26 de nov. de 2010

Os frutos da esmola

Em primeiro lugar, ninguém duvida que as Sagradas Escrituras pedem esmolas. A sentença que nosso supremo e justo Juiz proferirá contra os ímpios no último dia é suficiente, mesmo supondo que não tenha nada mais contra nós:  Retirai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno destinado ao demônio e aos seus anjos. Porque tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber; era peregrino e não me acolhestes; nu e não me vestistes; enfermo e na prisão e não me visitastes (Mt 25,41-43). E um pouco depois: Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que deixastes de fazer isso a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer (Mt 25,45).  

Se não há muito a dizer sobre a necessidade de dar esmolas, há muito mais sobre os frutos, pois estes são abundantes. Primeiro, esmolas salvam a alma da morte eterna, sejam elas uma forma de satisfação ou disposição de receber as graças. Esta doutrina é claramente ensinada nas Sagradas Escrituras. No livro de Tobias podemos ler: a esmola livra do pecado e da morte, e preserva a alma de cair nas trevas (Tb 4,11); no mesmo livro, o anjo Rafael afirma: a esmola livra da morte: ela apaga os pecados e faz encontrar a misericórdia e a vida eterna (Tb 12,9). E Daniel disse ao rei Nabucodonosor: Queiras então, ó rei, aceitar meu conselho: resgata teu pecado pela justiça, e tuas iniqüidades pela piedade para com os infelizes; talvez com isso haja um prolongamento de tua prosperidade (Dn 4,24 ).

Esmolas também, se dadas por um homem justo, e com verdadeira caridade, são meritórias para a vida eterna:  isto o Juiz dos vivos e mortos pode testemunhar: Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo, porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes; nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim (Mt 25, 34-36). E logo após: Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes (Mt 25,41).
Maria Madalena aos pés de Jesus

Em terceiro lugar, esmolas são como um batismo, porque levam consigo tanto os pecados quanto a punição, de acordo com as palavras do Eclesiástico: A água apaga o fogo ardente, a esmola enfrenta o pecado (Eclo 3,33). A água extingue completamente o fogo, de tal modo que a fumaça permanece. Desta maneira ensinam muitos dos Santos Padres, como São Cipriano, São Ambrósio, São João Crisóstomo e São Leão, cujas palavras é desnecessário citar. Esta, portanto, é uma grande vantagem, que pode inflamar em todos os homens o amor às esmolas. Mas isto não pode ser entendido de qualquer modo, mas apenas aquelas que são procedidas de grande contrição e caridade, tais como Santa Maria Madalena, que, em lágrimas de verdadeira contrição, lavou os pés do Senhor; e tento comprado o mais precioso perfume, derramou-o sobre Seus pés.

Em quarto lugar, as esmolas aumentam a confiança em Deus e produzem alegria espiritual; embora isto seja comum a outras obras de caridade, dá-se de modo particular com as esmolas, pois através delas prestasse um serviço especial a Deus e aos irmãos, e esta obra é claramente reconhecida como boa. Daí a palavra de Tobias: A esmola será para todos os que a praticam um motivo de grande confiança diante do Deus Altíssimo (Tb 4,12). E o apóstolo, na sua Epístola aos Hebreus, diz: Não percais esta convicção a que está vinculada uma grande recompensa (Hb 10, 35). São Cipriano, no Sermão sobre as Esmolas, a chama de "grande conforto dos fiéis".

Em quinto lugar, as esmolas conciliam a boa vontade de muitos que rezam por seus benfeitores e obtém para eles tanto a graça da conversão, ou o dom da perseverança, ou um aumento de méritos e glória. De todas estas maneiras devem ser compreendidas estas palavras do Nosso Senhor: fazei-vos amigos com a riqueza injusta, para que, no dia em que ela vos faltar, eles vos recebam nos tabernáculos eternos (Lc 16,9).

Em sexto lugar, as esmolas demonstram disposição para receber a graça da justificação. Deste fruto Salomão nos fala no livro dos Provérbios, onde afirma: É pela bondade e pela verdade que se expia a iniqüidade (Pv 16,6a). E quando Cristo ouviu falar da liberalidade de Zaqueu: Senhor, vou dar a metade dos meus bens aos pobres e, se tiver defraudado alguém, restituirei o quádruplo. Disse-lhe Jesus: Hoje entrou a salvação nesta casa (Lc 19, 9b-10a). Também lemos nos Atos dos Apóstolos o que foi dito à Cornélio, que ainda não era um cristão, mas deu grandes esmolas: As tuas orações e as tuas esmolas subiram à presença de Deus como uma oferta de lembrança (At 10,4). Deste ponto Santo Agostinho prova que Cornélio, pelas suas esmolas obteve de Deus a graça da fé e perfeita justificação.

Por fim, esmolas são um instrumento para aumentar os bens materiais. Isto afirma o homem inteligente: Quem se apieda do pobre empresta ao Senhor, que lhe restituirá o benefício (Pv 19,17). E também: O que dá ao pobre, não padecerá penúria (Pv 28,27). Jesus nos ensinou esta verdade pelo seu próprio exemplo, quando ordenou a seus discípulos que distribuíssem os cinco pães e dois peixes; em retorno receberam doze cestos, dos quais serviram-se por muitos dias. Tobias também distribui fartamente aos pobres e, em curto espaço de tempo, obteve grandez riquezas. A viúva de Sarepta, deu a Elias apenas um refeição e um pouco de óleo, obeteve de Deus por este ato de caridade, abundância de alimentos e óleo, que por longo tempo não terminaram. 

-- Do Livro A Arte de Morrer Bem, de São Roberto Belarmino, bispo (século XVIII) 

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