7 de dez. de 2019

São John Newman, de teólogo anglicano a santo católico

John Newman nasceu em 21 de Fevereiro de 1801 em Londres, era o filho mais velho de uma família anglicana que teve outros dois meninos e três meninas. Moravam no centro de Londres onde o pai era banqueiro, e também possuíam uma casa nos arredores da cidade, para descanso aos fins de semana. 

Aos 15 anos leu alguns livros de escritores calvinistas que defendiam a idéia que o Papa era o anticristo e, em uma carta, escreveu que esta era verdadeira fé que não havia sido distorcida por homens. Muito mais tarde na vida, explicaria que a ênfase protestante na justificação pela fé (e não por obras) é a porta de entrada para um individualismo religioso que ignora o papel da Igreja na transmissão da fé e atualização dos seus ensinamentos, resultando um inevitável subjetivismo e relativismo, onde cada um determina o que lhe é adequado.

Vida na Igreja Anglicana

Ele estudou no Trinity College em Oxford, onde foi um estudante comum, mas o suficiente para se tornar professor no Oriel College, também em Oxford. Em 13 de Junho de 1824 recebeu o diaconato na Igreja Anglicana e, em 29 de Maio de 1825, padre. Mantendo a posição de professor, trabalhava na paróquia de São Clemente, além de começar a escrever artigos teológicos. Em 1928 foi apontado vigário da igreja da Universidade de Santa Maria e professor de emérito de hebraico. Começou a defender a idéia que a Igreja deveria ser independente do Estado, tendo prerrogativas e poderes de uma natureza diferente". Como isto contraria a posição da Rainha como chefe da Igreja Anglicana, resultou em sua saída da universidade ao final de 1832.
Retrato de John Newmann, por
William Charles Ross

Aproveitando a ocasião, viajou pelo Mediterrâneo, passando por Roma. Segundo ele, uma cidade fantástica mas referiu-se a Igreja Católica como politeísta e idólatra (adoradora de santos). Em Abril de 1833 estava na Sicília quando adoeceu gravemente e teve que ficar ali por três meses até recuperar-se. 

Ao retornar para Inglaterra, proferiu uma homília em que defendia que o governo de uma nação cristã deveria deixar-se guiar pelos princípios da fé e, se caso tome decisões contrárias a Deus, acaba por se tornar uma nação de apóstatas, sobre a qual vai recair a correção de Deus.

Em 1839, enquanto estudava sobre a natureza de Cristo[1], leu Santo Agostinho que firmou não haver posição intermediária, ou a pessoa está em comunhão com a Igreja ou não. Dali em diante ele começou a questionar a teologia da Igreja Anglicana. Em 1841 publicou um texto em que demonstrou que o documento fundamental na criação da Igreja Anglicana, chamado 39 Artigos da Fé, era baseado em erros populares, não em posições teológicas da Igreja Católica e seus artigos da fé.

John Newman decidiu sair de Oxford, parar de publicar em revistas da Igreja Anglicana e foi morar junto com outros homens em uma casa em Littlemore levando uma vida semi-monástica. Em Fevereiro de 1843 publicou um artigo se retratando de todas as críticas que havia feito à Igreja Católica e em 25 de Setembro proferiu o seu último sermão em uma Igreja Anglicana.

Vida na Igreja Católica

Em 9 de Outubro de 1845 foi recebido na Igreja Católica pelo padre Dominic Barbieri. A vida de John Newman mudou radicalmente pois não apenas perdera todos seus postos na Universidade, como também foi considerado como um traidor pela família e amigos. Em Fevereiro de 1846 foi ordenado padre, em Roma, e nomeado Doutor em Teologia pelo Papa Pio IX. Dali retornou para a Inglaterra, onde trabalhou na Faculdade de Teologia do Maryvale Institute. 

Em 1850, o Papa Pio IX publicou o documento Universalis Ecclesiae que reorganizou a Igreja Católica na Inglaterra, restabelecendo a hierarquia e o controle papal. O primeiro ministro denunciou o documento como uma manobra do Papa para controlar a Inglaterra e sobrepor ao governo de sua majestade. Isto resultou em violência contra padres e vandalismo contra igrejas. No ano seguinte, John Newman escreveu uma série de artigos em tom mais popular em que não apenas defendeu a Igreja como explicou as causas no anti-catolicismo no país. Por óbvio, John Newman foi atacado e até mesmo processado por partes do seu livro. 
Cardeal Newmann, em Maio de 1890,
já com 90 anos e três meses antes de sua morte.

Em 1854 transferiu-se para Dublin como Reitor da recém criada Universidade Católica da Irlanda, onde permaneceu por quatro anos. Seu objetivo foi criar uma universidade onde o livre pensamento científico fosse central mas os ensinamentos cristãos permenecessem no centro do currículo influenciando a juventude. Esta posição intermediária não foi bem recebida por todos, novamente causando alguns problemas e resultando em inimigos., 

Em 1864 publicou o livro Apologia Pro Vita Sua (Uma Defesa da Própria Vida [2]), uma espécie de autobiografia espiritual onde explica suas idéias teológicas e como elas evoluíram aos longos dos anos, incluindo a sua conversão ao catolicismo e aceitação dos dogmas católicos. Entre outros, o Papa Bento XVI diz ter sido seriamente influenciado por este livro. 

Após 32 anos de sua partida, John Newman foi eleito professor honorário em Oxford, casualmente no mesmo dia em que o Papa Pio IX morreu. Por recomendação de vários bispos, o sucessor Papa Leão XIII nomeou Newman como Cardeal, o que ocorreu no consistório de 12 de Maio de 1879. Por seu pedido, John Newman não foi ordenado bispo e teve permissão para continuar morando na Inglaterra. 

Sua saúde começou a falhar em 1886, sua última missa pública foi no Dia de Natal em 1889. Morreu de pneumonia em 11 de Agosto de 1890 e foi enterrado em Birmingham. Desde sua morte, e principalmente quando começou o processo de canonização, John Newmann foi atacado por vários motivos, inclusive espalhando boatos mentirosos quanto ao celibato e homossexualidade. 

O Papa João Paulo II proclamou-o Venerável em 1991 e o Papa Bento XVI declarou-o Bento após a cura milagrosa de um diácono americano que havia pedido sua intercessão. Outro milagre, a cura de uma mulher grávida de Chicago a quem os médicos deram a gravidez como perdida [3], conduziu a sua canonização em 13 de Outubro de 2019.

-- autoria própria

[1] Trata-se da questão do Monofisismo, isto é, pode Cristo ser homem e Deus ao mesmo tempo? Segundo a Igreja Católica e também a Anglicana, Cristo combinou as duas naturezas, mas Santo Agostinho teve que combater seitas heréticas que defendiam que Cristo jamais tornou-se realmente homem pois a natureza divina sempre foi superior, mesmo enquanto estava na Terra. 

[2] Aparentemente não há uma edição em português, o que é lastimável. Foi publicado em espanhol, italiano e inglês.  

[3] Neste vídeo, Melissa Villalobos conta que estava grávida, mas sangrava muito já por vários dias. Os médicos deram a gravidez como perdida e avisaram que a própria vida dela estava em risco. Pela intercessão de São John Newmann, o sangramento cessou imediatamente, a menina nasceu saudável e Melissa ainda teve outros filhos. O vídeo está em inglês, mas vale a pena o esforço.

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