7 de jul. de 2012

Sacrifício para Deus é um espírito contrito


Rei Davi em oração, por Pieter de Grebber

Reconheço o meu pecado, diz Davi. Se eu o reconheço, perdoa-me, Senhor! Mesmo procurando viver bem, de modo algum tenhamos a presunção de ser sem pecado. Que  demos valor à vida em que se pede perdão. Os homens sem esperança, quanto menos  atentam para os próprios pecados, com tanto maior curiosidade espreitam os alheios.  Procuram não o que corrigir, mas o que morder. Não podendo escusar-se, estão prontos  a acusar. Não foi este o exemplo de rogar e de satisfazer a Deus que Davi nos deu,  dizendo: Porque reconheço meu crime e meu pecado está sempre diante de mim. Davi  não estava atento aos pecados alheios. Caía em si, não se desculpava, mas em si mesmo  penetrava e descia cada vez mais profundamente. Não se poupava, e por isso podia  confiadamente pedir para si o perdão.

Queres reconciliar-te com Deus? Repara como procedes contigo, para que Deus te seja  propício. Presta atenção ao salmo, onde lemos: Porque se quisesses um sacrifício, eu o  faria certamente; não te causam prazer os holocaustos. Então ficarás sem sacrifício  para oferecer? Nada oferecerás? Com nenhuma oblação tornarás Deus propício? Que  disseste? Se quisesses um sacrifício, eu o faria certamente; não te causam prazer os  holocaustos. Continua, escuta e dize: Sacrifício para Deus é o espírito contrito; o  coração contrito e humilhado Deus não o despreza. Rejeitado aquilo que oferecias,  encontraste o que oferecer. Como os antepassados, oferecias vítimas de animais, ditos  sacrifícios: Se quisesses um sacrifício, eu o faria certamente. Não queres mais este  gênero de sacrifícios, no entanto, procuras um sacrifício.

Não te causam prazer os holocaustos. Se não tens prazer com os holocaustos, ficarás  sem sacrifício? De modo algum. Sacrifício para Deus é o espírito contrito; o coração  contrito e humilhado Deus não o despreza. Tens o que oferecer. Não examines o  rebanho, não aprestes navios e não atravesses as mais longínquas regiões em busca de  perfumes. Procura em teu coração aquilo de que Deus gosta. O coração deve ser  esmagado. Por que temes que o esmagado pereça? Lê-se aqui: Cria em mim, ó Deus, um  coração puro. Para que seja criado o coração puro, esmague-se o impuro.

Sintamos aborrecimento por nós mesmos quando pecamos, porque os pecados  aborrecem a Deus. Já que não estamos sem pecado, ao menos nisto sejamos  semelhantes a Deus: o que lhe desagrada, desagrade também a nós. Em parte tu te unes  à vontade de Deus, por te desagradar em ti aquilo mesmo que odeia aquele que te fez.

-- Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo (século V)

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