Tendo a Bem-aventurada Virgem dito no versículo precedente que todas as gerações A chamarão Bem-aventurada, neste declara as causas, que são as grandes coisas que Deus Lhe fez.
Quais são essas grandes coisas? Escutemos Santo Agostinho: "É uma grande coisa que uma Virgem seja mãe sem pai. É uma grande coisa que tenha levado em seu seio o Verbo de Deus Pai, revestido de sua carne. É uma grande coisa tornar-Se Mãe de seu Criador aquela que só se atribui a qualidade de serva".
Deus fez portanto coisas tão grandes a essa divina Virgem, que não pôde fazer-Lhe maiores. Pois que bem maior pode fazer no mundo, diz São Boaventura, seria possível uma Mãe maior e mais nobre que uma Mãe de Deus? Pois, se pudesse fazer maior, seria necessário dar-Lhe um Filho mais excelente. Ora, pode achar-se mais digno filho que o próprio Filho de Deus, de quem a Bemaventurada Virgem Maria é a Mãe?
Que mais direi? Deus elevou tão alto essa Virgem incomparável e Lhe deu privilégios tão extraordinários que se pode dizer ter Ela dado à sua divina Majestade, se é permitido falar assim, coisas de certo modo maiores que as recebidas. De Deus, Ela recebeu ser sua criatura, ser-Lhe agradável, cheia de graça, bendita acima de tôdas as mulheres, etc. Mas a Deus, Ela deu ser o nosso Emanuel, isto é, Deus conosco; ser Deus e homem; o Redentor dos homens pelo precioso sangue que dEla recebeu; ter todo o poder no céu e na terra enquanto homem; ser o chefe da Igreja enquanto homem; ser o chefe dos anjos enquanto homem; perdoar os pecados enquanto homem.
Se o nosso Salvador deu a seus Apóstolos o poder de fazer milagres maiores que os feitos por Ele próprio, segundo o testemunho do Evangelho (João 14, 12), não é para admirar que tenha dado à sua Mãe santíssima o poder de Lhe dar coisas maiores que as dEle recebidas. Pois esse poder é uma das grandes coisas de que Ela fala ao dizer que o Todo-Poderoso Lhe fez grandes coisas ...
Depois de tudo isso, quem não admirará as grandes e maravilhosas coisas que Deus fez à gloriosa Virgem? E quem não reconhecerá que foi o Espírito Santo quem Lhe fez pronunciar as palavras: Faça-se em mim segundo a tua vontade? Oh! quantos prodígios e milagres compreendem essas palavras! Oh! como é grande ser Virgem e Mãe de um Deus! Oh! como é grande dar nascimento temporal em um seio virginal, Aquele que nasceu antes de todos os séculos no seio do Pai das misericórdias! Oh! como é grande para uma criatura mortal dar a vida Aquele de quem a recebeu! Oh! como é grande ter um poder e autoridade de Mãe sobre Aquele que é o soberano Monarca do universo! Oh! como é grande ser a nutridora, a guardiã e a governante dAquele que conserva e governa o mundo inteiro por sua imensa Providência! Oh! como é grande ser a Mãe de tantos filhos quantos cristãos tem existido e existirão para sempre na terra e no céu.
Eis muitas coisas grandes e maravilhosas, feitas por Deus à Rainha do céu. Mas eis o milagre dos milagres: é que, sendo tão grande quanto é, Ela se considera como se nada fosse.
Tendo a Bem-aventurada Virgem dito que o Onipotente Lhe fez grandes coisas, acrescenta em seguida as palavras: E santo é o seu Nome. O mistério assinalado por estas palavras consiste em que a humanidade santa do divino Menino, que a Bem-aventurada Virgem concebeu em suas entranhas, é santificada pela união intima em que Ela entrou com a santidade essencial, que é a Divindade; o que se acha também designado pelas palavras de São Gabriel: O que nascer de Ti, será chamado Santo.
O mistério consiste também em que esse Menino Deus é assim santificado e constituido Santo dos santos, a fim de santificar e glorificar o Nome do tres vezes Santo, tanto quanto Ele o merece; e ainda, a fim de fazê-lO santificado e glorificado na terra, no céu e em todo o universo, cumprindo, desta forma, o que se acha determinado nas palavras: seja santificado o vosso Nome.
Vede e admirai quantas maravilhas se acham contidas nessas poucas palavras, pronunciadas pelos sagrados lábios da Mãe do Santo dos santos, cujo santo Nome seja santificado, louvado e glorificado, por toda a eternidade.
-- Da Explicação do Magnificat, de São João Eudes (século XVII)
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