Agora explicarei brevemente a maneira pela qual devemos jejuar, para que nosso jejum seja proveitoso e útil, nos conduza à uma vida justa, e, por conseqüência, à uma morte justa. Muitos jejuam em todos os dias indicados pela Igreja: nas vigílias, dias de semana e durante a Quaresma. Alguns jejuam também durante o Advento, prepararando-se piedosamente para a Natividade de Nosso Senhor; ou nas sextas-feiras, em memória da paixão de Cristo; ou aos sábados, em honra a Nossa Senhora Virgem Mãe de Deus. Mas, qualquer que seja o motivo, é questionável se estão aproveitando bem as vantagens do jejum. O principal objetivo do jejum é a mortificação da carne e que o espírito seja fortalecido. Com este propósito, devemos nos restringir apenas à dietas não prazerosas. Assim nossa mãe a Igreja nos orienta a termos apenas uma refeição completa por dia, e sem comer carnes vermelhas ou brancas e partir apenas ervas ou frutas.
Cristo no Deserto. Pintura de Moretto da Brescia, (Metropolitam Museum of Art/NY) |
Tertuliano assim qualifica em duas palavras, no seu livro "A Ressureição da Carne", quando chama o limento daqueles que jejuam como "refeições tardias e secas". Há aqueles que certamente não observam estes preceitos, que nos dias de jejum comem em apenas uma refeição tudo que comeriam durante num dia normal, que almoçam e jantam ao mesmo tempo, que para apenas uma refeição preparam tantos pratos de diferentes peixes e outras coisas agradáveis, que não parece algo para piedosos jejuadores, mas um banquete nupcial que continua através da noite. Estes que assim jejuam, certamente não aproveitam os benefícios do jejum.
Também não obtém os frutos de um jejum piedoso quem, apesar de comer moderadamente, nos dias de jejum não se abstem de jogos, festas, disputas, discussões, músicas lascivas, e atitudes imoderadas; ou ainda pior, cometem crimes como se fossem dias comuns. Escutem o que diz o profeta Isaias sobre este tipo de pessoas: De que serve jejuar, se com isso não vos importais? E mortificar-nos, se nisso não prestais atenção? É que no dia de vosso jejum, só cuidais de vossos negócios, e oprimis todos os vossos operários. Passais vosso jejum em disputas e altercações, ferindo com o punho o pobre. Não é jejuando assim que fareis chegar lá em cima vossa voz. (Is 58, 3-4) Então o Todo-Poderoso corrige o povo, porque nos dias de jejum, preferem fazer a sua vontade e não a vontade de Deus; por que não perdoam seus devedores, como rezam para serem perdoados por Deus; não são capazes nem de esperar para cobrar seu dinheiro. Também passam o tempo que deveria ser utilizado em orações ocupados em disputas e discussões. Assim agindo, ao invés de ocuparem o dia atendendo coisas espirituais, como deve-se fazer em dias de jejum, eles estão somando pecados novos aos pecados anteriores, atacando ao próximo.
Estes e outros pecados devem ser evitados por pessoas piedosas, que desejam que seu jejum agrade a Deus e seja útil para si mesmo. Estes poderão ter esperança em uma vida justa e em um dia, morrer de maneira santa.
-- Do Livro A Arte de Morrer Bem, de São Roberto Belarmino, bispo (século XVIII)
Um comentário:
gostei muito pois tinham muitas duvidas sobre o jejum com estes textos sanaram algumas duvidas muito grata.neiva
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