Sobrevêm muitas ondas e fortes tempestades, mas não tememos afogar, pois estamos firmados sobre a pedra. Enfureça-se o mar, não tem forças para destruir a pedra. ergam-se as vagas, não podem submergir o navio de Cristo. Pergunto eu: que tememos? A Morte? Para mim, viver é Cristo e morrer é lucro (Fl 1, 21). O exílio talvez, dizes-me? Do Senhor é a terra e tudo quanto contém (Sl 23, 1). A confiscação dos bens? Nada trouxemos para o mundo e, é certo, nada daqui poderemos levar (1Tm 6, 7); os pavores deste mundo são desprezíveis, e seus bens, merecedores de riso. Não tenho medo da pobreza, não ambiciono riquezas, não temo a morte, nem prefiro viver a não ser para vosso proveito. Por isso recordo os acontecimentos atuais e rogo à vossa caridade que tenhais confiança.
Cristo está comigo, a quem temerei? Mesmo que as ondas, os mares, o furor dos príncipes se agitem contra mim, tudo isto não me impressiona mais do que uma aranha. E se a vossa caridade não me retivesse, não recusaria partir ainda hoje mesmo para outro lugar. Repito sempre: Senhor, faça-se a tua vontade (Mt 26, 42); não o que quer este ou aquele, mas o que tu queres. Esta é a minha torre, minha pedra imóvel; este é o meu báculo firme. Se Deus quiser isto, faça-se. Se quiser que permaneça aqui, agradecerei. Onde quer que me queira, darei graças.
-- Das Homílias de São João Crisóstomo, bispo (século IV)