21 de nov. de 2010

O Reino de Deus

Ícone de Cristo Rei
O Reino de Deus, conforme as palavras de Nosso Senhor e Salvador, não vem visivelmente, nem se dirá: Ei-lo aqui ou ei-lo ali; mas o reino de Deus d eDeus está dentro de nós (Lc 17,21), pois a palavra está muito próxima de nossa boca e nosso coração (Rm 10,8). Donde, se segue, sem dúvida nenhuma, que quem reza pedindo a vinda do reino de Deus pede - justamente por já ter em si um início deste reino - que ele desponte, dê frutos e chegue à perfeição.

Pois Deus reina em todo o santo e quem é santo obedece às leis espirituais de Deus, que nele habita como em cidade bem administrada. Nele está presente o Pai e, junto com o Pai, reina Cristo na pessoa perfeita, segundo as palavras: Viremos a ele e nele faremos nossa morada (Jo 14,23).

Então o Reino de Deus, que já está em nós, chegará por nosso contínuo adiantamento à plenitude, quando se completar o que foi dito pelo Apóstolo: sujeitados todos os inimigos, Cristo entregará o Reino a Deus e Pai, a fim de que Deus seja tudo em todos (1Cor 15, 24.28). Por isto, rezemos sem cessar, com aquele amor que pelo Verbo se faz divino; e digamos a nosso Pai que está nos céus: Santificado seja teu nome, venha o teu reino (Mt 6, 9-10).

É de se notar também a respeito do reino de Deus: da mesma forma que não há participação da justiça com a iniqüidade nem sociedade da luz com as trevas, nem pacto de Cristo com Belial (2Cor 6,14-15), assim o reino de Deus não pode subsistir junto com o reino de pecado.

Por conseguinte, se queremos que Deus reine em nós, de modo algum reine o pecado em nosso corpo mortal (Rm 6,12), mas mortifiquemos nossos membros que estão na terra (Cl 3,5) e produzamos fruto no Espírito. Passeie, então, Deus em nós como em paraíso espiritual, objeto de nosso desejo. Assente-se até que nossos inimigos todos que existem em nós sejam reduzidos a escabelo de seus pés (Sl 109,1), lançados fora todo principado, potestade e virtude.

Tudo isto pode acontecer a cada um nós e ser destruída a última inimiga, a morte (1Cor 15,26). E Cristo diga também dentro de nós: Onde está, ó morte, teu aguilhão? Onde está, inferno, a tua vitória? (1Cor 15,55). Já, agora, portanto, o corruptível em nós se revista de santidade e de incorruptibilidade, vista  imortalidade paterna (1Cor 15,54), para que, reinando Deus, vivamos dos bens do novo nascimento e da ressurreição.  

-- Do Opúsculo sobre a Oração, de Orígenes, presbítero (século III)

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