20 de set. de 2020

A avareza, o terceiro dos pensamentos pecaminosos

Os bens amarram a Alma à Terra 

A avareza é a raiz de todos os males e nutre arbustos malignos e perigosos a todas as demais paixões e não permite que floresçam outras virtudes.

Quem deseja controlar as paixões, que extirpe a raiz, se efetivamente cortar os ramos mas deixar a avareza crescer, de nada servirá o esforço, por que os demais pecados, apesar de reduzidos, rapidamente retornarão com força.

O monge rico é como um navio com excesso de carga que é atingido por uma tempestade, assim como o navio que ruma para o mar se põe a prova a cada onda que enfrenta, assim se vê o rico submergido com muitas preocupações.

O monge que não possui nada é, ao contrário, como um viajante ágil que encontra refúgio em qualquer lugar. É como a águia que voa alto e desce apenas para buscar seu alimento. 

Está acima das tempestades, se alegra com o presente, se eleva com as coisas do alto, se afasta das terrenas, está junto das coisas celestes. Tem asas leves, nunca está pesado com preocupações. Sai de um lugar e vai para outro sem tristezas, a morte chega e a enfrenta com ânimo; a alma, de fato, não está amarrada a nenhum tipo de atadura.

Quem, ao contrário, possui muitas coisas, também possui muitas preocupações, é como um cachorro amarrado pela coleira. Se for obrigado a abandonar seus bens, leva consigo, como grave peso e uma aflição inútil, as lembranças de suas riquezas e atormenta em tristeza.

E quando chega a morte se aproxima, deixa seus bens com tristeza, pode entregar-se a morte, mas nunca perde o olho para seus negócios; é arrastado como um escravo fugitivo, se separa do corpo, mas não de seus interesses, por que a paixão aos bens o amarra a esta vida.

Muita preocupação com bens materiais afasta da oração


O mar jamais transborda apesar de receber uma grande quantidade de água de todos os rios, da mesma maneira, o desejo por riquezas jamais é satisfeito para o ávaro. Ele duplica seus bens, então quer quadruplicar, e continuar a multiplicá-la, jamais cessa de trabalhar, até que a morte coloca um fim a tudo.

O monge deve ter cuidado com as necessidades do corpo, se alimentar com água e pão, mas não adulará os ricos para o prazer de seus apetites, nem se submeterá a muitos; de fato, as mãos são sempre suficientes para satisfazer as necessidades naturais,

Um monge que não possui nada é como um pugilista que não pode ser golpeado, é como um atleta veloz que alcança rapidamentes os prêmios celestes. O monge rico se alegra com suas muitas rendas, enquanto que aquele que nada possui se alegra com em ter coisas obtidas honestamente.

O monge ávaro trabalha duramente enquanto que o pobre tem tempo para a oração e leitura. O ávaro é apreciado pelos homens, enquanto o pobre junta tesouros nos céus.

Maldito seja aquele que forja um ídolo e o adora, também seja maldito aquele que é afeito à avareza. O primeiro, com efeito, se postra frente ao falso e inútil; o segundo leva em si a imagem da riqueza, que é uma falsidade.

 

-- Evágrio, monge (século IV), tradução própria

 -- A imagem é uma gravura de James Todd, chamada Greed, parte de uma série sobre os sete pecados capitais. Pode ser adquirida na Annex Galleries.

 

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