7 de jun. de 2011

Desígnio salvador de Deus

Deus, Senhor e Criador, que fez todas as coisas e as distinguiu segundo a sua ordem, não apenas demonstrou amar aos homens, também foi magnânimo com eles. Em verdade sempre foi assim, segue sendo e sempre será: benévolo, sem ira e verdadeiro: somente Ele é o verdadeiro bem. Havendo concebido um desígnio tão grande e inefável, comunicou-lhe somente ao seu Filho. Pois bem, enquanto sua vontade cheia de sabedoria mantinha-se em segredo,  parecia que Deus não se preocupava nem cuidava dos homens. Mas, depois que se revelou por meio de seu Filho amado e manifestou o que tinha preparado desde o princípio, nos deu tudo de uma vez, não apenas receber seus benefícios, mas também ouvir e compreender o que nenhum de nós jamais havia esperado.

A cruz circundada pela inscrição em latim: "In hoc signo vinces"
(Neste sinal serás vitorioso). Este símbolo foi utilizado por
 Constantino,  o primeiro imperador romano convertido ao
Cristianismo.
Assim, pois, tendo preparado tudo em si mesmo e com seu Filho, permitiu que nos guiássemos por nossos desordenados impulsos, sendo arrastados por prazeres e concupisciências. Não que tivesse, de alguma maneira, complacência com nossos pecados, porém lhes tolerava. Nem tão pouco aprovava aquele tempo de iniquidade, pois já ia preparando o tempo atual de justiça, para que, havendo nós caidos, convencidos por nossas próprias obras, envergonhados por nossas próprias obras de que somos indignos da vida, fomos feitos dignos da vida eterna pela bondade de Deus. Sendo patente que nós, por nossos méritos, não podemos entrar no Reino de Deus, Ele nos concede esta capacidade pelo poder deste mesmo Deus.
Quando nossa iniquidade chegou ao seu ápice e tornou-se plenamente manifesto que a paga que podíamos esperar era o castigo e a morte, chegou aquele momento que Deus havia disposto de antemão a partir do qual mostraria sua bondade e poder. Ó maravilhoso amor de Deus e benignidade para com os homens! Não nos odiou, não nos separou dEle, não guardou rancor, mas mostrou-se magnânimo, nos apoiou e compadecido carregou sobre si nossos próprios pecados. Ele mesmo entregou seu próprio Filho (Rm 8, 32) como resgate, o santo pelos pecadores, o inocente pelos malvados, o justo pelos injustos (1 Pe 3,18), o incorruptível pelos corrompidos, o imortal pelos mortais. Que outra coisa poderia cobrir nossos pecados, longe de sua justiça? Em quem poderíamos nós, malvados e ímpios, sermos justificados, senão somente no Filho de Deus? Ó doce troca! Ó obra insondável! Ó benefícios insuperáveis! A iniquidade de muitos foi sepultada por um justo apenas, a justiça de um bastou para justificar a muitos malvados.

Deste modo, sabendo Deus que por nossa própria natureza não éramos capazes de alcançar a vida e havendo agora mostrado o Salvador capaz de salvador o impossível, deseja que creiamos em sua bondade e o tenhamos como sustento, pai, mestre, conselheiro, médico, inteligência, luz, honra, glória, força e vida, sem que nos preocupemos com roupas ou comida.  Se desejas alcançar esta fé, procura primeiro alcançar o conhecimento do Pai. Porque Deus amou aos famintos, para os quais amou o mundo, a quem submeteu todas as coisas, a quem deu a razão e inteligência, os únicos a quem concedeu olhar para o alto para que Lhe possam ver, a quem modelou a sua própria imagem, a quem envio seu Filho unigênito (1Jo 4,9), a quem prometeu o reino dos céus, que dará àqueles que Lhe amarem.

Não tens idéia da alegria que terás quando chegares a alcançar este conhecimento ou do amor que podes sentir por aquele que primeiro te amou até tal extremo. E quando chegares a amar-Lhe, te converterás em imitador de sua bondade. Não te maravilhes de que o homem possa chegar a ser imitador de Deus; sim podes se assim desejar Deus. A felicidade não está em dominar tiranicamente o  próximo, nem estar sempre acima dos mais débeis, nem na riqueza, nem na violência contra os mais necessitados: nisto tudo não está o amor de Deus, tudo isto está longe de sua grandeza. Melhor faz aquele que toma sobre si a carga do próximo, de modo que o superior está disposto a fazer o bem ao seu inferior. Quem provê ao próximo o que recebeu de Deus, este é imitador de Deus.

Então, ainda morando na terra, poderás contemplar como Deus é o senhor dos céus; passarás a falar dos mistérios de Deus, amarás e admirarás aos que recebem castigo de morte por não negar a Deus; condenarás o engano e a perdição do mundo; conhecerás a verdadeira vida dos céus, chegarás a depreciar o que temos aqui por morte; temerás a morte verdadeira, reservada aos condenados ao fogo eterno que castigará até o fim os condenados. Quando tiveres conhecido o fogo eterno admirarás os que por causa da justiça suportam o fogo temporal e os terá por bem-aventurados.
-- Da Carta a Diogneto (século II). Aqui, para o texto completo em espanhol - tradução própria.

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