20 de mai. de 2011

O novo mandamento: Amai-vos uns aos outros

O Senhor Jesus afirma que dá um novo mandamento a seus discípulos, isto é, que se amem mutuamente: Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros (Jo 13,34).

Mas este mandamento já não estava escrito na antiga lei de Deus, onde se lê: Amarás o teu próximo como a ti mesmo? (Lv 19,18). Por que então o Senhor chama novo o que é evidentemente tão antigo? Será um novo mandamento pelo fato de nos revestir do homem novo, depois de nos ter despojado do velho? Na verdade, ele renova o homem que o ouve, ou melhor, que lhe obedece; não se trata, porém, de um amor puramente humano, mas daquele que o Senhor quis distinguir,acrescentando: Como eu vos amei (Jo 13,34).
Santo Agostinho, doutor da Igreja

É este amor que nos renova, transformando-nos em homens novos, herdeiros da nova Aliança, cantores do canto novo. Foi este amor, caríssimos irmãos, que renovou outrora os antigos justos, os patriarcas e os profetas e, posteriormente, os santos apóstolos. Ainda hoje é ele que renova as nações e reúne todo o gênero humano espalhado pelo mundo inteiro, formando um só povo novo, o corpo da nova esposa do Filho unigênito de Deus. É dela que se diz no Cântico dos Cânticos: Quem é esta que sobe vestida de branco? (cf. Ct 8,5). Vestida de branco, sim, porque renovada; e renovada de que modo, senão pelo mandamento novo?

Por isso os membros desta esposa sentem uma solicitude mútua. Se um membro sofre, todos sofrem com ele; se um membro é honrado, todos os outros se alegram com ele. Pois ouvem e praticam a palavra do Senhor: Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Não como se amam aqueles que vivem na corrupção da carne; nem como se amam os seres humanos apenas como seres humanos; mas como se amam aqueles que são deuses e filhos do Altíssimo. Deste modo, se tornam irmãos do Filho unigênito de Deus, amando-se uns aos outros com aquele mesmo amor com que ele os amou, e por ele serão conduzidos à plenitude final, onde os seus desejos serão completamente saciados de bens. Então nada faltará à sua felicidade, quando Deus for tudo em todos.

Quem nos dá este amor é o mesmo que diz: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei. Foi para isto que ele nos amou, para que nos amássemos mutuamente. E com o seu amor, deu-nos a graça, para que, vivendo unidos em recíproco amor, como membros ligados por tão suave vínculo, formemos o Corpo de tão sublime Cabeça.

-- Dos Tratados sobre o Evangelho de São João, de Santo Agostinho, bispo (século V)

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