* Pela primeira vez desde o Concílio Vaticano II alterar os ensinamentos sobre o povo judeu cerca de 50 anos, um grupo de rabinos ortodoxos publicou uma declaração apreciando os valores religiosos do Cristianismo e afirmando que há espaço para colaboração entre as duas religiões. O documento foi publicado no site do Centro de Entendimento e Cooperação Judaíca-Cristã, em Israel e assinado por 25 rabinos de Israel, Estados Unidos e Europa. A tradução é minha, com base no texto em inglês da Radio Vaticano; Nostra Aetata é o título de um documento publicado durante o Concílio que aborda e altera os ensinamentos da Igreja sobre o povo judeu e o Judaísmo.
Após cerca de dois milênios de mútua hostilidade e seperação, nós, Rabinos Ortodoxos que lideramos comunidades, instituições e seminários em Israel, Estados Unidos e Europa, reconhecemos a oportunidade histórica diante de nós. Nós procuramos fazer a vontade do Pai aceitando a mão estendida por nossos irmãos cristãos. Judeus e Cristãos podem trabalhar em conjunto como parceiros para endereçar os desafios moral da nossa era.
1. O Holocausto terminou a cerca de 70 anos atrás. Foi o clímax de séculos de desrespeito, opressão e rejeição dos Judeus e a consequente inimizade que desenvolveu-se entre Judeus e Cristãos. Em retrospecto, é claro que a falha de enfrentar a situação e engajar em um diálogo construtivo para o bem da humanidade enfraqueceu a resistência às forças malignas do anti-semitismo que envolveram o mundo em assassinatos e genocídio.
2. Reconhecemos que desde o Concílio Vaticano II os ensinamentos oficiais da Igreja Católica sobre o Judaísmo tem sido alterados de maneira fundamental e irrevocável. A promulgação da Nostra Aetate cinquenta anos atrás iniciou o processo de reconciliação entre as duas comunidades. Nostra Aetate e os subsequentes documentos da Igreja rejeitam inequivocadamente qualquer forma de anti-semitismo, afirmam a Aliança eterna entre D'us e o povo judeu; rejeita o deicídio e destaca a relação única entre Cristãos e Judeus, que são chamados de "nossos irmãos mais velhos" pelo Papa João Paulo II e "nossos pais na fé" pelo Papa Benedito XVI. Nestas bases, católicos e outras autoridades de igrejas cristãs iniciaram um diálogo honesto com judeus que tem aumentado nestas cinco décadas. Apreciamos a afirmação da Igreja de que Israel tem um lugar sagrado na história e na redenção da humanidade. Hoje em dia os judeus tem experimentado um amor sincero e grande respeito por muitos cristãos, expresso em várias iniciativas de diálogo, encontros e conferências em todo mundo.
3. Seguindo Maimonides e Yehudah Halevi, reconhecemos que a Cristandade não é um acidente nem um erro, mas um desejo divino e um presente para as nações. Ao separar entre Judaísmo e Cristianismo, D'us desejou uma separação entre iguais com significativas diferenças teológicas, não uma separação de inimigos. Rabino Jacob Emden escreveu que "Jesus trouxe duas bençãos para o mundo. Em uma mão, ele fortaleceu a Torá de Jesus magnificamente... e nenhum dos nossos sábios falou tão enfaticamente sobre a imutabilidade da Torá. Na outra mão, ele removeu os ídolos das nações e os obrigou a seguir os sete mandamentos de Noé para que não vivessem como animais soltos nos campos, instilando-os com firmes ensinamentos morais. Cristãos são congregações que trabalham para alcançar os céus, que está destinado àqueles que perseveram na intenção de alcançar os céus e cuja recompensa não é negada. Rabino Samson Raphael Hirsch ensinou que "os cristãos aceitaram a Velho Testamento como um livro dado por revelação Divina. Eles professam a crença no D'us dos Céus e da Terra como proclamado na Bíblia e reconhecem a Providência Divina". Agora que a Igreja Católica reconheceu a Aliança eterna entre D'us e Israel, nós judeus reconhecemos a validade construtiva da Cristandade como nossos parceiros na redenção do mundo, sem temer que seremos explorados para fins missionários. Como afirmado pelo Rabinato Chefe de Israel na Comissão Bilateral com a Santa Sé, através da liderança do Rabino Shear Yashuv Cohen, "Não somos mais inimigos, mas parceiros inequivocos para articular os valores morais essenciais para a sobrevivência e bem-estar da humanidade". Nenhum de nós pode realizar a missão de D'us no mundo sozinho.
4. Judeus e Cristãos tem em comum a missão de aperfeiçoar o mundo sobre o domínio do Todo Poderoso, para que toda humanidade venha chamar Seu nome e as abominações sejam removidas da face da Terra. Nós entendemos que possa haver hesitações de ambas comunidades em afirmar esta verdade e convidamos a todos a superar seus medos para estabelecer uma relação de confiança e respeito. Rabino Hirsch também ensinou que o Talmud coloca os Cristãos "no que diz respeito aos deveres entre homens exatamente no mesmo nível dos Judeus. Eles tem deveres em todos aspectos, não apenas de justiça mas também de amor fraternal". No passado as relações entre Cristãos e Judeus foram muitas vezes retratadas através de Esaú e Jacó, embora o Rabino Naftali Zvi Berliner já tivesse entendido ao final do século XIX que Judeus e Cristãos são destinados por D'us ao amor fraternal: "No futuro, quando os filhos de Esaú deixarem-se envolver por espírito mais puro, reconhecerão o povo de Israel e suas virtudes, então seremos obrigados a reconhecer Esaú como nosso irmão".
5. Nós Judeus e Cristãos temos mais em comum do que aquilo que nos divide: a ética monoteísta de Abraão; o relacionamento com o Criador dos Céus e da Terra, que ama e cuida de todos nós; as Sagradas Escrituras Judaicas; a crença numa tradição que nos une; os valores de vida, família, compaixão, retidão, justiça, inalienável liberdade, amor universal e o desejo de paz universal. Rabino Moses Rivkis confirma isto ao escrever que "nossas histórias fazem referência ao idólatra que não acredita na criação do mundo, no êxodo, nas miraculosas intervenções divinas e na lei divina. Ao contrário, há pessoas que dispersas no mundo acreditam em todos estes ensinamentos essenciais da religiao".
6. Nossa parceria, de nenhuma maneira, minimiza as diferenças existentes entre as duas comunidades e religiões. Nós acreditamos que D'us emprega muitos mensageiros para revelar sua Verdade, enquanto nós afirmamos as fundamentais obrigações éticas que devem orientar todas as pessoas frente a D'us, como o Judaísmo tem ensinado desde sempre, atravé da aliança de Noé.
7. Ao imitarmos D'us, Judeus e Cristãos devem ser modelos de serviço, amor incondicional e santidade. Somos todos criados à Imagem de D'us, e Judeus e Cristãos devem permanecer dedicados à Aliança tendo um papel conjunto na redenção do mundo.
Assinaturas:
Rabino Jehoshua Ahrens (Alemanha)
Rabino Marc Angel (Estados Unidos)
Rabino Isak Asiel (Rabino Chefe da Sérvia)
Rabino David Bigman (Israel)
Rabino David Bollag (Suiça)
Rabino David Brodman (Israel)
Rabino Natan Lopez Cardozo (Israel)
Rav Yehudah Gilad (Israel)
Rabino Alon Goshen-Gottstein (Israel)
Rabino Irving Greenberg (Estados Unidos)
Rabino Marc Raphael Guedj (Suiça)
Rabino Eugene Korn (Israel)
Rabino Daniel Landes (Israel)
Rabino Steven Langnas (Alemanha)
Rabino Benjamin Lau (Israel)
Rabino Simon Livson (Rabino Chefe da Finlândia)
Rabino Asher Lopatin (Estados Unidos)
Rabino Shlomo Riskin (Israel)
Rabino David Rosen (Israel)
Rabino Naftali Rothenberg (Israel)
Rabino Hanan Schlesinger (Israel)
Rabino Shmuel Sirat (França)
Rabino Daniel Sperber (Israel)
Rabino Jeremiah Wohlberg (Estados Unidos)
Rabino Alan Yuter (Israel)
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