5 de set. de 2020

A gula, o primeiro dos pensamentos pecaminosos

 


1. Jejum prepara para a oração; barriga cheia, o sono

A origem do fruto é a flor ea origem da vida ativa [na oração] é a temperança, quem domina o próprio estômago faz diminuir as paixões, ao contrário, que é subjugado pela comida aumenta os prazeres.

Como Amalec é a origem dos povos, assim a gula é a origem das paixões. Como a lenha é o alimento do fogo, assim a comida é o alimento do estômago. Muita lenha resulta em uma grande chama e a abundância de comida nutre a concupiscência. A chama se extingue quando há pouca lenha e a penúria de comida elimina os pecados.

Aquele que tem domínio sobre sua boca desbarata aos estrangeiros e dissolve facilmente as ataduras de suas mãos. De uma boca controlada nasce uma fonte de água e controle da gula resulta em uma prática de contemplação,

Com a vara da tenda podes matar o inimigo, com a sabedoria da temperança podes matar as paixões. O desejo da comida conduz à desobediência e uma degustação deleitosa afasta do paraíso. Saciar o corpo com comidas raras é nutrir a intemperança que nunca descansa.

Uma barriga vazia prepara para oração vigilante, ao contrário, barriga cheia convida a dormir muito. Uma mente sóbria se alcança com jejum, enquanto uma vida cheia de delícias conduz ao abismo.

A oração daquele que jejua é como um pássaro que voa mais alto que a águia, enquanto que a oração de um glutão está envolta em sombras. A nuvem esconde os raios do sol e uma digestão pesada ofusca a mente.

2. O jejuante alcançará a cidade eterna, o guloso jamais terá paz interior

Um espelho sujo não reflete claramente a forma de um objeto a sua frente, um intelecto obtuso pela vaidade não busca o conhecimento de Deus. Uma terra sem cultivar gerar espinhos e uma mente corrompida pela gula germina pensamentos malignos.

O podre não pode emanar perfumes, tampouco não sentimos o perfume suave da contemplação no guloso. O olho do guloso olha com curiosidade os banquetes, enquanto o olhar do jejuante observa os ensinamentos dos sábios.

A alma do guloso recorda os feitos dos mártires, enquanto o jejuante imita seus exemplos. Um soldado teme o som da trombeta que anuncia a batalha, igualmente o guloso teme os chamados à temperança.

Um monge guloso, submetido às exigências de seu ventre, quer sua parte diariamente. O caminhante que busca com afinco alcançará a cidade eterna mais cedo, o monge guloso não chegará a paz interior.

O perfume das flores se espalha no ar, assim como a oração do jejuador deleita o olfato divino.

Se te abandonas ao desejo da comida, nada te bastará para te satisfazer: o desejo da comida é, com efeito, como um fogo que sempre se inflama, todos os dias. Uma medida adequado pode encher um vaso, mas a barriga de glutão jamais dirá “basta!”.

Estender as mãos colocava em fuga aos amalequitas e uma vida ativa submete as paixões carnais.

3. Domina tua carne com jejuns e vigílias

Extermina tudo que seja inspirado pelos vícios e mortifica fortemente tua carne. Se, de qualquer maneira, o inimigo for morto, não produzirá mais medo, assim um corpo mortificado não perturbará a alma. Um cadáver não nota o calor do fogo, menos ainda um jejuante sente prazer nos desejos que extinguiu.

Se matas um egípcio, enterre o corpo; se controlares teus desejos, não voltes a alimentá-los. Assim como a terra adubada germina também as sementes da erva daninha, assim um corpo satisfeito reviverá as paixões.

Uma chama que está se apagando, reacenderá se colocares lenha seca; o prazer do corpo também reacenderá se voltares a buscar a saciedade da comida; não te compadeças se teu corpo reclama do jejum, nem busques comidas suntuosas; se fizeres o contrário te envolverás em uma batalha sem trégua, até que os pecados escravizem tua alma e faças servo da luxúria.

O corpo sob controle é como um cavalo dócil que jamais se revoltará contra o cavaleiro, o cavalo é dominado pelo freio, se submete e obedece as mãos de quem lhe sujeita. Um corpo dominado por jejuns e vigílias, não busca os pensamentos ruins nem relincha excitado pelo ímpeto das paixões.

 -- Evágrio, monge (século IV)

-- A imagem é uma gravura de James Todd, chamada Gluttony, parte de uma série sobre os sete pecados capitais. Pode ser adquirida na Annex Galleries. 

Nenhum comentário:

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...