17 de jan. de 2022

O Espírito Santo ilumina sua Igreja


O Espírito Santo ensina que os lábios da divina Esposa, isto é, da Igreja, se assemelham a uma fita escarlate ou ao favo que destila doçura (Ct 4,3), para que todos saibam que a doutrina que ela anuncia se resume no sagrado amor.

A Igreja, banhada pelo sangue de Jesus, é mais viva e brilhante que o escarlate, é mais suave que o mel, por causa da doçura do Bem amado que a inunda de delícias (Ct 7,5). Por isso, este celeste Esposo, ao começar a publicação da sua Lei, fez descer sobre os discípulos - seus pregadores, grande número de línguas de fogo, mostrando assim que o Evangelho era destinado a abrasar os corações.

É um quadro admirável contemplar as pombas, tão belas, expostas aos raios do sol. Vêde, mudam de cor, segundo as diversas posições em que a examinamos, porque as suas penas são tão sensíveis à luz, que o sol dardejando-as forma uma surpreendente variedade de matizes; cores tão agradáveis, que excedem em formosura o esmalte das mais preciosas pedrarias; tão deslumbrantes e tão delicadamente douradas que o seu ouro as torna vivamente coloridas. É por isso que o profeta diz aos israelitas: (Sl 66, 13-18):

É, pois, com holocaustos que entrarei em vossa casa, pagarei os votos que fiz para convosco,
votos proferidos pelos meus lábios, quando me encontrava na tribulação.
Oferecerei em holocausto as mais belas ovelhas, com os mais gordos carneiros; imolarei touros e cabritos.
Vinde, ouvi vós todos que temeis ao Senhor. Eu vos narrarei quão grandes coisas Deus fez à minha alma.
Meus lábios o invocaram, com minha língua o louvei.


Na verdade, a Igreja tem uma rica variedade de instruções, sermões, tratados e livros piedosos, todos belos e agradáveis porque o Sol da Justiça mistura admiravelmente os raios da sua divina sabedoria com as línguas dos pastores, que são suas penas que, por vezes, fazem também de línguas, e são a rica plumagem desta pomba mística (Sl 62, 3). Contudo por entre a diversidade de cores da doutrina, que a Igreja publica, descobre-se por toda parte o precioso ouro da sua santa dileção, iluminando com seu incomparável brilho toda a ciência dos santos e erguendo-a acima de qualquer outra ciência.

Tudo na Igreja procedo do amor, está enraizado no amor, tende ao amor e vive do amor. Como é bom ouvir falar coisas do Céu a um São Paulo, que as aprendeu no próprio Céu! (2 Cor 12, 4). Como é agradável ver almas alimentadas no seio da dileção escreverem da sua santa suavidade. São Tomás de Aquino deixou-nos um grande tratado, São Boaventura e o beato Dionísio Cartuxo escreveram vários, por diversos títulos, excelentes. Quem jamais exprimiu melhor as celestes paixões do amor sagrado do que Santa Catarina de Gênova, Sanata Angela de Foligno e Santa Catarina de Sena?

Finalmente a bem-aventurada Teresa de Jesus escreveu tão bem das sagradas moções do amor em todos livros que nos deixou, que nos encanta ver tanta eloquência em tão grande humildade, tanta energia de espírito em tanta simplicidade; a sua sapientíssima ignorância faz parecer ignorantíssima a ciência de muitos letrados, que, cansados de tanto estudo, sofrem a vergonha de não entenderem o que ela escreveu, com tanta felicidade, acerca do amor divino.

Assim Deus levanta o trono do seu poder sobre o pedestal da nossa fraqueza, servindo-se dos fracos para confundir os fortes (1 Cor 1,27).

-- São Francisco de Sales, prefácio do Tratado do Amor de Deus (século XVII)

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