A regra geral "quem vive bem, irá morrer bem" deve ser mencionada antes de tudo, pois sendo a morte nada mais que o fim da vida, é certo que quem viver bem até o final da sua vida, morrerá bem; nem pode morrer doente quem que nunca estiver doente; por outro lado, quem nunca tiver vivido bem, não poderá morrer bem. A mesma coisa é observável em muitos casos similares: todos que houverem percorrido o caminho certo poderão chegar aos seus destinos; ao contrário, aqueles que vaguearem por aí, jamais chegarão ao final de sua jornada.
Também, quem se aplicar diligentemente aos estudos, logo se tornará sábio doutor; mas aqueles que não se dedicarem, serão ignorantes. Mas, talvez, alguém mencione o exemplo do Bom Ladrão, que viveu de maneira errada e morreu corretamente. Este não é o caso; pois o Bom ladrão teve uma vida santa e, portanto, teve uma morte também santa. Mas, mesmo entendendo que ele dispendeu grande parte dos seus dias na maldade, outra parte de sua vida foi tão bem dispendida que ele facilmente se arrependeu de seus pecados e ganhou as maiores graças do céu.
Queimando com o amor de Deus, ele abertamente defendeu nosso Salvador das calunias de Seus inimigos; e dirigiu-se com a mesma caridade a seu vizinho, ele repreendeu e admosteu, dizendo: "Nem sequer temes a Deus, estando na mesma condenação? Quanto à nós, é de justiça; pagamos por nossos atos; mas ele não fez nenhum mal" (Lc 23, 40-41). Nem estava ele morto quando, confessando e chamando por Cristo, ele pronunciou estas nobres palavras: "Jesus, lembra-te de mim quando vieres com teu reino" (Lc 23, 42). O Bom Ladrão então chegou para ser um daqueles que chegaram por último na vinha e, no entanto, recebererão a mesma recompensa dos primeiros.
Verdade, por isso, a sentença "quem vive bem, irá morrer bem"; e "quem viver mal, morrerá mal". Nós temos que concordar que é mais perigoso adiarmos nossa conversão dos pecados para a virtude: muito mais feliz são os que aceitam o jugo do Senhor desde sua juventude, como disse Jeremias; e extremamente abençoados são aqueles "que não são contaminados por mulheres, e em cuja boca não se encontram mentiras, pois estão sem manchas, em frente ao trono de Deus. Estes foram resgatados dentre os homens, como primícias para Deus e para o Cordeiro" (Ap 14,3-5). Exemplos são Jeremias, São João, "mais que um profeta", e acima de todos, a Mãe de nosso Senhor, bem como todos a quem Deus reconheceu.
A primeira grande verdade, agora, está estabelecida, pois uma boa morte depende de uma boa vida.
-- Do Livro A Arte de Morrer Bem, de São Roberto Belarmino, bispo (século XVIII)
-- Nota: sempre que possível procuro utilizar fontes creditáveis, como textos traduzidos por profissionais e publicados com autorização de nossas autoridades eclesiais. Este, no entanto, foi traduzido por mim, a partir do livro em Inglês. Minha fonte está disponível aqui.