O corpo ressuscitado de Cristo teve a mesma natureza do corpo humano, tudo o que pertence à natureza do corpo humano existiu totalmente no corpo de Cristo ressuscitado. Ora, é manifesto que da natureza do corpo humano fazem parte as carnes, os ossos, o sangue e atributos semelhantes. Tudo isso existiu no corpo de Cristo ressuscitado pois do contrário a ressurreição não seria perfeita, se não se reintegrasse tudo o que se desagregou pela morte. Considere que o Senhor fez aos seus fiéis a seguinte promessa: Até os mesmos cabelos da vossa cabeça, todos eles estão contados (Mt 10,30; Lc 12,7). E noutro lugar: Não se perderá um cabelo da vossa cabeça (Lc 21,8).
Quanto a afirmar que o corpo de Cristo não tinha carne nem ossos nem as demais partes naturais ao corpo humano, isso constitui o erro de Entíquio, bispo da cidade de Constantinopla. Dizia ele que o nosso corpo, na glória da ressurreição, será impalpável e mais leve que o vento e o ar. E que o Senhor, depois de ter confirmado o coração de seus discípulos, fazendo-os lhe apalpar o corpo, tornou então imaterial tudo o que antes nele podia ser tocado.
São Gregório Magno refutou esta doutrina argumentando que o corpo de Cristo não sofreu depois da ressurreição nenhuma mudança, pois, se é inadmissível que Cristo tivesse recebido, na sua concepção, um corpo não-humano, digamos, celeste, como Valentiniano afirmava, muito mais inadmissível é que, na ressurreição, reassumisse um corpo de natureza diferente, pois que o corpo reassumido na ressurreição, para a vida imortal, foi o mesmo que assumiu, na concepção, para a vida mortal. Reconhecendo seu erro, Entíquio retratou-se antes de morrer.
Alguns persistem achando que Cristo ressuscitado era um espírito imaterial, sem carne nem ossos. Esta dúvida foi esclarecida pelo próprio Cristo: Observai as minhas mãos e meus pés e vede que Eu Sou o mesmo! Tocai-me e comprovai o que vos afirmo. Por que um espírito não tem carne nem ossos, como percebeis que Eu tenho (Lc 24, 39). Mas como a corpo de Cristo não sofreu a decadência natural, mas foi visto por cinquenta dias após sua morte? Para explicar este milagre, São Paulo afirma: Nem a corrupção herdará a incorruptibilidade (1Cor 15,50). É fato que Deus todo-poderoso, com relação às propriedades visíveis e palpáveis dos corpos, pode manter algumas e privar os corpos de outras, conforme quiser; de sorte que guardem a sua forma exterior sem nenhuma falha ou corrupção, o movimento sem a fadiga, o poder de comer sem a necessidade. de nutrir-se, como relatam os evangelistas.
Por fim, cabe dizer quanto ao sangue conservado por certas Igrejas como relíquias, esse não correu do lado de Cristo; mas é considerado como tendo jorrado milagrosamente de alguma imagem sua, objeto de qualquer violência, não afetando, portanto a integridade do corpo ressuscitado.
-- adaptado da Suma Teológica, Tertia Pars, questão 54, artigo 2, de São Tomás de Aquino.
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