13 de mai. de 2013

Homília de Pentecostes e ordenação sacerdotal


Mas uma outra circunstância, verdadeiramente pentecostal, enche de realidade e de esplendor esta celebração festiva: a ordenação sacerdotal destes Diáconos. A vós, caríssimos eleitos, dirige-se agora a Nossa saudação.

Teríamos tanto para vos dizer, mas o momento presente não permite que façamos um longo discurso. Além disso, não queremos introduzir novos pensamentos aos já tão numerosos, que enchem os vossos espíritos e que vós também reunistes para este momento solene. Vamos tentar resumir numa palavra tudo aquilo que se pode dizer e pensar sobre o acontecimento de que sois protagonistas e se está para realizar. E a palavra é: transmissão. Transmissão de um poder divino, de uma capacidade prodigiosa de acção, que, de per si, compete unicamente a Cristo. Traditio potestatis, colação de um poder. Imaginai que Jesus Cristo, mediante a imposição das Nossas mãos e as palavras significativas, que conferem ao gesto a virtude sacramental, desce do alto e vos infunde o seu Espírito, o Espírito Santo, vivificador e poderoso, que vem até vós, não só como nos outros sacramentos, para habitar em vós, mas também para vos tornar capazes de realizar determinadas ações, próprias do Sacerdócio de Cristo, para vos fazer Seus ministros eficazes, para vos constituir veículos da Palavra e da Graça, modificando assim as vossas pessoas, de modo que elas possam, não só representar Cristo, mas também, de certo modo, agir como Ele, por meio de uma delegação que imprime um "caráter" indelével nos vossos espíritos e que vos torna, cada um de vós, como alter Christus, semelhantes a Ele.

Este prodígio, recordai-o sempre, realiza-se em vós; não para vós, mas sim para os outros, para a Igreja, que é o mesmo que dizer, para o mundo que devemos salvar. O vosso poder é como a função de um órgão especial, em benefício de todo um corpo. Tornais-vos instrumentos, ministros e servos ao serviço dos irmãos.

Compreendeis, sem dúvida, as relações que nascem desta eleição das vossas pessoas. São relações com Deus, com Cristo, com a Igreja e com a humanidade. Compreendeis que deveres de oração, de caridade e de santidade brotam da vossa ordenação sacerdotal. Compreendeis que consciência deveis formar continuamente em vós mesmos, para vos manterdes à altura da missão que recebestes. Compreendeis, por fim, com que mentalidade espiritual e humana devereis encarar o mundo, com que sentimentos e com que virtudes deveis exercer o vosso ministério, com que dedicação e com que coragem deveis consumar a vossa vida no espírito de sacrifício, unidos ao sacrifício de Cristo.

Sabeis tudo isto, mas não deveis deixar de refletir sobre estas realidades, durante toda a duração — e desejamos que seja longa e serena — da vossa peregrinação terrena. Nunca deveis temer, filhos caríssimos. Nunca deveis duvidar do vosso sacerdócio. Nunca vos deveis isolar do vosso Bispo e da função que ele exerce na Igreja. Nunca o deveis trair. E nada mais vos dizemos por agora. Vamos apenas repetir por vós a oração que fizemos noutra ocasião, pelos sacerdotes que então ordenámos.

Hoje, vamos rezar por vós deste modo:

Vinde, Espírito Santo, e dai a estes ministros, dispensadores dos mistérios de Deus, um coração novo, que reavive neles toda a formação e a preparação que receberam, que advirta, qual surpreendente revelação, o sacramento recebido, e que corresponda sempre, com novo vigor, como hoje, aos incessantes deveres do seu ministério ao serviço do vosso Corpo Eucarístico e do vosso Corpo Místico: um coração novo, sempre jovem e alegre.

Vinde, Espírito Santo, e dai a estes ministros, discípulos e apóstolos de Cristo Senhor, um coração puro, habituado a amá-1'O só a Ele, que é Deus convosco e com o Pai, com a plenitude, a alegria e a profundidade que só Ele sabe infundir, quando é o objecto supremo e total do amor de um homem que vive da Vossa graça; um coração puro que não conheça o mal, senão para o definir, para o combater e fugir dele; um coração puro, como o de uma criança, capaz de se entusiasmar e trepidar.

Vinde, Espírito Santo, e dai a estes ministros do Povo de Deus um coração grande, aberto à Vossa silenciosa e potente palavra inspiradora e fechado a todas as ambições mesquinhas, alheio a qualquer desprezível competição humana, e todo compenetrado do sentido da Santa Igreja; um coração grande e ávido de se assemelhar ao coração do Senhor Jesus e desejoso de encerrar dentro de si as proporções da Igreja e as dimensões do mundo; grande e forte para amar a todos, para servir a todos e para sofrer por todos; grande e forte para superar todas as tentações e provações, todo o tédio, todo o cansaço, toda a desilusão e toda a ofensa; um coração grande, forte e constante, quando for necessário, até ao sacrifício, um coração cuja felicidade é palpitar com o coração de Cristo e cumprir humilde, fiel e virilmente a vontade divina.

E esta a Nossa oração, que hoje elevamos a Deus por vós. Ela estende-se em bênção a toda a assembleia presente, aos vossos companheiros, aos vossos mestres e, especialmente, aos vossos parentes.

Chegou o momento da ação: nela está o Pentecostes.

-- Papa Paulo VI, homília na Celebração de Pentecostes e Ordenação Scerdotal de 278 diáconos de diversos continentes, em 17 de maio de 1970

-- A homília completa está disponível aqui.

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