Baquita nasceu em torno de 1869 na vila de Olgossa, próximo ao Monte Agilerei e da cidade de Darfur. Pertencia ao povo Daju, seu pai era razoavalmente próspero e muito respeitado, irmão do chefe da vila. Tinha três irmãos e três irmãs, como ela diz em sua auto-biografia: "Tinha uma vida feliz, sem preocupações, sem conhecer o sofrimento".
Ainda muito jovem, quando tinha cerca de oito anos, provavelmente em 1877, foi sequestrada por árabes mercadores de escravos. Já de início foi obrigada a andar cerca 960 quilômetros descalça até El Obeid, onde sua venda já estava arranjada até antes de chegar lá. Nos próximos 12 anos, ela foi revendida outras três vezes, até ser dada de graça. Devido ao trauma do sequestro e outras violências, esqueceu seu nome; Baquita é um apelido dado por um dos seus captores e significa "sortuda" em árabe, talvez por ter sobrevivido apesar de tudo. Também foi obrigada a seguir o Islamismo.
Um dos seus proprietários, um rico comerciante árabe, colocou-a para servir suas duas filhas, que a tratavam bem. Mas certa vez quebrou um vaso mais valioso que pertencia a um dos filhos, que enfurecido surrou-a com socos e chutes, deixando-a de cama por mais de um mês. Outro proprietário foi um general turco, Baquita deveria servir sua esposa e sogra, que eram bastante cruéis com os escravos. Relata ela: "Durante todos os anos que passei naquela casa, não lembro um dia em que não tenha sido ferida ou espancada. Quando uma ferida começava a sarar, logo outros golpes abriam novos ferimentos".
Certo dia ela e outros escravos foram marcados. As duas mulheres assistiram e colaboraram. Primeiro utilizando farinha, elas marcaram linhas no corpo de Baquita; então, com uma faca cortaram ao longo das linhas e colocaram sal nas feridas abertas para tornar as cicatrizes permanentes. Foram contadas 114 cicatrizes nos seios, ventre e braço direito.
Ao final de 1882, a cidade de El Obeid estava ameaçada por revolucionários. O general turco começou a preparar o retorno para seu país, vendendo todos escravos, exceto 10 deles. Baquita foi comprada pelo Vice-Consul italiano Callisto Legnani, que era um homem mais culto e gentil. Pela primeira vez em muitos anos ela pode ter um pouco de tranquilidade. Quando Legnani, dois anos depois, retornou a Itália, Baquita implorou para não ser vendida e servi-lo em sua casa na Itália. Ao final de 1884, a família teve que fugir da cidade que já estava cercada, empreendendo uma travessia de 650 km no lombo de camelos por áreas perigosas até o porto de Suakin. Em Abril de 1885 chegaram ao porto de Genova. Legnani deu Baquita de presente para a família Michieli que também havia fugido do Sudão. Seus novos proprietários a levaram para uma mansão próxima a Veneza, onde Baquita ficou responsável por criar a filha recém-nascida do casal, que chamava-se Alice.
Em 1886, Augusto Michieli decidiu comprar um hotel no porto de Suakin, vender sua mansão na Itália e transferir toda família de volta para o Sudão. A venda da casa demorou muito mais que o esperado. Em 1888, Baquita e a menina Alice foram colocadas em um convento sob custódia das irmãs canossianas, em Veneza, para aguardar o momento adequado de se irem para o Sudão. Mas quando sua proprietária retornou para levá-la, Baquita recusou-se firmemente, contando com o apoio da irmã superior, que nesta época já contava Baquita entre suas catecúmenas, candidatas a entrar na irmandade. A questão foi parar nos tribunais e em 29 de Novembro de 1889 foi decidido que como a escravidão já estava legalmente extinta tanto na Itália quanto no Sudão, Baquita nunca fora uma escrava; estava então com cerca de 20 anos e poderia escolher seu destino. Preferiu continuar seu caminho junto com as irmãs canossianas.
Em 9 de Janeiro de 1890 foi batizada, recebeu primeira comunhão e crisma do Arcebispo Giuseppe Sarto, futuro Papa Pio X. Assumiu o nome de Josephine Margaret e Fortunata (a tradução para o italiano de "sortuda"). Após este dia, sempre que havia ocasião, Baquita ia até a pia batismal, ajoelhava-se e beijava-a, dizendo: "Aqui tornei-me filha de Deus".
Em 7 de Dezembro de 1893 entrou no noviciado das Irmãs Canossianas e em 8 de Dezembro de 1896 proclamou seus votos, em celebração presidida pelo Cardeal Sarto. Em 1902 foi transferida para o convento de Schio, onde passou o resto de sua vida, exceto por um período entre 1935 e 1939, quando residiu no Noviciado Missionário de Milão e ajudou na preparação de jovens irmãs que iriam para a África. Segundo ela, seu coração e orações estavam sempre em Deus e na África.
Certa vez uma estudante lhe perguntou: "Irmã, o que você faria se viesse a reencontar seus captores e proprietários?" Ela respondeu: "Se eu viesse a encontrar meus sequestradores e torturadores, eu me ajoelharia aos seus pés e beijaria suas mãos. Por que se tais coisas não tivessem me acontecido, eu não seria uma cristã".
Durante 42 anos, em Schio, Baquita ajudou como cozinheira, sacristã e porteira, tornando-se bastante conhecida na cidade. Sua gentileza, calma e alegria tornaram-na reconhecida pelos habitantes, que a chamavam de "Madre Morena". Seu carisma e reputação de santidade foram reconhecidos pela ordem, que em 1931 publicou um pequeno livro com sua história (Storia Meravigliosa, de Ida Zanolini), tornando-a famosa por toda Itália. Durante a II Guerra, quando havia bombardeios, os habitantes corriam para o convento e pediam para que ela rezasse por todos. Embora bombas tenham caído em Schio, nenhum habitante morreu ou ficou gravemente ferido.
Seus últimos anos foram marcados pela doença, que a colocou em cadeiras de rodas. Sempre que perguntada sobre sua condição, respondia que estava como "o Mestre desejava". Suas últimas palavras foram "Eu estou tão feliz. Nossa Senhora, Nossa Senhora!". Santa Baquita morreu em 8 de Fevereiro de 1947, às 8:10 da noite. Por três dias os italianos vieram prestar-lhe homenagens.
Os pedidos para sua canonização iniciaram-se imediatamente e o processo foi instalado pelo Papa João XXIII. Em 1o de Dezembro de 1978, o Papa João Paulo II declarou-a venerável; em 17 de Maio de 1992, declarou-a beata e em 1o de Outubro de 2000, foi canonizada. Sua memória é celebrada em 8 de Fevereiro.
-- Autoria própria
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