18 de fev. de 2017

São Jerônimo e a tradução da Bíblia

São Jerônimo nasceu na Dalmácia, próximo a atual capital da Eslovênia, provavelmente no ano de 347, em uma família com boas condições financeiras que pode custear seus estudos. 
São Jerônimo em seu estúdio, pintado por
Domenico Ghirlandaio (1480)

Em torno do ano 360 foi enviado a Roma para estudar retórica e filosofia, também aprendeu latim e um pouco de grego para ler os autores clássicos na língua original. Em Roma conheceu a fé católica, mas tinha a vida despreocupada de um jovem, cometendo os pecados habituais da juventude, como ele mesmo relatou em seus escritos. 

Quando enfim converteu-se, passou a ter um vida asceta, viajou para a Alemanha a fim de estudar Teologia, até decidir por uma vida de eremita nos desertos da Síria. Em um sonho, foi advertido por Deus que deveria abandonar totalmente a leitura dos poetas clássicos e se concentar unicamente em livros teológicos. Com o auxílio de judeus convertidos, aprendeu o hebraico e conheceu a versão hebraica do Velho Testamento e Evangelhos. 

Em 378 ou 379 foi ordenado em Antioquia e viajou para Constantinopla onde estudou as Sagradas Escrituras com São Gregório Nazianzeno. Em 382 foi a Roma para participar de um Concílio que discutiria a composição da Bíblia. Na capital permaneceu por três anos, auxiliando o Papa Dâmaso e traduzindo o Novo Testamento do grego para o latim. Suas catequeses atraíram algumas mulheres ricas para uma vida de austeridade e oração, incluindo Santa Paula, mas, no geral, tornaram-no antipático para a maioria do povo.

Em agosto de 385, Jerônimo partiu para a Terra Santa, passando a morar próximo de Belém até sua morte em 420. Graças a caridade, em especial de Santa Paula, podia adquirir muitos livros, o que foi essencial para a sua grande herança: uma nova tradução da Bíblia. 

A tradução da Bíblia

Até aquele momento, todas as traduções para o latim dos livros do Antigo Testamento eram baseadas em livros gregos, a chamada versão dos Setenta (ou Septuaginta). A Bíblia dos Setenta foi traduzida do hebraico para o grego por rabinos morando em Atenas, por cerca de 200 anos (300 AC-100 AC), ou seja, muitos se envolveram no trabalho, a qualidade variava bastante e algumas idéias da sociedade grega se infiltraram no texto. Acrescente-se a possibilidade de erros na tradução adicional do grego para o latim e a qualidade do texto resultante não era ideal.

Ao compararem a versão latina com o texto hebraico e identificarem notáveis diferenças, os estudiosos da época tomaram uma posição muito curiosa: os judeus estariam alterando os textos para confundir os católicos. 

Foi neste ponto que São Jerônimo tomou uma decisão fundamental: não apenas utilizou os textos hebraicos originais, abandonando a tradução dos Setenta, como pediu auxílio aos rabinos de Jerusalém para compreender as passagens mais difíceis. Em várias cartas, São Jerônimo dedicou-se a explicar suas escolhas e, muitas vezes, recomendava que consultassem os rabinos acerca do Velho Testamento pois eles conheciam o texto melhor que muitos cristãos. 

A tradução de São Jerônimo, chamada Vulgata, no início foi duramente criticada pois diferia bastante dos livros utilizados na época. Santo Agostinho, que também tinha estudado os textos clássicos e falava latim e grego, foi fundamental pelo apoio que deu a São Jerônimo ao notar a qualidade do trabalho. Por fim, a Vulgata foi plenametne aceita na Igreja e utilizada ao longo dos séculos, servindo de base para as primeiras traduções em outras línguas, inclusive as de Martinho Lutero e outros protestantes. Apenas nos séculos XIX e XX, com o uso de técnicas mais de tradução e novos achados arqueolóogicos, que o trabalho de São Jerônimo começou a ser aprimorado, mas certamente ainda é uma influência fundamental na Bíblia que lemos diriamente.

-- autoria própria

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