Os homens são levados ao politeísmo por quatro motivos:
São Tomás de Aquino, doutor da Igreja. |
O primeiro, é a fraqueza da inteligência humana. Há homens, cuja fraqueza de inteligência não lhes permitiu ir além das coisas corpóreas, e, por isso, não acreditaram na existência de alguma natureza superior aos seres corpóreos.
Pensaram então que, entre aqueles seres corpóreos, os mais belos e mais dignos deveriam presidir e dirigir o mundo, e prestaram a eles um culto divino. Consideraram como sendo os corpos mais sublimes, os astros do céu: o sol, a lua e as estrelas. Acontece com eles o que aconteceu com aquele homem que, desejando ver o rei, foi à corte e confundiu com o rei quem logo encontrou bem vestido ou exercendo alguma função de ministro.
Refere-se a esses o Livro do Profeta Isaías: Levantai bem alto os olhos e vede a terra por baixo. Os céus evaporar-se-ão como a fumaça, a terra envelhecer-se-á como as vestes e os seus habitantes perecerão como ela. Mas a minha salvação será eterna, e a minha justiça não terá fim (51, 6).
O segundo motivo, é a adulação dos homens. Muitos desejando adular os reis e os senhores, tributaram-lhes a honra devida a Deus. Obedeceram e se submeteram a eles. Houve quem os endeusassem após a morte, e houve os que os endeusaram também em vida. Lê-se na Escritura: Todos saibam que Nabucodonosor é deus da terra, e além dele outro deus não há (Jud. 5, 29).
O terceiro motivo provém da afeição carnal para os filhos e parentes. Alguns, levados por excessivo amor pelos parentes, levantaram-lhes estátuas após a morte, e, assim foram conduzidos a prestar culto divino àquelas estátuas. É a eles que se refere a Escritura: Deram os homens às pedras e à madeira um nome incomunicável, porque submeteram-se demais a afeição aos reis (Sab. 14, 21).
A quarta razão, pela qual os homens são levados a acreditar na existência de muitos deuses, é a malícia do diabo. Este, desde o início, quis ser igual a Deus: Colocarei meu trono no Aquilão, subirei aos céus e serei semelhante ao Altíssimo (Is. 14, 13). Até hoje ele não revogou essa vontade. Por isso esforça-se o mais possível para que os homens o adorem e lhe ofereçam sacrifícios. Não lhe satisfaz o ofertório de um cão ou de um gato, mas deleita-se quando lhe é prestado o culto devido a Deus. Disse o demônio a Cristo: Dar-te-ei tudo isto se de joelho me adorares (Mat. 4,9). Para que fossem adorados como deuses, os demônios entraram nos ídolos e por meio destes davam respostas. Lê-se na Escritura: Todos os deuses dos povos são demônios (Sl. 95, 5). Quando os gentios oferecem sacrifícios, fazem-no aos demônios, não a Deus (I Cor. 10,20).
É muitíssimo desagradável a consideração dessas quatro causas do politeísmo, mas representam realmente as razões pelas quais os homens acreditam na existência de muitos deuses. Muitas vezes eles não manifestam pelas palavras ou pelo coração que acreditam em muitos deuses, mas pelo atos. Aqueles que acreditam que os astros podem modificar a vontade dos homens, que para agir esperam certas épocas, naturalmente consideram os astros como deuses que dominam os outros seres e que fazem prodígios. Por isso somos advertidos pela Escritura: Não temei os sinais dos astros que os gentios temem, porque as suas leis são vãs (Jer. 10, 2).
Também aqueles que obedecem aos reis, ou aos que não devem obedecer, mais que a Deus, constituem a essas pessoas como os seus deuses. Adverte-nos também a Escritura: Convém mais obedecer a Deus que aos homens (At. 5, 29). Assim também os que amam os filhos e os parentes mais que a Deus, revelam pelos atos que acreditam em muitos deuses. Ou mesmo aqueles que amam mais os alimentos que a Deus, aos quais se refere S. Paulo com estas palavras: Dos quais o ventre é deus (Tm 3, 19).
Os que praticam a feitiçaria e se entregam aos sortilégios acreditam nos demônios como se eles fossem deuses, porque pedem aos demônios o que só se pode pedir a Deus, como sejam revelações e conhecimentos de coisas secretas ou futuras. Como tudo isso é falso, devemos acima de tudo acreditar que há um só Deus.
-- Do Sermão sobre o Credo, de São Tomás de Aquino (século XIII)
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