Antes da vinda de Cristo, os Patriarcas, os Profetas e João Batista falaram algumas verdades a respeito de Deus. Os homens, porém, não acreditaram nelas como acreditaram em Cristo, que este com Deus e, mais do que isso, constituía um só ser com Ele. Eis porque a nossa fé foi muito mais confirmada pelas verdades transmitidas por Cristo. Lê-se em São João: Ningém jamais viu a Deus. O Filho Unigênito, que está no seio do Pai, nos revelou (Jo 1,18). Muitos mistérios da fé, que estavam escondidos, foram revelados após o advento de Cristo.
Sabemos que o Filho de Deus não foi elevado sem motivo, assumindo a nossa carne, mas para grande benefício nosso. Para tanto, fez uma troca: assumiu um corpo animado e dignou-se nascer da Virgem, para nos entregar a sua divindade; fez-se homem, para fazer o homem, Deus. Lê-se em São Paulo: Por quem temos acesso pela fé nessa graça, na qual permanecemos, e nos gloriamos na esperança da glória dos filhos de Deus (Rm 5,2).
Nenhum indício é mais evidente da caridade divina do que o Deus, criador de todas as coisas, fazer-se criatura; o do Senhor nosso, fazer-se nosso irmão; o do Filho de Deus, fazer-se filho de homem. Diz São João: Tanto Deus amou o mundo que lhe deu o seu Filho (Jo 3,16). Pela consideração dessa verdade, deve ser reacendido e de novoem nós afervorado, o nosso amor para com Deus.
A nossa natureza foi a tal ponto enobrecida e exaltada pela união com Deus que foi assumida para consorciar-se com uma Pessoa Divina. O homem, reconsiderando e atendendo à sua própria exaltação, deve perceber como pelo pecado se degrada e avilta a si e à própria natureza. Por isso escreve São Pedro: O poder divino deu-nos tudo o que contribui para a vida e a piedade, fazendo-nos conhecer aquele que nos chamou por sua glória e sua virtude. Por elas, temos entrado na posse das maiores e mais preciosas promessas, a fim de tornar-vos por este meio participantes da natureza divina, subtraindo-vos à corrupção que a concupiscência gerou no mundo (2Pe 1,3-4).
A meditação dos mistérios da Encarnação aumenta em nós o desejo de nos aproximarmos de Cristo. Se alguém, digamos um irmão do rei, viesse nos visitar, naturalmente desejaríamos aproximarmo-nos dele, estar com ele, nem que fosse por interesse. Ora, sendo Cristo nosso irmão e mais benéfico que um rei, devemos desejar estar com Ele e nos unirmos a Ele. Sigamso o exemplo de São Paulo que desejava dissolver-se para estar com Cristo: esse desejo cresce também em nós pela consideração do mistério da Encarnação.
-- São Tomás de Aquino, Sermão sobre o Credo (século XIII)
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