São Jerônimo nasceu na Dalmácia, próximo a atual capital da Eslovênia, provavelmente no ano de 347, em uma família com boas condições financeiras que pode custear seus estudos.
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São Jerônimo em seu estúdio, pintado por Domenico Ghirlandaio (1480) |
Em torno do ano 360 foi enviado a Roma para estudar retórica e filosofia, também aprendeu latim e um pouco de grego para ler os autores clássicos na língua original. Em Roma conheceu a fé católica, mas tinha a vida despreocupada de um jovem, cometendo os pecados habituais da juventude, como ele mesmo relatou em seus escritos.
Quando enfim converteu-se, passou a ter um vida asceta, viajou para a Alemanha a fim de estudar Teologia, até decidir por uma vida de eremita nos desertos da Síria. Em um sonho, foi advertido por Deus que deveria abandonar totalmente a leitura dos poetas clássicos e se concentar unicamente em livros teológicos. Com o auxílio de judeus convertidos, aprendeu o hebraico e conheceu a versão hebraica do Velho Testamento e Evangelhos.
Em 378 ou 379 foi ordenado em Antioquia e viajou para Constantinopla onde estudou as Sagradas Escrituras com São Gregório Nazianzeno. Em 382 foi a Roma para participar de um Concílio que discutiria a composição da Bíblia. Na capital permaneceu por três anos, auxiliando o Papa Dâmaso e traduzindo o Novo Testamento do grego para o latim. Suas catequeses atraíram algumas mulheres ricas para uma vida de austeridade e oração, incluindo Santa Paula, mas, no geral, tornaram-no antipático para a maioria do povo.
Em agosto de 385, Jerônimo partiu para a Terra Santa, passando a morar próximo de Belém até sua morte em 420. Graças a caridade, em especial de Santa Paula, podia adquirir muitos livros, o que foi essencial para a sua grande herança: uma nova tradução da Bíblia.
A tradução da Bíblia
Até aquele momento, todas as traduções para o latim dos livros do Antigo Testamento eram baseadas em livros gregos, a chamada versão dos Setenta (ou Septuaginta). A Bíblia dos Setenta foi traduzida do hebraico para o grego por rabinos morando em Atenas, por cerca de 200 anos (300 AC-100 AC), ou seja, muitos se envolveram no trabalho, a qualidade variava bastante e algumas idéias da sociedade grega se infiltraram no texto. Acrescente-se a possibilidade de erros na tradução adicional do grego para o latim e a qualidade do texto resultante não era ideal.
Ao compararem a versão latina com o texto hebraico e identificarem notáveis diferenças, os estudiosos da época tomaram uma posição muito curiosa: os judeus estariam alterando os textos para confundir os católicos.
Foi neste ponto que São Jerônimo tomou uma decisão fundamental: não apenas utilizou os textos hebraicos originais, abandonando a tradução dos Setenta, como pediu auxílio aos rabinos de Jerusalém para compreender as passagens mais difíceis. Em várias cartas, São Jerônimo dedicou-se a explicar suas escolhas e, muitas vezes, recomendava que consultassem os rabinos acerca do Velho Testamento pois eles conheciam o texto melhor que muitos cristãos.
A tradução de São Jerônimo, chamada Vulgata, no início foi duramente criticada pois diferia bastante dos livros utilizados na época. Santo Agostinho, que também tinha estudado os textos clássicos e falava latim e grego, foi fundamental pelo apoio que deu a São Jerônimo ao notar a qualidade do trabalho. Por fim, a Vulgata foi plenametne aceita na Igreja e utilizada ao longo dos séculos, servindo de base para as primeiras traduções em outras línguas, inclusive as de Martinho Lutero e outros protestantes. Apenas nos séculos XIX e XX, com o uso de técnicas mais de tradução e novos achados arqueolóogicos, que o trabalho de São Jerônimo começou a ser aprimorado, mas certamente ainda é uma influência fundamental na Bíblia que lemos diriamente.
-- autoria própria
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