9 de fev. de 2011

Santa Escolástica, aquela que mais amou

Escolástica, irmã de São Bento, consagrada ao Senhor desde a infância, costumava visitar o irmão uma vez por ano. O homem de Deus descia e vinha encontrar-se com ela numa propriedade do mosteiro, não muito longe da porta. Certo dia veio ela como de costume, e seu venerável irmão com alguns discípulos foi ao seu encontro. Passaram o dia inteiro em louvores a Deus e em santas conversas, de tal modo que já se aproximavam as trevas da noite quando se sentaram à mesa para tomar a refeição.

Como durante as santas conversas o tempo fosse passando, a santa monja rogou-lhe: “Peço-te, irmão que não me deixes esta noite, para podermos continuar falando até de manhã sobre as alegrias da vida celeste”. Ao que ele respondeu: “Que dizes tu, irmã? De modo algum posso passar a noite fora de minha cela”.
Santa Escolástica e São Bento

A santa monja ao ouvir a recusa do irmão, pôs sobre a mesa as mãos com os dedos entrelaçados e sobre elas inclinou a cabeça para suplicar o Senhor onipotente.Quando levantou a cabeça, rebentou uma grande tempestade, com tão fortes relâmpagos, trovões e aguaceiro, que nem o venerável Bento, nem os irmãos que tinham vindo em sua companhia puderam pôr um pé fora do lugar onde estavam.

Então o homem de Deus, vendo que não podia regressar ao mosteiro, começou a lamentar-se, dizendo: “Que Deus onipotente te perdoe irmã! Que fizeste?” Elas respondeu: “Eu te pedi e não quiseste atender-me. Roguei ao meu Deus e ele me ouviu. Agora, pois, se puderes, vai-te embora, despede-te de mim e volta para o mosteiro”.

E Bento que não quisera ficar ali espontaneamente, teve que permanecer contra a vontade. Assim, passaram a noite toda acordados, animando-se um ao outro com santas conversas sobre a vida espiritual.

Não nos admiremos que a santa monja tendo tido mais poder do que ele. Se, na verdade, como diz São João, Deus é amor (1Jo 4,8), com justíssima razão, teve mais poder aquela que mais amou.

Três dias depois, estando o homem de Deus na cela, levantou os olhos para o alto e viu a alma de sua irmã liberta do corpo, em forma de pomba, penetrar no interior da morada celeste. Cheio de júbilo por tão grande glória que lhe havia sido concedida, deu graças a Deus onipotente com hinos e cânticos de louvor. Deus enviou dois irmãos a fim de trazerem o corpo para o mosteiro, onde foi depositado num túmulo que ele mesmo preparara para si.

E assim, nem o túmulo separou aqueles que sempre tinham estado unidos em Deus.

-- Dos Diálogos de São Gregório Magno, papa (bispo VI)

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