Talvez Deus esteja pedindo para que sacrifiquemos nosso Isaac, como Abraão, sacrificar aquela pessoa, um bem, um projeto, uma fundação, uma tarefa que gostamos, que Deus confiou a nós e para o qual temos dedicado nossas vidas. Esta é a ocasião que Deus está oferecendo para mostrar que confiamos nele, mais do que nos presentes, mais do que em nossas idéias.
Deus disse a Abraão, "Eu te fiz pai de muitas nações" (Gn 17,5) e após o teste de Isaac, diz, “Juro por mim mesmo, diz o Senhor: pois que fizeste isto, e não me recusaste teu filho, teu filho único, eu te abençoarei. Multiplicarei a tua posteridade como as estrelas do céu, e como a areia na praia do mar. Ela possuirá a porta dos teus inimigos, e todas as nações da terra desejarão ser bendita como ela, porque obedeceste à minha voz” (Gn 22,16-18). Ele disse o mesmo a Maria, e ainda mais: Eu te farei mãe de todas nações da terra, mãe da Igreja! Todas as gerações te chamarão abençoada e por ti serão abençoadas.
Um dos líderes do Protestantismo, Calvino, enquanto comentaca o livro do Gênesis 12,3 ("todas as famílias da terra serão benditas em ti”), diz que "Abraão não é apenas um exemplo, mas é uma fonte de bençãos". Isto ajuda a esclarecer a afirmação de Santo Irineu para todos cristãos, que disse "Assim como Eva, pela sua desobediência, tornou-se causa de morte para todos homens, Maria, pela sua obediência, tornou-se motivo de salvação para si mesma e todos nós". Também Maria não é apenas um exemplo, mas uma fonte de bençãos, por que foi instrumento de Deus, pela Sua graça, não pelo seu mérito.
A Bíblia nos conta que Judite, após arriscar sua vida em favor do povo judaico, retornou a sua cidade e o povo correu para encontrá-la, o sumo sacerdote a abençoou dizendo: “Minha filha, tu és bendita do Senhor, Deus Altíssimo, mais que todas as mulheres da terra. Bendito seja o Senhor, criador do céu e da terra, que te guiou para cortar a cabeça de nosso maior inimigo! Ele deu neste dia tanta glória ao teu nome, que nunca o teu louvor cessará de ser celebrado pelos homens, que se lembrarão eternamente do poder do Senhor. Ante os sofrimentos e a angústia de teu povo, não poupaste a tua vida, mas salvaste-nos da ruína, em presença de nosso Deus." (Judite 13, 23-25)
Recordemos a presença de Maria no Mistério Pascal, considerando que as palavras de São Paulo resumindo a missão de Cristo, também podem ser aplicadas a ela, pois são como um resumo da vida cristã:
Maria, embora fosse a Mãe do Deus, não considerou isto como um privilégio para ser usado, mas se considerava a menor, chamando a si mesma, serva, e viveu como todas as mulheres do seu tempo. Ela humilhou-se a si mesma, obediente a Deus, até a morte de seu Filho, e morte de Cruz.
Por isso Deus a exaltou e lhe deu um nome pelo qual, após a morte de Jesus, todos a chamarãom todos irão inclinar sua cabeça frente a ela, nos céus e na terra, e embaixo da terra, e toda língua confessará que Maria é a Mãe de Deus, para glória de Deus, seu Pai. Amém!
-- Padre Raniero Cantalamessa, quarta homília de Quaresma, parte III, 3 de Abril de 2020.
-- tradução própria
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