2 de fev. de 2011

O Mistério da Apresentação do Senhor

No episódio da apresentação de Jesus no Templo, São Lucas ressalta o destino messiânico de Jesus. Objetivo imediato da viagem da Sagrada Família, de Belém a Jerusalém, é, segundo o texto lucano, o cumprimento da Lei: Quando se cumpriu o tempo da sua purificação, segundo a lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para O apresentarem ao Senhor, conforme está escrito na lei de Deus: Todo o primogênito varão será consagrado ao Senhor  para oferecerem em sacrifício, como se diz na lei do Senhor, um par de rolas ou duas pombinhas (Lc. 2, 22-24).

Com este gesto, Maria e José manifestam o propósito de obedecer fielmente à vontade de Deus, rejeitando qualquer forma de privilégio. A vinda deles ao templo de Jerusalém assume o significado de uma consagração a Deus, no lugar da Sua presença.

Induzida pela sua pobreza a oferecer rolas ou pombinhas, Maria dá na realidade o verdadeiro Cordeiro, que deverá redimir a humanidade, antecipando com o seu gesto quanto era prefigurado nas ofertas rituais da Antiga Lei.

 Enquanto a Lei requeria apenas à Mãe a purificação após o parto, Lucas fala do “tempo da sua purificação” (Lc.2, 22), querendo, talvez, indicar ao mesmo tempo as prescrições relativas à Mãe e ao Filho primogênito.

A expressão “purificação” pode surpreender-nos, porque é referida a uma Mãe que obtivera, por graça singular, ser imaculada desde o primeiro instante da sua existência, e a um Menino totalmente santo. É preciso porém, recordar que não se tratava de purificar a consciência de alguma mancha de pecado, mas somente de readquirir a pureza ritual, a qual, segundo as idéias do tempo, era atingida pelo simples fato do parto, sem que houvesse alguma forma de culpa.

O evangelista aproveita a ocasião para sublinhar o vínculo especial que existe entre Jesus, enquanto “primogênito” (Lc. 2, 7.23) e a santidade de Deus, bem como para indicar o Espírito de humilde oferenda que animava Maria e José (cf. Lc. 2, 24). Com efeito, o “par de rolas ou duas pombinhas” era a oferta dos pobres" (Lv. 12, 8).

No Templo José e Maria encontram-se com Simeão, homem justo e piedoso, que esperava a consolação de Israel (Lc. 2, 25).

A narração lucana nada diz do seu passado e do serviço que exerce no Templo; fala de um homem profundamente religioso, que cultiva no coração desejos grandes e espera o Messias, consolador de Israel. Com efeito, o Espírito Santo estava nele e tinha-lhe... revelado... que não morreria antes de ter visto o Messias do Senhor (Lc 2, 26).

Simeão convida-nos a contemplar a ação misericordiosa de Deus, o Qual efunde o Espírito nos seus fiéis para realizar o Seu misterioso projeto de amor.

Simeão, modelo do homem que se abre à ação de Deus, impelido pelo Espírito (Lc. 2, 27), vai ao Templo onde encontra Jesus, José e Maria. Tomando o Menino nos braços, bendiz a Deus: Agora, Senhor, podes deixar o Teu servo partir em paz, segundo a Tua palavra (Lc. 2, 29).

Expressão do Antigo Testamento, Simeão experimenta a alegria do encontro com o Messias e sente ter alcançado o objetivo da sua existência; pode, então, pedir ao Altíssimo que lhe conceda a paz da outra vida.

No episódio da apresentação pode divisar o encontro da esperança de Israel com o Messias. Pode-se também ver nele um sinal profético do encontro do homem com Cristo. O Espírito Santo torna-o possível, suscitando no coração humano o desejo desse encontro salvífico e favorecendo a sua realização.

Nem podemos descurar o papel de Maria, que entrega o Menino ao santo varão Simeão. Por vontade divina, é a Mãe que dá Jesus aos homens.

Ao revelar o futuro do Salvador, Simeão faz referência à profecia do Servo, enviado ao Povo eleito e às nações. A Ele o Senhor diz: Formei-Te e designei-Te como aliança do povo e luz das nações (Is. 42, 6). E ainda: É pouco que sejas Meu servo para restaurares as tribos de Jacó e reconduzires os sobreviventes de Israel. Vou fazer de ti luz das nações, a fim de que a Minha salvação chegue até aos confins da terra (Is. 49, 6).

No seu cântico Simeão inverte a perspectiva, pondo em evidência o universalismo da missão de Jesus: Os meus olhos viram a Salvação, que preparaste em favor de todos os povos: Luz para iluminar as nações e glória de Israel, Teu povo (Lc. 2, 30-32).

Como não maravilhar-se diante de tais palavras? O pai e a Mãe de Jesus estavam admirados com o que se dizia d’Ele (Lc. 2, 23). Mas José e Maria, com esta experiência, compreendem de modo mais claro a importância do seu gesto de oferta: no Templo de Jerusalém apresentam Aquele que, sendo a glória do Seu povo, é também a salvação da humanidade inteira.

-- Catequese sobre a Apresentação do Senhor (publicada no L'Osservatorio Romano, em 14/12/1996), de João Paulo II, papa (século XX)


 



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