Uma caridade quase inacreditável, não fingida mas sincera, inflamava o coração de Casimiro no amor de Deus pela acção do Espírito divino; e de tal modo transbordava espontaneamente no amor do próximo, que nada era para ele alegria maior, nada lhe era mais agradável, do que dar o que lhe pertencia e dar-se a si próprio aos pobres de Cristo, aos peregrinos, aos doentes, aos prisioneiros e aos atribulados. Para as viúvas, os órfãos e os oprimidos, não era apenas tutor e defensor: era pai, filho e irmão.
E seria necessário escrever uma longa história, se quiséssemos referir cada uma das grandes obras com que demonstrou o seu amor para com Deus e para com os homens.
Dificilmente se pode descrever ou imaginar o seu amor pela justiça, a sua temperança, a sua prudência, a sua constância e fortaleza de ânimo, precisamente naquela idade mais inconsiderada em que os homens costumam ser mais impetuosos e inclinados para o mal.
Todos os dias persuadia o pai a governar com justiça o reino e os povos que lhe estavam submetidos. E se às vezes acontecia, ou por inércia ou pela fraqueza humana, que alguma coisa vinha negligenciada no governo, nunca deixava de repreender o rei com delicadeza.
Abraçava e defendia como suas as causas dos pobres e dos infelizes, e por isso o povo lhe chamava defensor dos pobres. E, apesar de ser filho do rei e de nobre ascendência, nunca se mostrava orgulhoso a tratar ou conversar com qualquer pessoa, por mais humilde que fosse de condição.
Preferiu sempre ser contado entre os humildes e pobres de espírito, dos quais é o reino dos Céus, a ser considerado entre os ilustres e poderosos deste século. Nunca ambicionou o poder; e quando o pai lho ofereceu não o quis aceitar, temendo que o seu ânimo fosse ferido pelo aguilhão das riquezas, a que Nosso Senhor Jesus Cristo chamou espinhos, ou pudesse ser manchado pelo contágio das coisas terrenas.
Todos os da sua casa, os seus camareiros e secretários, dos quais alguns ainda vivem, homens insignes e bons que o conheciam profundamente, asseguram e testemunham que ele viveu em virgindade até ao fim dos seus dias.
-- Da Vida de São Casimiro, escrita por um autor quase contemporâneo
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