25 de dez. de 2019

O pranto do homem em Deus, e no homem a alegria

Quando foi chegado o tempo
Em que de nascer havia,
Assim como o desposado,
Do seu tálamo saía
Abraçado à sua esposa,
Que em seus braços a trazia;
Ao qual a bendita Mãe
Em um presépio poria
Entre pobres animais
Que então por ali havia.

Os homens davam cantares,
Os anjos a melodia,
Festejando o desposório
Que entre aqueles dois havia.

Deus, porém, no presépio
Ali chorava e gemia;
Eram jóias que a esposa
Ao desposório trazia;
E a Mãe se assombrava
Da troca que ali se via:
O pranto do homem em Deus,
E no homem a alegria;
Coisas que num e no outro
Tão diferente ser soía.

-- São João da Cruz, Romance Cristológico e Trinitário, 9o. romance (século XVI)

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