* Texto publicado as vésperas da festa de São Raimundo, celebrada em 7 de Janeiro.
São Raimundo de Penyafort (1175-1275) é o padroeiro dos advogados canônicos, por ter organizado o Direito Canônico a pedido do Papa Gregório IX. |
Se todos os que quiserem levar uma vida fervorosa em Cristo Jesus serão perseguidos (2Tm 3,12), como afirma com toda sinceridade aquele Apóstolo que é chamado "pregador da verdade", a meu ver, ninguém está excluído desta norma geral, senão quem negligencia ou não sabe viver neste mundo com equilíbrio, justiça e piedade (Tt 2,12).
Longe de vós serdes contados entre aqueles cujas casas estão em paz, tranquilas e seguras, sem que a mão do Senhor pese sobre eles; e que, depois de passarem agradavelmente os seus dias são, de repente, precipitados no inferno.
Vossa pureza e piedade merecem e exigem - já que sois aceitos e queridos por Deus - que esta pureza seja aprimorada por meio de repetidas provações até atingir a mais total sinceridade. Por conseguinte, se às vezes uma espada se duplica ou triplica sobre vós, deveis recebê-la com toda alegria, como sinal de amor.
A espada de dois gumes são os combates por fora e os temores por dentro. Ela se duplica ou triplica interiormente quando o espírito do mal inqueita o íntimo do coração com enganos e seduções. Mas vós conheceis muito bem este gênero de combates; de outra forma não teria sido possível conseguir esta perfeita paz e tranquilidade interior.
A espada se duplica ou triplica por fora quando, sem motivo, surge uma perseguição eclesiástica de assuntos espirituais; aqui as feridas são mais dolorosas porque vêm de amigos.
Esta é a desejável e bem-aventurada cruz de Cristo que o corajoso Santo André abraçou com alegria; segundo as palavras do Apóstolo chamado "instrumento escolhido", é somente nela que devemos nos gloriar.
Olhai, portanto, para Jesus, autor e consumador da fé (Hb 12,2); embora sendo inocente, padeceu por parte dos seus e foi contado entre os malfeitores (Is 53,12). Bebendo o cálice do Senhor Jesus, dai graças a Deus, doador de todos os bens.
Que este mesmo Deus do amor e da paz pacifique os nossos corações e apresse o vosso caminhar. Esconda-vos por enquanto, até vos introduzir e estabelecer naquela plenitude onde vivereis eternamente na beleza da paz, em morada segura e no repouso da abundância.
-- De uma carta de São Raimundo de Penyafort, presbítero (século XIII)
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