nissa: "O maior paradoxo é que estabilidade e o movimennto provém de Deus".
As figuras dos anjos
Os três anjos estão desenhados de maneira semelhante, são idênticos para revelar a igualdade dentro da Santíssima Trindade. Para identificá-los, é necessário olhar as figuras acima dos anjos: na direita temos Cristo, o esposo da Igreja representada pelo prédio ; à esquerda está o Espírito Santo, indicado pelas altas rochas, das quais se deve proclamar a palavra de Deus para o mundo; no centro está Deus, a árvore da vida.
Deus está olhando e falando para o Filho; seu poder vêm do amor e revela-se pela comunhão. O Filho cumpre a palavra do Pai, também conduz ao Pai (Jo 14, 6). Entender esta comunhão entre Deus e o Pai é entender a comunhão entre Deus e a humanidade. Ao conversar com o Filho, Deus está se revelando a Cristo, também está se revelando à humanidade.
O Filho está atento ao Pai, abandonado de si mesmo. As palavras que anuncia não são dele, Cristo não fala por si mesmo, mas repete as palavras que ouviu do Pai. É o exemplo para os homens, ouvir a Deus, falar as palavras de Deus.
O Espírito Santo está contemplando ao Pai e ao Filho; o único caminho da Salvação. A cabeça levemente inclinada revela sua doçura; é o espírito consolador.
As mãos direita do Pai e Espírito Santo estão estendidas em direção ao cálice, abençoando o sacrifício de Cristo presente. O movimento parte deles e culmina no Cristo; é o impulso que ilumina toda cena, as três pessoas dominam o ícone, mas no centro deles está o cálice da comunhão, o centro da história da salvação.
* Já havia publicado uma breve explicação da Santíssima Trindade, como inspirada pelo ícone; nos próximos dias escreverei algo sobre a composição e cores do ícones.
-- -- adaptado do original em espanhol
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