A primeira das três revelações teve lugar, ninguém pode duvidar, na festa de São João Evangelista, 27 de Dezembro de 1673. Foi no mesmo dia em trezentos e cinquenta e três anos antes, Santa Gertrudes compreendeu durante uma visão que se o amado discípulo não houvera dito nada sobre as sagradas pulsações do Sagrado Coração era porque Deus reservara para si mesmo falar sobre elas num momento em que o mundo começasse a esfriar na fé. O dia não poderia ser melhor escolhido para tal revelação. Disto temos testemunho escrito por Margarida Maria. Ela nos deixou um sentido completo para a vida.
"Certa vez", ela disse, "estando em frente ao Sagrado Sacramento por mais tempo que o habitual, senti-me completamente preenchida pela sua Divina Presença e tão poderosamente movida por isto que esqueci de mim mesma e do lugar que estava. Abandonei-me ao Divino Espírito e meu coração ao poder do Seu amor. Ele me fez descansar por um longo tempo no Seu Divino Corpo, de onde Ele descobriu as maravilhas do Seu amor e inexplicáveis segredos do Seu Sagrado Coração, que até então ele havia mantido escondido. Agora Ele abriu Seu Coração para mim, de uma maneira tão real e sensível que não deixou espaço para dúvidas, embora eu esteja sempre temerosa de me decepcionar".
Nós percebemos que foi neste momento que o Senhor mostrou Seu Coração para Margarida, que até ali estava como escondido. E é tal o caráter desta aparição e a impressão deixada, que a humilde virgem, ordinariamente tão tímida, tão incerta de si mesma não teve dúvida nenhuma. Jesus então falou; e acrescenta Margarida: "Isto é o que me parece que se passou. O Senhor disse para mim: Meu Divino Coração está tão apaixonado amando aos homens que não pode mais conter as chamas ardentes da Sua caridade. Ele precisa derramar este amor, manifestá-lo para os homens para enriquecê-los com os mais preciosos tesouros, que contem todas as graças que precisam para salvar-se da perdição. Eu escolhi a ti como pela ignorância e falta de confiança para realizar tão grande obra de tal modo que tudo possa ser feito por Mim".
Então, de acordo com as condições da primeira revelação, a nova devoção seria um grande esforço do Sagrado Coração de Jesus, apaixonadamente caindo de amores pelos homens e desejando a todo custo salvá-los do abismo da perdição. Até aquele momento, os meios ordinários haviam sido suficientes, mas devido ao triste estado do mundo, Jesus não podia mais conter as chamas da caridade em Seu Coração, com as quais deseja salvar todos os homens. Do seu lado transpassado, Seu Coração ansiava por revelar-se. Até ali havia mostrado a si mesmo apenas em clausuras para almas escolhidas, as fazendo acreditar profundamente no seu amor. Mas agora ele desejava mostrar-se a si mesmo para as multidões e revelar seus segredos, para que fosse bem sucedido na tarefa de derreter o gelo do coração do povo cristão. Este era o sentido da primeira aparição.
Jesus não disse nada mais para Margarida Maria, exceto que, para a realização de Seus projetos, Ele a usaria; não por sua fraqueza e ignorância, mas contando com elas para que tudo fosse feito de acordo com Sua vontade. Mas quando, como, de que maneira? O Senhor nada disse e Margarida Maria muito menos lhe perguntou.
No entanto, por tratar-se de uma questão de ministério público, o Senhor desejava deixar uma prova inquestionável da verdade do que se passara. Antes de desaparecer, Ele perguntou se ela desejava dar a Ele o seu coração. Mas deixemos ela mesma relatar:
"Ele pediu meu coração e supliquei a Ele que o levasse. Ele assim o fez e o colocou junto ao próprio Adorável Coração. Permitiu que eu o visse como sendo consumido em uma fornalha. Então o retirou de lá como uma chama flamejante na forma de coração, Ele o colocou no lugar de onde havia retirado meu coração, dizendo: Cuidado, minha amada, esta é uma preciosa prova do Meu amor. Eu coloquei neste coração uma pequena fagulha da mais ardente chama do Meu amor, para que sirva como teu coração e se consuma até o último momento. Até aqui carregas apenas o nome de minha escrava, de agora em diante serás conhecida como amada discípula do Meu Sagrado Coração".
É fácil imaginar os efeitos produzidos por tal favor em uma criatura já inflamada pelo divino amor. Ela disse: "após tão grande graça, que durou por tanto tempo, de tal modo que já não sabia se estava nos céus ou na terra, permaneci por muitos dias totalmente inflamada, totalmente inebriada. Estava tão fora de mim que somente me violentando eu conseguia murmurar uma palavra. Era necessário fazer um grande esforço para alimentar-me e fortalecer-me que estava exausta nos esforços para suportar meus sofrimentos".
Novamente ela foi conduzida a Madre Saumaise, mas mal conseguia pronunciar uma palavra: "Eu experimentei tão grande plenitude de Deus que não era capaz de expressar aos meus superiores como desejava". Em relação a suas irmãs, ela havia apenas experimentado uma única tentação, de jogar-se aos pés delas e confessar os pecados. "Teria sido de grande consolo para mim ter feito minha confissão geral em alta voz no refeitório, para que minhas irmãs soubessem as profundidades da minha corrupção, para que não atribuíssem a mim nada das graças que havia recebido".
Afora este sentimento de profunda humildade, o primeiro fruto da luminosa aparição, este sentimento que deve necessariamente tomar qualquer um que descanse nos braços do Salvador, pela maravilha, admiração e amor, deve brotar uma profunda humildade, Margarida preservou uma lembrança, uma uma inefável marca do amor divino. Ela não a carregava visvelmente, como São Francisco de Assis ou Santa Catarina de Sena, mas por toda a sua vida manteve uma invisível ferida no seu lado. "As dores desta ferida são tão preciosas para mim, fazem-me com que mantenha viva", ela disse. Este divino memorial não curou-se com o tempo, pois o Senhor o renovava a cada primeira sexta-feira do mês mostrando o Seu Coração. Ela disse: "O Sagrado Croação é mostrado a mim como um sol brilhante com uma luz, cujos raios caem diretamente no meu coração. E então sinto-me como inflamada por tal fogo que parece reduzir-me a cinzas".
Este foi o primeiro ato da tripla revelação do Sagrado Coração. Já se percebe, desde o princípio a inspiração de tal devoção, mas com qual beleza! Um Deus esquecido pelos homens, incapaz de desistir apesar de tal esquecimento, desprezado pelos homens, conteve sua ira, tentou calar a voz do Seu Amor, e novamente não sendo bem sucedido, incapaz de conter as chamas de Sua ardente caridade, incapaz de punir sua ingratas criaturas, Ele resolveu conquistá-los pela força de sua ternura, e para tal fim criou novas formas para demonstrar seu amor! Após os esplendores e benefício da criação, humilhou-se numa manjedoura. Desta seguiu-se os sofrimentos da Cruz; da Cruz, a Sagrada Eucaristia! Resta ainda algum esforço? Sim, por nós realiza o supremo esforço do Sagrado Coração! É sempre a mesma regra. Cada nova evidência da frieza do corçaão do homem resulta em Deus descendo a nós de forma a tocar nosso coração pois não consegue nos abandonar.
O dia seguinte a esta viva e indelével aparição, na qual Margarida compreendeu duas coisas; a primeira que Deus não pode mais conter os segredos de Seu Coração; a segunda que Ele poderia utilizá-la para revelá-los ao mundo - a vida de nossa santa retornou aos hábitos diários. Quase seis meses foram lhe permitidos para recuperar-se das profundas impressões e sentimentos - e ela muito necessitava deles. Seis meses de paz, recolhimento, silêncio, brilhante prograsso na humildade e amor de Deus! E então, no momento em que ela menos esperava, recebeu a segunda revelação! Mais penetrante, mais luminosa que a primeira, fez aionda uma mais profunda impressão na sua alma. Ela sentiu-se fraca devido a tão violenta emoção que lhe causou, tão fraca que pensou que poderia morrer.
-- Do Livro Revelações do Sagrado Coração de Jesus, do Bispo Emile Bougaud, sobre a vida de Santa Margarida Maria. O livro foi escrito em torno de 1850.
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