* É seguro assumir que este texto representa a maneira como São Francisco Xavier explicava os artigos da oração do Creio aos habitantes das terras asiáticas que catequisou. O santo fundou, junto com amigos, a ordem dos jesuítas, reconhecida pelo Papa em 1541, alguns anos após o pedido ser apresentado. São Francisco Xavier desembarcou na Índia, na cidade de Goa, em 6 de Maio de 1542. Dali, até a sua morte, em 3 de Dezembro de 1552, dedicou-se a catequização da Ásia, tendo viajado pela Índia, Sudeste Asiático, Filipinas, China e até o Japão.
Este texto é uma tradução particular com base no livro Vida e Cartas de São Francisco Xavier, páginas 321 a 339, disponível no site The Internet Archive. O livro foi publicado em 1881, na Inglaterra. Como é um texto longo, irei publicar em partes, na medida traduzi-lo.
Pintura japonesa representando Sào Francisco Xavier e seu grupo de missionários no país. |
1. Delicia aos cristãos ouvir e aprender a maneira e ordem na qual o Senhor Deus fez todas as coisas, para uso e serviço do homem. No início Ele criou os céus e a terra, os Anjos, o sol, a lua e as estrelas; o dia e a noite; plantas e ervas de todos os tipos, raízes e frutas nas árvores; pássaros e animais que vivem sobre a terra; os mares, rios, lagos e todas criaturas que vivem nas águas. E após tudo isto ter sido criado, Ele fez, por último, o homem, à sua imagem e semelhança.
2. O primeiro homem criado foi Adão, e a primeira mulher, Eva. Tendo formado a ambos e inspirado sobre eles a vida, colocou-os no Paraíso terrestre. Abençoou-os, deu-os um ao outro e os ligou-os pelo casamento, ordenou-os a se unirem, terem filhos e encher a terra de habitantes. Deste casal somos todos descendentes, a partir deles todas as nações se formaram. Neste primeiro tipo de povo habitando a terra, vemos um exemplo da unidade através do casamento. Por ele, Deus, o senhor de toda sabedoria, o criador da natureza, não deu a Adão mais que uma mulher. Fica claro como é contrário à autoridade de Deus tomar mais de uma esposa, como aprovam muçulmanos e idólatras, e mais deplorável e corrupto, como fazem algumas vezes maus cristãos, que vivem com muitas mulheres; e mesmo aqueles que vivem com apenas uma concubina não escapam da condenação por esta lei; pois Deus não permitiu a Adão e Eva unirem-se e terem filhos antes de estarem unidos pelos laços do matrimônio.
3. Portanto, os fornicadores, rebeldes ao Deus que os fez, devem esperar punições adequadas aos seus crimes. Também os que fazem orações aos ídolos devem entender o grave crime de que são culpados, abandonando e desprezando o único verdadeiro Deus, o único criador de todas as coisas. Fazem orações, em seu erro fanático, a ídolos mudos e fantasmas do inferno. A razão nos mostra claramente que devemos procurar seguir a Ele, que nos deu os princípios da vida; eles, na sua sacrílega tolice, colocam suas esperanças e ações em atos de bruxaria e histórias contadas por adivinhos. Eles dirigem ao Diabo - o implacável inimigo da salvação - a fé e oração devidas a Deus, o autor de todas as boas coisas, de quem receberam sua alma, seu corpo, tudo o que são e possuem. Impiedade não mais deplorável e detestável, fatal para os pobres que são culpados de cometê-las, pois esta insensível superstição os exclui de ganhar um lugar na vida eterna, um local cheio de alegrias preparadas para a alma dos que reconhecem a Deus, a abençoada felicidade, pela qual o Criador, em seu infinito amor, criou o gênero humano.
4. Quão mais inteligentes são os cristãos! Fiéis a Deus, acreditam em Seu Senhor e a Ele prestam culto em espírito; e com toda sua capacidade e afeto de seus corações o aceitam; o único verdadeiro, supremo e eterno Espírito, criador dos céus e a terra. Demonstram o que passa em seus corações através de sinais de devoção, frequentando igrejas, onde podem ver em altares imagens de Jesus Cristo, seu Filho; da Virgem Maria Mãe de Deus; e de santos, que após uma vida a serviço de Deus, reinam com ele na glória do Paraíso.
5. Em meio a figuras solenes, que relembram santos acontecimentos, pessoas representadas por estas imagens, ajoelhados no chão, com as mãos elevadas ao céu, na direção em que colocam seu coração, os cristãos confessam sua fé em Deus, apenas a Ele creditam suas alegrias e consolações, dizendo estas palavras de São Pedro: "Eu creio em Deus Pai, Todo Poderoso, criador do céu e da terra". Criador também dos anjos que estão nos céus, anteriores ao homem. Agora, a multidão dos anjos avidamente adora o seu Deus, dando graças e glorificando-O pela sua abençoada criação. Lucifer, por outro lado, e muitos anjos caídos recusam-se a adorá-Lo como seu criador; disseram com orgulho, vamos nos elevar, fazermo-nos como deuses, reinando nos altos céus. Para punir esta rebelião, Deus expulsou a Lucifer e seus seguidores do céu, mandando-os aos infernos.
6. Lucifer, caído dos céus, viu Adão e Eva, os primeiros humanos, e invejoso da graça de Deus que os criara, para fazê-los cair em tentação, colocou em seus corações o mesmo orgulho que o fez sair do céu. Encontrou-os no Paraíso terrestre e os prometeu falsamente a mesma glória de Deus criador, se comessem do fruto proibido. Adão e Eva deixaram-se levar pela falsa promessa que se tornariam como deuses, e consentiram, comeram do fruto e perderam a graça na qual haviam sido criados. Como punição para o seu pecado, Deus os dirigiu para fora do paraíso. Daquele momento em diante, viveram afastados de Deus, numa condição de duros serviços, fazendo penitência pelo pecado cometido, a culpa estava muito acima de qualquer expiação, que por mais que Adão e seus filhos possam pagar, tudo é insuficiente para apagar a marca e restaurar a esperança de viver na alegria eterna, do qual foram justamente privados como punição pelo seu orgulho e desejo de serem como deuses. A partir daquele momento, os portões do Paraíso mantiveram-se fechados, atrás de barreiras impenetráveis, que afastaram Adão e sua posteridade de todo acesso a glória irreparavelmente perdida pelo pecado cometido, a sua ruína e de seus filhos.
-- Explanação Catequética do Credo para os Habitantes das Ilhas Molucas, por São Francisco Xavier (século XVI)
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