O sacrifício instituído por Cristo é verdadeiramente um presente concedido como herança: é o dom que ele nos deixou como garantia da sua presença, na noite em que foi entregue para ser crucificado. É o alimento que nos sustenta nos caminhos desta vida até o dia em que, partindo deste mundo, formos ao encontro do Senhor. Pois ele mesmo disse: Se não comerdes a minha carne e não beberdes o meu sangue, não tereis a vida em vós (Jo 6,53).
Com razão se considera o pão como imagem inteligível do Corpo de Cristo. De fato, assim como para fazer o pão é necessário reunir muitos grãos de trigo, transformá-los em farinha, amassar em farinha com água e cozê-la ao fogo, assim também o Corpo de Cristo reúne a multidão de todo o gênero humano e o leva à perfeita unidade de um só corpo por meio do fogo do Espírito Santo.
Do mesmo modo, o vinho do seu sangue, proveniente de muitos cachos, quer dizer, feito das uvas da videira por ele plantada, espremido no lagar da cruz, fermenta por si mesmo em amplos recipientes que são os corações dos fiéis. Todos vós que fostes libertados do Egito e do poder do Faraó, isto é, do demônio, recebei com santa avidez de coração este sacrifício pascal de salvação. E assim, sejamos santificados até o mais íntimo de nosso ser por Jesus Cristo nosso Senhor, que cremos estar presente em seus sacramentos. Seu poder inestimável permanece por todos os séculos.
-- adaptado Dos Tratados de São Gaudêncio, século V